Paricido

Primeiro a informação veio de Abuja, Nigéria, e me chegou por meio do confrade recantista William Santiago, a notícia da partida sentida e sofrida de nosso amigo comum, Paricido, em maio de 2016. Mas não se confirmou, a não ser quase três anos depois de penosa via-crucis.

Geraldo Aparecido brincou na minha rua nos meados daqueles anos cinquenta, cantou, pulou corda, jogou mariquinha, passou anel, e até quis pegar bonde com minha mana Bebel, sua colega de primário. Futebol, não jogou.

E no enfeitiçado povoado do Brumado, que deixei, fiel, ele sempre ficou, maduro precocemente, e um menino permanente. E de lá para Pitangui o que nos trazia eram notícias, permeadas dum ou doutro mimo, duma abóbora a uma galinha.

Na estação da coroação de Jesus - dos meninos - em junho de 57, subsequente àquele espetáculo luminoso que as meninas nos proporcionavam em maio, ele foi o primeiro a elevar a coroa a Jesus. Fê-lo com garbo e afinamento. Chegada a minha vez de trepar ao píncaro da glória, no terceiro dia, depois do Nivaldo Lúcio, a voz traiu-me. Prestativo, o rouxinol do Brumado compareceu quando chamado. Joselito o aplaudiria.

Seu maior gosto, contudo, seria - imagino - cantar na coroação de maio, de Maria e das meninas. Era um anjo, que se recusava a ser marmanjo.

Embora nos distanciássemos cada vez mais ao longo dos anos, Paricido manteve-se preso ao torrão natal. Contava e vivia histórias fabulosas e até inventou um palácio de cristal para a mana Bebel, mas nem o botou no papel.

Da derradeira vez que o vi, vitimado havia anos por um avc, primogênito de uma devotada irmandade, Paricido, conquanto silente, inda sorriu, e, manualmente, esboçou um adeus.

Paulo Miranda
Enviado por Paulo Miranda em 08/04/2020
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