Portuguesa Do Céu Ao Inferno
Do céu ao inferno em 159 dias: esse foi o caminho percorrido pela Portuguesa do fim do ano passado até a última rodada do Campeonato Paulista de 2012. Campeã brasileira da Série B como “Barcelusa”, por conta do estilo técnico de jogo, a equipe foi derrotada por 4 a 2 pelo Mirassol neste domingo, fora de casa, e acabou rebaixada à segunda divisão estadual.
A combinação de outros resultados mantinha a Lusa na elite até os 43 minutos do segundo tempo da partida entre Botafogo de Ribeirão Preto e Guarani. A Pantera, que estava na zona de rebaixamento, fez seu segundo gol contra o Bugre e ultrapassou os rubro-verdes na tabela de classificação.
Os jogadores da Portuguesa não falaram com a imprensa após a tragédia em Mirassol. O goleiro Wéverton, que está de saída do clube, foi exceção. Alguns, como o volante Boquita e o atacante Danilo, permaneceram no gramado por alguns minutos, chorando a queda. A Lusa disputará a Série A-2 ao lado de Comercial, Catanduvense e Guaratinguetá em 2013.
A equipe paulistana fez de tudo ao longo da semana: fechou os treinos à imprensa, trabalhou mais forte, mas de nada adiantou. A vitória por 4 a 0 sobre o Juventude, que levou a Rubro-verde às oitavas de final da Copa do Brasil e aumentou a esperança da torcida, não foi o suficiente para elevar a confiança da equipe e evitar a tão temida degola.
O técnico Jorginho, que ganhou voto de confiança da diretoria e defendeu o elenco ao longo da competição, tem o cargo ameaçado. Embora o presidente Manuel da Lupa tenha eximido o treinador de culpa pelo desempenho no estadual, a Portuguesa inicia a preparação para o retorno à elite nacional da maneira que menos esperava: em crise e com realidade financeira limitada para reforçar o plantel.
– Não teve nada interno. Mesmo porque se tivesse algum problema com relação aos jogadores por exemplo , eu largava. São bons jogadores, pessoas muito boas, mas infelizmente não conseguiram (evitar o rebaixamento) – lamentou o técnico após a derrota para o Mirassol.
Contraste e falta de planejamento
Em 2011, a Lusa chegou a sustentar 22 jogos de invencibilidade. Foi líder da Série B em 32 das 38 rodadas e conquistou seu primeiro título nacional da história. Campeã com 17 pontos de vantagem para o vice Náutico, conquistou o acesso a seis rodadas do fim da competição e o título a três, com Canindé cheio - 12.829 pessoas viram a festa da conquista.
Por tudo isso, o time iniciou o Campeonato Paulista deste ano como favorita a disputar o mata-mata. Na pré-temporada, chegou a vencer o Corinthians por 1 a 0, em jogo festivo, ganhando o Troféu Doutor Sócrates. De nada adiantou, e o sonho rubro-verde tornou-se um pesadelo.
A realidade, agora, é de puro contraste. Embora esteja nas oitavas de final da Copa do Brasil, a Portuguesa não atrai mais seus torcedores para o Canindé. Nos dois jogos em casa pela competição nacional, públicos de 987 e 719 pagantes, contra Cuiabá-MT e Juventude, respectivamente.
A saída de parte dos principais jogadores lusitanos em 2011, como o meia Marco Antônio e o atacante Edno, considerados os “pilares da Barcelusa”, afetou muito o aproveitamento da Portuguesa. As contratações de jogadores que haviam feito sucesso entre outros clubes do futebol brasileiro, como o meia Diego Souza, ex-Palmeiras, os atacantes Rodriguinho e Ricardo Jesus, ex-Fluminense e ex-Ponte Preta, respectivamente, não supriram a carência de contratações do time.
A duas rodadas do fim do Campeonato Paulista, a diretoria decidiu afastar cinco atletas: o zagueiro Gustavo, o volante Maylson, os meias Diego Souza e Michael, e o atacante Vandinho. Primeiro, eles treinariam separados do grupo. Revoltados, os jogadores foram ao Sindicato dos Atletas e acabaram reintegrados. Na semana anterior à partida decisiva contra o Mirassol, os cartolas voltaram a anunciar o afastamento dos mesmos jogadores, instaurando a crise.
O torneio começou mal: em sua estreia, jogando no Canindé, a Lusa perdeu para o Paulista de Jundiaí por 2 a 0. A primeira vitória viria somente na terceira rodada, sobre o Guaratinguetá, em casa. Curiosamente, os únicos triunfos viriam sobre outros candidatos ao rebaixamento: além da Garça, o time do técnico Jorginho bateu XV de Piracicaba, Botafogo de Ribeirão Preto e Comercial.
O último rebaixamento da Portuguesa à segunda divisão do Paulistão havia sido em 2006. O retorno veio no ano seguinte, com o título da A-2 sobre o Rio Preto.
Alvo de críticas da torcida, xingado em todos os jogos da Lusa no Canindé pelos rubro-verdes, o presidente Manuel da Lupa sofreu seu terceiro rebaixamento na gestão. Além das quedas no Paulistão, em 2006 e neste ano, estava no cargo no rebaixamento pelo Campeonato Brasileiro, em 2008. O clube só voltaria à elite três anos depois.