O VELÓRIO*
Ah! Morena.
Se você soubesse,
como dói essa solidão.
A saudade que sinto de você,
vem sempre me apertar,
com o abraço doido
derramando o pranto meu.
Ó que incompreendida vida,
é essa minha.
Vivo a sombra de passarinho,
que se alimenta da mesma fruta madura,
que um dia alimentou o sonho meu.
O mensageiro do vento,
veio a porta de minha casa
avisar a chuva de verão.
Olhei a lua com a gentileza de sempre.
Preparei a terra, lá na casa velha da roça,
para plantar e colher com abundancia.
A chuva choveu, mas a colheita não foi boa.
Os pardais fizeram o favor de destruir tudo.
Ah! Morena.
Se você soubesse,
como dói essa solidão.
Olhe para o céu
e as Três Marias decerto
lhe dirão do meu sofrer.
O namoro que tivemos,
fez de mim o poeta que hoje sou.
Trago no coração a voz de passarinho,
pois a cantoria é remédio.
É uma droga que cai lentamente
em meu sangue, tirando me a mágoa
e devolvendo me o sorriso e a felicidade.
A borboleta azul voltou a pousar,
sobre os gerânios de nossas janelas.
E isso me trouxe novamente a fé,
de que terei teu merecimento.
E para esse natal e ano novo,
fiz o garimpo em minha vida.
Descartei tudo que a mim, era de ruim.
E para lhe presentear,
comprei lhe os livros: Haikai de Natal
e Haikai da Despedida.
Também não me esqueci das miçangas,
nem tampouco o colar de pérolas
que você sempre sonhou.
E enquanto espero a sua volta,
fico aqui observando os netos dos vizinhos
a brincar com o Gato Toy,
na entrada do velório,
onde um desconhecido brada por silêncio
e respeito ao morto que dorme tranquilo.
*Esse texto foi composto, usando todos os 50 títulos, já publicados até hoje, dia 18 de janeiro de 2020 no Recanto das Letras, pela escritora e poetisa, Cassia Caryne.
Perdigão (MG) 18 de janeiro de 2020.