Mãe, o que a falta faz.

E, de repente, aquele cheiro, lembranças, sensações, recordações. Um desencadeamento de processos que mexem, transbordam, libertam, apertam.

No fogão aquela receita que é bem sua, das ocasiões especiais, para pessoas especiais. Hoje eu a faço na esperança de ter você um pouco mais perto de mim. É a tentativa de quebrar a distância, que minhas escolhas me levaram a vivenciar. Sensações olfativas que carregam emoções, que proporcionam um olhar para si, para os outros e, ao tempo que mata a saudade, faz ela aumentar.

Infância e vida adulta se misturam, fazem parte de mim, me constituem. A saudade também faz parte. Tem dias que ela judia demais e se materializa em lágrimas.

A falta. O abraço. O colo. As palavras. Os diálogos. A presença. Os cochicos. Os gritos. Os risos. Os sabores. Os odores. Os amores... Como faz falta!

Mãe, o tempo e os meus pensamentos sabem como esse afeto me move. Ele penetra meus poros, aquece minha pele, traz ar aos meus pulmões.

Hoje não vou te ligar. A falta está grande demais e eu vou chorar. Meu choro hoje é preocupação pra ti. Te pouparei. Já tens se preocupado tanto.

Eu te agradeço, por ser quem és. Por aguentar tudo que aguentartes. Por lutar todas as batalhas cotidianas ao longo desses anos.

A imagem de Mãe é aquele de quem tira do próprio prato e distribui entre os/as filhos/as, para não deixar a falta e/ou o pouco vencer.