18 Anos Sem Jorge Amado
Jorge Leal Amado de Faria ou apenas Jorge Amado (Itabuna, 10 de agosto de 1912 — Salvador, 6 de agosto de 2001) foi um dos mais famosos e traduzidos escritores brasileiros de todos os tempos. Integrou os quadros da intelectualidade comunista brasileira desde o final da primeira metade do século XX - ideologia presente em várias obras, como a retratação dos moradores do trapiche baiano em Capitães da Areia, de 1937. Em 1995, já descrente dos resultados práticos do comunismo, deixa o PCB (Partido Comunista Brasileiro), despejando fortes críticas à ideologia comunista.
Jorge é o autor mais adaptado do cinema, do teatro e da televisão. Verdadeiros sucessos como Dona Flor e Seus Dois Maridos, Tenda dos Milagres, Tieta do Agreste, Gabriela, Cravo e Canela e Tereza Batista Cansada de Guerra foram criações suas. A obra literária de Jorge Amado – 49 livros, ao todo – também já foi tema de escolas de samba por todo o País. Seus livros foram traduzidos em 80 países, em 49 idiomas, bem como em braille e em fitas gravadas para cegos.
Jorge foi superado, em número de vendas, apenas por Paulo Coelho. Mas em seu estilo - o romance ficcional -, não há paralelo no Brasil. Em 1994, a sua obra foi reconhecida com o Prémio Camões.
Biografia
Existem dúvidas sobre o exato local de nascimento de Jorge Amado. Alguns biógrafos indicam que o seu nascimento deu-se na fazenda Auricídia, à época pertencente ao município de Ilhéus. Mais tarde as terras da fazenda Auricídia passaram ao atual município de Itajuípe, com a emancipação do distrito ilheense de Pirangi. Entretanto, é certo que Jorge foi registrado no povoado de Ferradas, filho mais velho do Coronel João Amado de Faria e de Eulália Leal, pertencente a Itabuna. Teve outros três irmãos: Jofre, Joelson e James.
No ano seguinte ao de seu nascimento, uma praga de varíola obrigou a família a deixar a fazenda e se estabelecer em Ilhéus, onde viveu a maior parte da infância, que lhe serviu de inspiração para vários romances.
Já adolescente, aos 14 anos, começou efetivamente a participar da vida literária, em Salvador. Foi um dos fundadores da "Academia dos Rebeldes", grupo de jovens que desempenhou um importante papel na renovação da literatura baiana. Os seus trabalhos eram publicados em revistas fundadas por eles mesmos. Bacharel em direito, 1935, mas nunca exerceu a profissão de advogado.
Foi para o Rio de Janeiro, então a capital do País, para estudar na Faculdade de Direito da Universidade do Rio de Janeiro, atual Faculdade Nacional de Direito da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Durante a década de 1930, a faculdade era um polo de discussões políticas e de arte, tendo ali travado seus primeiros contatos com o movimento comunista organizado.Tornou-se um jornalista, e envolveu-se com a política ideológica comunista, como muitos de sua geração. Em 1946 foi eleito deputado federal pelo Partido Comunista Brasileiro (PCB) em São Paulo, o que lhe rendeu fortes pressões políticas. Como deputado, foi o autor da emenda que garantiu a liberdade religiosa devido a ter visto o sofrimento dos que seguiam cultos africanos bem como protestantes no Ceará serem saqueados por fanáticos com uma cruz à frente – buscou assinaturas até conseguir a aprovação da sua emenda, e desde então a liberdade religiosa tornou-se lei. Foi autor da emenda que garantia direitos autorais. Por outro lado, votou favoravelmente à emenda nº 3.165 do deputado carioca Miguel Couto Filho a qual buscava proibir a entrada no País de japoneses de quaisquer idade e procedência.
A sua obra é uma das mais significativas da moderna ficção brasileira, sendo voltada essencialmente às raízes nacionais. São temas constantes nela os problemas e injustiças sociais, o folclore, a política, as crenças, as tradições e a sensualidade do povo brasileiro, contribuindo assim para a divulgação deste aspecto do mesmo.
Era primo do advogado, escritor, jornalista e diplomata Gilberto Amado e da atriz Véra Clouzot.
Foi casado com a também escritora Zélia Gattai, a qual o sucedeu em 2002 na cadeira 23 da Academia Brasileira de Letras. Com ela, teve dois filhos: João Jorge (nascido em 25 de novembro de 1947) e Paloma Jorge (nascida em 19 de agosto de 1951).Teve ainda outra filha, Eulália Dalila Amado (nascida em 1935, que morre precocemente quando tinha apenas 14 anos, em 1949), fruto de um casamento anterior com Matilde Garcia Rosa.
Viveu exilado na Argentina e no Uruguai (1941 a 1942), em Paris (1948 a 1950) e em Praga (1951 a 1952). Como um escritor profissional, viveu quase que exclusivamente dos direitos autorais de seus livros.
Durante o exílio na União Soviética, foi vigiado tanto pela CIA, quanto pelos serviços de segurança soviéticos.
Desligou-se do PBC em 1956, depois das denúncias de Nikita Khruchev contra Stálin no 20º Congresso do Partido Comunista da União Soviética.
Em 1958 publicou Gabriela, Cravo e Canela, que representou um momento de mudança na produção literária do autor que até então abordava temas sociais. Nesta segunda fase faz uma crônica de costumes, marcada por tipos populares, poderosos coronéis e mulheres sensuais. Além de Gabriela, Cravo e Canela, os romances Dona Flor e seus dois maridos e Tereza Batista cansada de guerra são representativos desta fase. Apesar do "turning-point" na obra, não deixou de ser publicado na URSS.
Publicada pela primeira vez em 1966, a obra Dona Flor e seus dois maridos é considerada uma crônica de costumes da vida baiana. Regida sob a inspiração do realismo fantástico, a história mostra D. Flor como uma mulher que consegue realizar a fantasia de levar para a cama o marido falecido e o atual ao mesmo tempo. O primeiro, um malandro; o segundo, exatamente o seu contrário - só assim D. Flor sente-se realmente completa e feliz. O livro é pontuado de receitas culinárias, ritos de candomblé e exemplos de uma contradição que tão bem retrata o Brasil: o convívio do sério com o irresponsável, o prazer e o dever, a regra e o “jeitinho”. Sucesso editorial, D. Flor se tornou uma das mais populares personagens da literatura nacional.
Na década de 1990, porém, viveu forte tensão e expectativa de um grande baque nas economias pessoais, com a falência do Banco Econômico, onde tinha suas economias. Não chegou porém a perder suas economias, já que o banco acabou sofrendo uma intervenção do Governo.
Com a saúde debilitada havia alguns anos, morreu em 6 de agosto de 2001 devido a uma parada cardiorrespiratória. Em junho do mesmo ano, já havia sido internado por causa de uma crise de hiperglicemia. O corpo de Jorge Amado foi cremado e suas cinzas enterradas em sua casa no bairro do Rio Vermelho, em Salvador. As cinzas de Zélia estão depositadas no mesmo local, quando morreu em 2008. Hoje funciona no local a Casa do Rio Vermelho, expondo lembranças da vida do casal de escritores.
Uma das suas obras é o O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá que foi feita para o seu filho João Jorge, quando este completou um ano de idade. O texto andou perdido e só em 1978 conheceu a sua primeira edição, depois de ter sido recuperado pelo seu filho e levado a Carybé para ilustrar.