Raul Seixas Ainda É Uma Lenda
O persistente culto à memória, à obra e à ideologia de Raul Santos Seixas (28 de junho de 1945 – 21 de agosto de 1989). Sim, Raul Seixas vive!
A morte do artista baiano completa 30 anos nesta quarta-feira, 21 de agosto de 2019. Ao sair de cena na cidade de São Paulo (SP), dias após lançar A panela do diabo (1989), álbum gravado com o discípulo Marcelo Nova, o Maluco Beleza já debilitado fisicamente e, justamente por conta dos problemas de saúde, já amargava declínio na trajetória artística, ainda que tenha gravado discos com regularidade de 1971 a 1989.
Ao morrer, Raul Seixas deixou, além da obra original, uma ideologia. O nome do cantor e compositor permanece envolvido em aura mitológica 30 anos após a morte de Raul.
Roqueiro brasileiro que idolatrava tanto o seminal Elvis Presley (1935 – 1977) quanto o patrício Luiz Gonzaga (1912 – 1989), rei da nação musical nordestina que saiu de cena em agosto de 1989, Raul Seixas deu identidade nacional ao rock, expondo afinidades do gênero com o baião, para citar somente um exemplo de alquimia sonora.
Raul debutou sozinho no mercado fonográfico em 1973 com álbum solo que ousava cruzar o rock até com estilizado ponto afro-brasileiro na música Mosca na sopa (Raul Seixas, 1973).
Raul Seixas foi politizado, metafísico, filósofo, idealista e irônico. Todas essas faces do complexo artista estão entranhadas em cancioneiro autoral que, a partir do álbum O dia em que a terra parou (1977), começou a soar mais irregular.
Ainda assim, os acertos eventuais – como Aluga-se (1980), corrosivo rock do álbum Abre-te Sésamo (1980), e como Cowboy fora da lei (1987), ambas músicas assinadas pelo compositor com o parceiro carioca Cláudio Roberto, também coautor do hino Maluco beleza (1977) – contribuíram para a idolatria em torno do nome de Raul Seixas, ainda em vida e sobretudo após a morte do artista.
Raul Seixas é tão lenda em 2019 que duas biografias – Raul Seixas – Por trás das canções e Raul Seixas – Não diga que a canção está perdida, escritas pelos jornalistas Carlos Minuano e Jotabê Medeiros, respectivamente – chegam ao mercado literário neste segundo semestre do ano para tentar jogar alguma nova luz sobre a vida e a obra do artista.
Atentos às histórias que vieram realimentando o culto ao cantor ao longo desses 30 anos, os seguidores de Raul Seixas ainda se renovam pelos canais da internet. O que talvez explique, em parte, a força da lenda.
Não tivesse morrido em 1989, Raul Seixas talvez tivesse tido a chance de festejar 74 anos de vida em 28 de junho de 2019. Idade inferior à do público que o cultua e que grita "Toca Raul!" nos shows de artistas de vários estilos. É por isso que, nesse caso, o clichê é verdadeiro: Raul Santos Seixas vive!