BALADA DA EMIGRAÇÃO
“À Catarina Salgueiro Maia”
Do meu País eu me apartei
Ao clarear da madrugada
E nas asas do Sonho busquei
A minha vida melhorada.
Não foi fácil a decisão
E parti um pouco à deriva,
Como não sou de dizer não
Fiz uma aposta decisiva.
Meu país nunca me ajudou
A criar um projecto seguro
E logo de mim se apossou
Um receio do meu futuro.
Porém, não estava sozinha,
Eu tinha dois filhos nos braços,
E a ideia que da alma me vinha
Era livrar-me de embaraços.
Nada para mim era segredo,
Co´a ajuda do meu companheiro
Agarrei-me ao trabalho sem medo
Esforçando-me o dia inteiro.
Lá longe, no seio da Europa
Cruzei-me com mais camaradas
E, laborando de vento-em-popa,
Ganhei vida em pequenos-nadas.
Eu fui servente em mil cafés
E, até, dama de companhia,
Corri mil sítios de lés-a-lés
Em toda e qualquer serventia.
Apesar dos estudos que tinha
Não receei qualquer profissão,
Ganhar a vida é que convinha
Dedicando-me com prontidão.
Sei bem que há gente complicada,
Sempre embrulhada em quezília,
E, como não volto a cara a nada,
É bom para mim e minha família.
Apesar de eu não ser rica
Vou ganhando o que preciso,
Ajudo os outros, e bem me fica
Sem que me perca em prejuízo.
Se volto um dia ao meu país?
Olhem, talvez sim, talvez não,
Cá dentro de mim algo me diz
Que um dia virá outra paixão!
Eu sinto-me qual andorinha
Que volta sempre com saudade,
Quero seguir minha estrelinha
Sempre ao calor da liberdade!
Frassino Machado
In OS FILHOS DA ESPERANÇA