HOJE UMA ESTRELA FAZ ANIVERSÁRIO
Poucas vezes na minha vida conciliei a certeza racional com a intuição premonitória. Esse equilíbrio a poesia tem me dado de forma razoável, mas a vida é arte ainda mais misteriosa e viver não leva a conclusão nenhuma – exceto que vivemos para ver a vida ensinar como se vive.
Quando dei à luz minha segunda filha alcancei conciliação. E como ela mesma hoje me diz sorrindo, eu só descobri o que era amar quando e depois que Júlia nasceu.
Quando decidi buscar a Julia na constelação imaginada, um pedaço de mim sabia o caminho sem nome da gravidade onde o espírito dela orbitava, o não-lugar onde nossa alma tinha marcado encontro.
Meu êxtase comportava medo, tamanha certeza implica responsabilidades.
Talvez o medo fosse o receio de que em algum momento eu a deixaria brilhar sozinha. Proteger uma estrela menina, lustrar e cuidar do brilho dela é deixá-la viver afastada mas na mesma órbita - os filhos a gente engendra na vida para que vivam suas vidas e não as nossas.
Com a certeza de que eu engravidaria penetrando o avesso daquela constelação que não soube nomear saudei a alma pequenina em minhas mãos invisíveis de poeta com a certeza de que alcançando o tecido em que dormia fizesse germinar desse lado do deserto, no desaterro onde cada um de nós peregrina nem sempre feliz, dei à luz a minha pequena obra prima. Essa demanda foi uma vitória, dei-lhe nome, escolhi o nome mais bonito do universo nele me vi espelhado - nome abrangente, tão enorme quanto condensado, nome próprio de rainha, de uma estrela – JÚLIA!
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do seu pai Bill, Baltazar Gonçalves