DE CABEÇA PARA BAIXO*
*Á escritora e poetisa Cassia Caryne.
Vou ficar de cabeça para baixo,
pra ver se compreendo o mundo.
Dias estranhos tenho vivido,
nesse jardim de árvores e flores.
Ás vezes, sinto me confuso,
ao ponto de não saber o que sou.
Se sou despertador de passarinhos
ou a mãe das orquídeas perfumadas.
Aqui, nem sempre o sol brilha,
mas posso ouvir os sussurros da alma
que habita em meu interior aflito.
E de cabeça para baixo,
vejo com cara de paisagem,
que a vida é uma viagem,
regrada por gotinhas de felicidade.
Ah, saudade...
De cabeça para baixo,
ponho me a lembrar de tudo.
A família reunida dia de domingo.
A jabuticabeira e a doçura de seus frutos.
A ribanceira, a ponte, as amigas.
O garimpeiro de estrelas.
A costureira com a linha de pipa
bordando a borboleta.
Chove chuva, sem parar,
enquanto de cabeça para baixo,
quero ver crescer o amor
nesse fim de ano,
pois amar é decisão a ser tomada
e os contrários, que se afastem de mim.
Sinto dor e tenho fome...
Mas, venha, abrace me a gosto,
eu gosto de você, Índia,
e não posso deixar para trás
as historias do coração.
Tenho um coração teimoso,
que vive em um céu de estrelas,
desassossegadamente bailando invisível,
desde que fiquei de cabeça para baixo,
pra ver se compreendo o mundo,
nesses dias estranhos que tenho vivido,
por entre árvores e flores nesse jardim
que ás vezes me deixa tão confuso
ao ponto de não saber quem eu sou.
Moema (MG), 15 de abril de 2020.