É a mãe
 
 
Lá se vão muitos anos!
Eu era filho, virei pai e agora avô. Acho que não há mais nada para acontecer, que não seja curtir cada detalhe desses pequeninos maravilhosos que Deus nos enviou.
Dizem que os netos são a sobremesa do casamento. Eu acredito nisso também.
O tempo passou e vi minhas filhas tornarem-se mães e provarem a beleza de uma transformação maravilhosa concedida pelo Pai Eterno.
Ser mãe é algo divino e maravilhoso ... foram abençoadas.
Hoje, as observo dando aos filhos, os mesmos conselhos que receberam quando ainda eram crianças.
Fico só de longe observando, pra ver se entenderam bem e se vão repassar tudo da forma mais correta.
Às vezes a gente acaba dando um pitaco ... coisas de avô mesmo.
Nessa linha de raciocínio temporal, fujo de todo e qualquer pensamento exato para lembrar da minha mãe.
Ela não tinha um caderninho com diretrizes para seguir ... era tudo intuitivo mesmo.
Uma guerreira pequenina que tinha unhas de onça, que a transformavam em uma fera quando o assunto era a defesa dos filhos.
Lembro de alguns momentos de cumplicidade ao tentar ensinar-me a soltar pipas. Além de saber construí-las, debruçava-se sobre um monte de papeis finos e coloridos, desenhando e cortando modelos de cafifas, raias e morcegos, tudo isso com cola de arroz papa.
Ela as fazia com máxima destreza.
Os outros meninos da rua, boquiabertos, diziam: “-a sua mãe sabe fazer pipas?”.
Eu, com orgulho incontido, aproveitava o embalo e mostrava a latinha de cerol que ela acabara de preparar.
Anos depois, fiquei sabendo que ao invés de vidro moído, ela colocava na mistura, areia da praia. Talvez querendo me livrar de algum possível acidente.
Era assim que ela era. Não colocava nada em questão. Assumia e pronto.
Depois de algum tempo sem vê-la, pela distância que nos separava e, quando finalmente nos encontrávamos, ela me pedia pra tocar e cantar uma música de Antonio Marcos.
Era sempre a mesma canção, que ela ouvia de olhos fechados.
Assim era a minha mãe ... calma, tranquila e dona de uma alegria inabalável.
Quando ela se foi, durante um momento, pensei sobre o que seria de nós sem a sua presença. Depois, numa visão mais espiritual, cheguei à conclusão que ela pudesse ter sido designada, pelo Criador, a estar junta a outras famílias que precisassem da sua significativa presença ... é assim que os anjos fazem seus trabalhos.
Que Deus a mantenha perto de Si e que Ele possa ouvir suas histórias, recheadas de amor e carinho, que Ele mesmo tratou de ensinar-lhe.

Faço contas no tempo de poder lhe abraçar.
Me falta seu colo, seu carinho, seu ninar.
Mãe, que saudades! Quando esse dia virá?
Germano Ribeiro
Enviado por Germano Ribeiro em 09/05/2020
Reeditado em 25/05/2020
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