O VELHO DITADO

De todos os ditados que seu Valdemar aprendera ao longo da vida e que usava conforme a ocasião, talvez o que para mim suava como um grito ensurdecedor e insuportável, era aquele que descreverei ao fim desta narrativa, em que, conto como seria um final de semana de um jovem que aguarda a maioridade, na pequena e pacata cidade de Boa Vista, lá pelo começo dos anos 80.

Frequentava uma danceteria do outro lado da cidade, Fofoca’s era o point da rapaziada, porque não dizer o melhor se não o único. A festa rolava até as três da manhã, ao sairmos, começava ali aquela pernada de quase uma hora e meia até nossas casas, se não fizéssemos aquele pit stop na seresta da viúva, que ficava quase no final do percurso, eu estaria em casa quatro e meia da madrugada, tudo isso porque o dinheiro do Taxi tínhamos deixado no caixa do barzinho da discoteca. Chegando em casa trocava de roupa e partia para minha cama e começava ali, aquele descanso até as onze horas da manhã, bem que poderia ser, mas as seis da manhã, seu Valdemar abre a porta e a janela do quarto, e fala em voz alta acompanhado de um assobio estridente; - Vamos acordar que o dia já amanheceu e o quintal está muito sujo. Eu me virava na cama e lhe dizia:

- Pô pai dá pra dormir pelo menos até as oito.

Ele fazia que não sabia que eu tinha chegado tarde em casa, e finalmente saia com o velho ditado, que só em pensar já me causa rebordose.

E mandava sem piedade aquele ditado que pra mim era impopular:

- QUEM NÃO ENCHEU NO COMER, NÃO VAI ENCHER NO LAMBER.

Elton Portela
Enviado por Elton Portela em 02/08/2019
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