R I A C H Ã O
Durval Carvalhal
No início adolescente, idos de 60, havia dois programas de auditório em Salvador: um na rádio Excelsior, perto da oficina mecânica do Liceu de Artes e Ofícios, centro histórico, onde eu trabalhava, e outro na rádio Sociedade, Rua Carlos Gomes.
Aos sábados, o trabalho acabava na oficina às 15horas. Depois do banho, eu ia para o programa de calouros na Excelsior; e outras vezes, ia para a rádio Sociedade, onde, depois dos calouros, apresentavam-se estrelas locais; uma delas era o sambista Riachão.
Era uma apresentação com doses de folclore, alegria e muito ritmo. Ele cantava, sambava, ria, brincava com os gestos, com o auditório, arrancando aplausos esfuziantes de uma plateia que saia leve e feliz, como se fosse tomada por uma catarse.
Depois do primário, matriculei-me no ginásio Edgar Santos no bairro do Garcia, perto da casa de Clemente Rodrigues, já iconizado como Riachão, que passava andando na porta do colégio sempre com o rosto em festa, cantando ou rindo furtivamente.
Com o perpassar do tempo, a Árvore Riachão foi crescendo, crescendo, ficando mais robusta, frondosa, cm raízes mais profundas e produzindo frutos doces, bem ao gosto popular, solidificando sua morada no coração baiano.
Muitas vezes, ele passava perto de mim e eu dizia:
- Diga Riachão!
E ele, com toda sua simplicidade e alegria, mostrava mais os dentes alvos, suspendia a mão e respondia:
- Olá garoto!
Mas a vida tem duas leis severas: Nada é eterno e cada macaco no seu galho. Por sua vontade, tinha folego para chegar aos 100 anos. Mas, quis o destino que na madrugada de 30 de março de 2020, aos 98 anos, o ícone Riachão fosse cantar noutro lugar, mais perto de Deus.
Adeus, Riachão! Grato pelo grande legado. Fique em paz!
Senhor Brasil: https://www.youtube.com/watch?v=pJAEiMNAvaE
Cada Macaco no seu galho: https://www.youtube.com/watch?v=8kpRSyIfv3w