AS CORRENTES DE ANASTÁCIA.
Os tornozelos e punhos,
o pescoço em correntes,
vedada a boca já sem fala,
Anastácia, beleza negra tão reluzente.
O tronco duro faltando lasca,
de tanto a cor ganhar chibata,
no sangue perdeu-se,
jóia negra, raríssima flor que com amor
esvesvaeceu-se.
Do teu sonho em jardim,
liberdade que em perfume exala,
porém não mais que da tua fala,
como mãe tivestes a fria e sombria a senzala.
Em trapos sujos e descalça,
o céu te é aberto e tua face não é falsa,
esse céu acima mostra ter sede,
bendita tu sejas, com os teus meigos olhos de natureza,
pois bebestes dela tudo que há de verde.
Ave Anastácia,
Ave carpideira,
e no pranto que tu derramas,
é o sangue de uma raça inteira.
Anastácia das correntes,
negra dos olhos verdes,
seja como bem entenderdes,
és mulher de ventre livre,
e para todos a genitora sublime,
verdade escrava da liberdade,
contra o fardo que nos oprime,
Marcelo Caetano Monteiro.