GRATITUDE

Ah?

Ah!

à

e então antes que 2019 feche a sua porta eis que eu recebo uma lufada de aragem fresca. E, sim, dai eu que já estava de saída encontro mais um tempo nos becos desse tempo que tem estado tão escuso. E, digo que sigo, como segui e seguirei escrevendo nos muros, nas pontes, nas pedras e nas paredes, e talvez, talvez alguém encontre alguma serventia nas bobagens que eu digo ou penso que digo.

MEMÓRIAS VERMELHAS E INSPIRADORAS

___________________________________

O tempo gasta a todos nós, vai nos roendo por necessidade, caso contrário, seu dente cresce e ele se torna visível para ser cuspido na sua cara eterna. Dele, o passado guarda as memórias e as vergonhas, coisas construídas no relevo e na mente que causaram riso e dor no esquadro do mundo. O presente é broto de abóbora, cresce veloz e atômico, instável demais para se manter em sua natureza. O futuro é como uma esperança invisível, precisa ser formado desde o osso, pra quando nascer e virar o presente, possa subverter sua instabilidade e produzir mais memórias do que vergonhas. O que nos falta, serpente, é discernimento pra compreender, e então saber que, por termos noção do tempo, e portanto do passado, do presente e do futuro, nossa responsabilidade é onisciente. A igualdade é uma ilusão, uma busca porosa que em sua covalência não consegue estabelecer cadeias de ferro. Todavia, ela nos inspira à elevação de que o futuro possa ser uma esperança visível, o presente um broto que possa crescer mais lentamente, e portanto mais sólido, e o passado possa ser composto mais de memórias do que de vergonhas. Quanto as memórias, falo aqui das pessoas, não da história, pois, quando o quantum das nossas vidas vira ciência, a poesia busca um novo poeta. O trabalhador, por causa da sua natureza, assim como é Deus, sua labuta vira coisa de uso e apropriação. Fica, então, no tempo atual, legitimado nos versos dos poetas lá do passado, a incerteza de como ele continuará sendo apropriado. Se pelas esquerdas ou direitas, tanto faz, pois, resta como. Deixo um abraço pra minha mentora, embora eu tenha me afastado, você é memória, é broto, visível e estável.

_____________________________

ao poeta EDIONDO

||A saudade tem cor e cheiro

Que saudades... Lembro exatamente de cada instante, de cada momento, de cada parte deste dia e de todos os dias das palavras escritas, ditas, sentidas, entalhadas no talhe de cada manhã, noites, madrugadas e entardeceres. Que alegria revê-lo. Lembro qual foi também o ultimo poema/letra lido (lida) e a emoção de cada troca recebida/emitida/sentida, e em que eu me sentia feliz da vida quando você vinha porque eu sabia que eu não ficaria de mãos vazias. Não, e não, eu não pedirei desculpas por ausência alguma porque o tempo nada é, e não pedirei desculpas a quem sempre deixou-me com as mãos cheias. Que saudade imensa desses nós dois ao dizer! Porque partindo ela (a tua letra), a tua, a minha eu estou também muito mais distante do que eu pensava que eu sabia, e tudo o que eu sabia ou continuo não sabendo (eu sei agora que eu nada sei), e isso não, não e jamais, esqueci, não foi desejo meu essa lonjura de dias, mas condição da vida imposta etc, etc, etc, ou das letras bebidas ou roubadas pelo caminho por algum fantasma faminto ou ladrão do tempo que levou aquele tempo, mas o que é o ontem?

Eu sei que você sabe que assim como tu, eu gosto das ciências políticas, da filosofia, da história, da física, do rock, da boa música, e quem tem a dizer e a nos dizer o que precisamos escutar e agora querido Ediondo, vivemos tempos tão cegos, tão surdos e tão tortos e mudos, e diante de tantos espasmos e vômitos e pedras carregadas parece tão doente e está tão doente o dizer que eu já nem sabia o que não sabia e agora nem sei o que dizer e nem se eu quero dizer. Eu sei que você sabe que eu falo sozinha e o que posto é quase sempre uma fala muda e despretensiosa que alguém vá perder algum tempo pra ler, porque você é assim de falar contigo mesmo, tu sabe que também falo com esse outro eu e com esse outro tu que é tu/e sou eu diante dos meus (espelhos) e nem sempre ou quase nunca vejo-me, mas tu, tu diz que vê e diz pra mim o que eu não consigo me dizer. É meu querido, vivemos nesse tempo tão conectado e ao mesmo tempo tão mudo. Eu também sei que tu já sabes que a língua do Deus que eu falo é a língua do Deus das montanhas, das brisas, das águas, de todos os sóis e das vastidões, a língua das florestas, dos silêncios e noites, das estrelas e das chuvas e tempestades. Sei que compreendes bem que o Deus que eu digo está além de alguma agremiação ou rebanhos teleguiados, comandados, organizados e enfileirados e então meu querido, eu compreendo, é muito fácil atirar pedras naquilo que pensamos ver. Sei que sabes que sou avessa às concordâncias e améns. E então obrigada por ver e me deixar também olhar pra você, obrigada por me respeitar nesse turbilhão de liquidificador das coisas que eu penso que digo, eu sempre te disse que tu é um artesão de emoções, e tuas obras estão entalhadas no melhor estofo do olimpo de todos os deuses. Ediondo, artesão de profissão e poeta pelas emoções. Entre uma invenção e outra ele sai de Estancia Velha – Rio Grande do Sul para o mundo. Um poeta de contos, crônicas, poesias, pensamentos, prosa poética. Um poeta e a sua outra visão. A visão da moça estrangeira; dos meninos de Aleppo; das estradas de outono, do outro jeito de nascer, da menina e de todas as meninas de ir, da descoberta, da plenitude e do encontro. Um poeta para as metamorfoses femininas e sim, um poeta para maiores de dezoito, e não, não é para o tamanho de qualquer altura. Um poeta/poema conto, um conto para o mundo, um conto interrogativo e não conte pra ninguém sobre o guri, sobre o homem e o mundo, sobre o cidadão. Ah, Ediondo! Não conte nada sobre o nós, sobre o eu e o tu, sobre o você, não conte nada sobre o todos nós que só alguns especiais como tu conseguem ver.

E a crônica da alma na primavera? Um contador de causos da infância. Lembra da Eulália que tu me contou? Eu lembro, lembro do trato, da visita, e da poesia. O menino cresceu, e entalhou em três espíritos a sua poesia. O resto, o resto fica entre o céu e o inferno, entre as serpentes e as mariposas copistas. O poeta é um homem e as estrelas não souberam dizer da sinceridade das abelhas, mas ele não desistiu, ele seguiu. O poeta buscou e busca a palavra certa para tempos modernos, sabe que esse é o caminho para a paz. O caminho de entender o entendimento entre o feio e o bonito, entre a direita e a esquerda e sabe que o sinônimo disso é luta, sabe ele que em tempos de ódio, onde o verbo é réu o amor é caminho. O alter ego fica em qualquer lugar onde não se pode ver, esse é meio termo, o meio dia, e o sal da terra é a parte um, e independente de Aqueronte, a felicidade depois de tudo e quem quiser ver, buscar uma ideia entre o poeta e a busca encontra-o aqui nesta avenida de letras e em outras paragens por ai, em algum lugar mundo afora.

Você que uma vez ou outra empresta-me tuas letras pra eu picar;

Você que permite-me que eu te abrace com meus anéis através de poemas e versos;

Você que desperta em mim o melhor e a melhor parte e eu até acredito mesmo secretamente que sou inteira;

Tuas letras fazem-me serena mesmo neste mundo de empáfia;

Quando tu vens eu saio do meu desassossego e me arrasto para um tempo de expressões claras e sem fim e mesmo que saiba (e sei) que eu não mereça boas palavras tu as me dá.

E nesse mundo de trololós descartáveis eu me sei inteira diante de tão belas e grandes palavras tuas.

Obrigada por permitir-me arrastar-me para tua sala de etéreos dizeres,

Por esquecer a chave comigo e por lembrar-me quem eu sou nessa avenida de letras.

Eu nada sou, mas tuas letras pra mim são expressão sem fim.

Serpente Angel
Enviado por Serpente Angel em 30/12/2019
Reeditado em 31/12/2019
Código do texto: T6830231
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2019. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.