A LEMBRANÇA

Quando alguém que amamos , queremos bem , seja um parente , conhecido ou amigo , deixa o campo terrestre da existência , fica a saudade e , principalmente , as lembranças: essas a terra não come.

A lembrança mais marcante que tenho de Ti Gerson é dele sentadinho numa cadeira ao lado de Tia Geni , em frente a casa deles. Toda vez que passava naquela rua , geralmente indo para a casa de Silvinho , lá estavam ,acompanhado ou de seus filhos , netos, amigos , vizinhos; e as vezes , somente os dois. Eu acenava a mão direita e dizia “ bença tio , bença tia “ , e antes mesmo de perguntar como eles estavam , tão rápidos como meus passos , eram eles quem diziam :

Tia : Vamos chegar . Convidando – me para sentar com eles.

Tio : Como ta pai mas mãe ? perguntando sobre o estado de meus pais.

Eu respondia que estavam bem , e prometia voltar outra hora. E era sempre assim. Uma ou duas vezes fui dar a benção apertando – lhe as mãos e ficava proseando, ainda que rapidamente.

Hoje a tarde , no cemitério , enquanto o pedreiro ( coveiro ) fazia o seu ofício e as mulheres entoavam um canto de despedida , lembrei da cena que sempre vou ter comigo : dele , sentado numa cadeira , na calçada da sua casa , sem camisa , esperando o momento certo para levantar uma das mãos e cumprimentar as pessoas , e com apenas uma pergunta – no meu caso - demonstrar interesse por àqueles que ele tinha um apreço.

Da próxima vez que eu passar naquela rua e olhar para a calçada, com ou sem cadeira , e ver que falta alguém , provavelmente, a primeira pergunta que farei a mim mesmo, será :

- Como ta Ti Gerson ?

E eu mesmo, na ausência de gestos e palavras, responderei :

- Tá com Deus !

Ninguém morre quando deixa uma lembrança na nossa mente e saudades em nossos corações .

Rafa Garapa
Enviado por Rafa Garapa em 05/03/2020
Reeditado em 05/03/2020
Código do texto: T6881237
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