A MULHER MAIS LINDA DO MUNDO.

E POR ESTARMOS NO MÊS DAS MULHERES...

Nem Sophia Loren, Cláudia Cardinale ou Elisabeth Taylor. Não, não, nada disso ...Muito menos Gina Lolobrigida, Sarita Montiel, Belinda Lee. Ou tampouco Natalie Wood, Raquel Welch, Kim Novak, Jayne Mansfield.

Sophia deixava-me extasiado por conta de seus lábios carnudos. Elisabeth fascinava-me devido aos lindos olhos. Sarita e sua pele morena, fazia-me sonhar. Jayne com seu corpo colossal e seios fartos, um verdadeiro vulcão de sensualidade. Kim, Natalie, Cláudia e Gina completavam um time de mulheres que todo homem inteligente gostaria de ter.

No auge de meus 10 anos de idade, ia todos os domingos às matinês de um velho cinema próximo de minha casa e maravilhava-me com todas, porém Belinda Lee que, sinceramente, não era tão conhecida quanto às demais, foi por quem fiquei apaixonado: alta, olhar penetrante, andar firme, face angelical, normalmente atuava em filmes acerca de histórias do exército romano. Uma verdadeira Deusa. A partir de Belinda, passei a Amar as Louras. Essas Divas, segundo consta, nunca precisaram tirar suas roupas para ficarem famosas. Bastou-lhes talentos e belos rostos. Entretanto, nenhuma delas foram consideradas por mim a mais linda.

A Mulher Mais Linda do Mundo nasceu em Recife, Pernambuco, no bairro de Casa Amarela, no dia 17 de agosto de 1907. Criada pela madrasta, lamentou várias vezes por não lembrar-se de sua mãe, que falecera quando ela ainda era muito pequena. Nem um retrato havia. O pai viveu por cerca de 110 anos, era um caboclo sábio e quando tinha que chamar os filhos à atenção, aplicava-lhes um duro sermão que, segundo ela, era pior do que uma surra. Trabalhou em uma camisaria cujo dono, Seu Agostinho, usava sapatos " à prova de barulho " , para surpreender as funcionárias, caso estivessem conversando. Contava que ao subir no bonde para ir trabalhar, o cobrador dizia-lhe que a sua passagem já estava paga por aquele rapaz de terno, gravata, chapéu e bengala (vestimentas da época). Ele, na verdade, queria namorá-la e esta era uma maneira de cortejá-la e tentar uma aproximação.

Casou-se com ele, por volta de 1935, ainda no Recife. Tiveram o primeiro filho e vieram tentar sorte melhor no Rio de Janeiro. Outros filhos nasceram, num total de 7, mas as coisas não estavam fáceis. Para ajudar o marido, costurava 50 bolsas por dia. Com garra e enfrentando contratempos, pois a máquina às vezes apresentava problemas, ia sobrepujando os obstáculos. Sua vida era trabalhar muito, cuidar da casa, dos filhos e do esposo que sempre que chegava em casa, encontrava-a arrumada e o jantar pronto. Houve uma época, aqui no Rio, por volta do início dos anos 60, a falta de determinados alimentos considerados básicos na mesa da família brasileira. Para adquiri-los, ela enfrentava filas e muita confusão diante dos caminhões que vendiam os referidos alimentos. Quando nasceu seu último filho, já estava com 42 anos de idade. Foi um parto difícil, todavia enfrentou tudo com muita coragem. Certa feita levou um grande tombo e quebrou os dois braços. Resultado: as filhas tinham que dar-lhe comida. Foi uma verdadeira tortura. Ficou viúva aos 70 anos de idade e preferiu continuar com os filhos, ao invés de tentar um outro relacionamento, mas o tempo não pára. A idade foi chegando e sua força e ímpeto iam diminuindo. Com a idade mais avançada, passou a depender daqueles que lhe deram tanto trabalho para criar.

A Mulher Mais Linda do Mundo, saiu dessa vida no dia 15 de janeiro de 2005, aos 97 anos e 5 meses de idade. Seu espírito alçou um voo muito alto, deixando aquele corpo fragilizado pelas lutas árduas, indo de encontro ao Criador. Passei uma noite com ela, já em coma, na emergência de um hospital público aqui no Rio, no bairro de Campo Grande, onde permaneceu ali por 4 dias.

Para OS COLEGAS que ainda as têm, digam-lhes que elas são as Mulheres de Suas Vidas. As suas Mulheres Mais Lindas do Mundo. Que elas são indispensáveis para vocês. Para AS COLEGAS da mesma forma, que elas são as suas MELHORES AMIGAS. Ponham as suas cabeças em seus respectivos colos, voltem a ser crianças. Elas gostam disso. Confiem-lhes os seus segredos. Quanto a mim, fico com as recordações do meu convívio com ela, indo ao campo de futebol chamar-me porque já estava na hora de eu ir para a escola, ou indo na hora do meu recreio levar um prato de mingau, ou recomendando-me para ir ao armazém comprar algo para fazer a comida e que fosse um pé lá e outro pé cá, ou que eu levasse agasalho quando saía a passear, ou acordando-me às 5 da manhã para ir trabalhar na fábrica, ou que eu chegasse cedo da casa da namorada, pois segunda-feira era dia de trabalho e tantas coisas mais.

De repente, vem-me à lembrança trechos de uma música dos anos 50, gravada por Angela Maria, a querida Sapoti:

“Eu te lembro o chinelo na mão

O avental todo sujo de ovo

Se eu pudesse eu queria outra vez

M A M Ã E

Começar tudo, tudo de novo ..."

O Pássaro de Fogo
Enviado por O Pássaro de Fogo em 11/03/2020
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