QUANDO EU ME APOSENTAR...
Prólogo
DEDICADO A NÓS IDOSOS
O conhecimento torna a alma jovem e diminui a amargura da velhice...
Quero dedicar este texto a todos os meus semelhantes que já passaram dos 65 anos de idade! Concito-os a colherem a sabedoria porque, como sabemos, o refinamento sociocultural armazena suavidade, conhecimento e experiência para o amanhã.
Não tenhamos dúvida: A arte de envelhecer é encontrar pela busca determinada, tal qual conquistador intimorato, persistente, incansável, o prazer que todas as idades proporcionam, pois têm essas frutuosas vivências as suas notáveis virtudes.
Neste ano de 2019 estou com 70 (setenta) anos! Nos planos: Físico, espiritual e emocional não sinto esta idade. Estou envelhecendo, mas não me queixo, pois só os loucos se lamentam de envelhecer. É certo que cometi pequenos deslizes no afã da adolescência caracterizada pela irreverência própria da pouca idade, descaso plenamente justificado. Todavia, hoje dou risadas ao vivenciar em devaneios esse pretérito marcante pela provação terrena que ora vivencio.
Por acreditar que a complacência engendra os amigos, a verdade o ódio, e que a exacerbada tolerância faz deslizar os entes e assemelhados em direção ao abismo, sempre evito tanto ser categórico na advertência, quando a oportunidade me autoriza, quanto injurioso ou severo na repreensão. Claro que isto facilita, sobremaneira, o entendimento da concupiscência, raiz e seminário de todos os males humanos.
QUANDO EU ME APOSENTAR...
Quando eu me aposentar... Ficarei livre de alguns juízes (Há exceções) mal-educados, neuróticos, prepotentes e presunçosos; quase sempre acometidos de "juizite" aguda; que chegam atrasados para as audiências e em seus insólitos e insossos despachos são, quase sempre, simplistas monotemáticos e quando sentenciam fazem confusão entre as expressões latinas "ex nunc" e "ex tunc".
Quando eu me aposentar... Pois ainda advogo e presto consultoria jurídica a advogados neófitos, embora esteja no conforto de me permitir ser seletivo quanto aos objetos das causas judicializadas e caracteres desses clientes, serei mais condescendente com os agentes públicos (municipais, estaduais e federais) que desconhecem como proceder diante de uma ordem de prisão e suas formas legais ou no cumprimento de uma busca e apreensão ou ordem de despejo.
Quando eu me aposentar... Quero substituir o prazer de urdir recursos complexos e petições iniciais básicas pela satisfação, compreensão, tolerância, calma, companheirismo; terei mais tempo para ver bons filmes; fazer pesquisas e leituras diversificadas; viajar por locais diversos planejados e ainda não perpetrados.
Quando eu me aposentar... Sem clientes estressados, que não têm dinheiro e/ou razão para a consecução dos seus propósitos, terei mais tempo para fazer passeios com a rainha mãe e princesa filha, com meus netos e bisnetos, estudando sublimes e proficientes projetos.
CONCLUSÃO
As melhores armas para a velhice são o conhecimento e a prática das virtudes. Cultivados em qualquer idade, eles dão frutos soberbos, no término de uma existência bem vivida. Por isso, quando eu me aposentar...
Quero viver uma sexualidade plena e responsável, sem as mesquinharias provocadas pelas injúrias, ressentimentos, ofensas danosas provocadas pelo ciúme e descontroles emocionais. Ah! O tempo passa depressa... Faltam apenas 20 anos para eu me aposentar do sacerdócio da advocacia e outras paixões carnais.
Todos devemos acreditar e aceitar que no dia a dia, com o passar do tempo, a pele se enruga, a libido desaparece, a tolerância diminui demasiadamente, a irascibilidade se evidencia, o cabelo embranquece, os minutos convertem-se em horas e os dias em anos.
Mas o que é importante, por isso faz a grande diferença, não precisa mudar porque o amor, o altruísmo e a dignidade; a determinação, o caráter ilibado e a benevolência; a cooperação, a indulgência, principalmente com as irreverências, arroubos e leviandades dos mais jovens; a esperança, o denodo e a convicção não têm idade.