Mamãe idosa

Já com força escassa e com um olhar distante, os sentidos comprometidos, é capaz de ouvir sussurrar: " é muito lenta!", lamenta o acompanhante; Tenho pressa! coma rápido, tenho que ir. Apressa o passo, já adiantam-se os ponteiros das minhas horas. Sem tempo pra perder, sem hora pra para, com pressa de ouvir, com medo de não chegar. Naquele encontro, naquele bate papo, naquela reunião de novatos. Sem paciência, sem clemência, sem dor nem piedade. Não posso parar o tempo, não posso frear a dor, não posso esticar as rugas, nem devolver aos cabelos a cor.

Suas mãos trêmulas, sua voz enfraquecida, já sem vigor; viu, sentiu e experimentou, o abandono, o descaso, o desamor. Não é problema meu, não é problema teu, é problema de quem envelheceu.

De repente uma pausa, um silêncio! Uma ausência, um alívio. Ela não está entre nós! Que descanse em paz. Coroa de flores, com longos escritos de saudades eternas...saudades de que? De uma presença física, e uma ausência de presença, de carinho e de cuidados. Ausência de paciência, de empatia, de amor incondicional, de devoção a um coração arrebatado de amor e de silêncio, que durante toda a sua vida dedicou-se apenas a amar e cuidar de quem hoje a homenageia com flores fúnebres. Mãe Maria, mãe Gorete, mãe Lourdes...e tantas outras que apenas sofrem pelo abandono e arrogância de quem não tempo a perder, não tem amor pra desperdiçar, não tem carinho pra transcender, muito menos tem pra doar. E quando fecha os olhos para a grande noite, nada mais pode receber, senão homenagens tardias e lamentações carregadas de remorsos, por um cuidado que não teve, por um tempo que não quis perder.

Ame a Mãe jovem, cheia de vitalidade; Ame a mãe velha, enrugada e frágil, Ame...apenas ame! Flores fúnebres não são mais necessárias. Há um longo e vasto jardim no coração de cada uma que cuida, que ama e que "perde" tempo pra ganhar paz; pra arrancar um demorado sorriso, pra fazer cair uma saudosa lágrima de boas lembranças de um tempo de infância, de vigor e labor incansável; de cuidados noturnos, de cura das enfermidades, de chás misteriosos, de compressa milagrosa. Tempo de incontáveis mamadeiras, fraudas sujas, banhos perfumados e um olhar de carinho para quem acabara de dar à luz. "perder tempo para ouvir longas histórias de um tempo que não mais existe, de uma saudosa época, em que o filho pedia a bênção à mãe nas mais variadas horas do dia: Se saia de casa, "Bença Mãe! quando chegava, Bença Mãe! Quando terminava a refeição, "Bença Mãe! E quando ia dormir, lá do ultimo quarto ela ouvia o grito: Bença Mãe! E a todos os pedidos respondia devotamente e com esperança na voz: "Que Deus te abençoe!" Embora trazendo no corpo, as chagas causadas pela dor e paleo tempo e da labuta, contenta-se a umas poucas visitas, pouca conversa, quase nenhuma atenção. Mesmo assim, do fundo do coração, ela entrega cada um aos cuidados divinos, porque sabe que hora é chegada.

A todas as mães abandonadas em luxuosos ou simples abrigos, por quem deveria acolher e cuidar, mas por "falta de tempo e de espaço em suas casas e suas vidas" entregam suas preciosas progenitoras aos cuidados de estranhos; que mesmo tendo todo carinho e cuidado do mundo, não é a mesma coisa que recebê-lo de um filho.

Cuide de sua "Mãe Velha", lindos cabelos brancos, as belas rugas, os passos lentos mais sublimes, o sorriso mais sincero. Ame e cuide! "Perca tempo" pra ganhar mais tempinho junto dela.