AS CORRENTES DE ANASTÁCIA.

Os tornozelos e punhos,

o pescoço em correntes,

vedada a boca já sem fala,

Anastácia, beleza negra tão reluzente.

O tronco duro faltando lasca,

de tanto a cor ganhar chibata,

no sangue perdeu-se,

jóia negra, raríssima flor que com amor

esvesvaeceu-se.

Do teu sonho em jardim,

liberdade que em perfume exala,

porém não mais que da tua fala,

como mãe tivestes a fria e sombria a senzala.

Em trapos sujos e descalça,

o céu te é aberto e tua face não é falsa,

esse céu acima mostra ter sede,

bendita tu sejas, com os teus meigos olhos de natureza,

pois bebestes dela tudo que há de verde.

Ave Anastácia,

Ave carpideira,

e no pranto que tu derramas,

é o sangue de uma raça inteira.

Anastácia das correntes,

negra dos olhos verdes,

seja como bem entenderdes,

és mulher de ventre livre,

e para todos a genitora sublime,

verdade escrava da liberdade,

contra o fardo que nos oprime,

Marcelo Caetano Monteiro.

Pio Joseph Beuvoir
Enviado por Pio Joseph Beuvoir em 28/11/2019
Código do texto: T6806061
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