O Fla-Flu de 1995 muito além do gol de barriga
Chuva, expulsões, Maraca lotado...
Última decisão de título entre arquirrivais acaba sempre lembrada por gol de Renato Gaúcho no fim, mas foi cercada por muito mais histórias.
Após mais de duas décadas, Flamengo e Fluminense voltam a decidir um título do Campeonato Carioca neste domingo, a partir das 16h, no Maracanã. A última vez foi no já longínquo ano de 1995. E sempre que se fala daquele clássico Flu 3 x 2 Fla lembra-se, inevitavelmente, dogol de barriga de Renato Gaúcho, repetido em loop até hoje (tipo esse GIF aí de cima). Mas aquele domingo de 25 de junho guarda muito mais histórias. Foi uma partida épica, com reviravoltas, expulsões, bate-boca, testemunhada por um Maracanã lotado como nos áureos tempos do estádio... Os mais novos talvez não conheçam, enquanto os mais velhos podem não lembrar. Por isso, recordamos algumas curiosidades que vão muito além da “barrigada” de Renato.
1 - Na verdade, não era uma final
Calma, que a gente explica! Em 1995, Fla e Flu decidiram o título, mas, tecnicamente, não tratou-se de uma final de fato. Era a última rodada de um octagonal que definiria o campeão. Além de Fla e Flu, disputaram a fase Vasco, Botafogo, América, Volta Redonda, Bangu e Entrerriense. Portanto, a última final “finaaal” entre Flamengo e Fluminense, na verdade, foi em 1991. Mas podemos chamar o Fla-Flu de 1995 de "última decisão", combinado?
2 - O regulamento do campeonato, aliás, era muito louco!
Se você achou o regulamento do Cariocão deste ano confuso é porque você não era nascido ou não se lembra muito bem do campeoanto de 1995. O torneio foi disputado por 16 clubes, divididos em dois grupos, A e B. Os times de cada grupo jogavam entre si duas vezes, na 1ª e na 2ª fases. O vencedor de cada fase ganhava um bônus de 1 ponto para o octagonal final. No Grupo A, o Vasco venceu a 1ª fase e o Botafogo a 2ª. No Grupo B, o Fla venceu as duas fases. Terminadas as duas fases, era feito uma classificação acumulada e os melhores de cada grupo, Bota e Fla, se enfrentavam para decidir a Taça Guanabara, que daria mais um ponto de bônus para a fase final. O Rubro-Negro venceu por 3 a 2 e levou o troféu.
Os quatro melhores times de cada grupo se classificavam para o octagonal final, sendo que o pior dos oito ainda teria que disputar uma repescagem com um time da 2ª divisão. Como se já não tivessem sido disputados jogos o suficiente, o octagonal foi disputado em turno e returno. O Cariocão 1995 começou no dia 28 de janeiro e terminou em 25 de junho. Ao todo foram 169 jogos.
3 - Foram quatro Fla-Flu no campeonato
O excesso de jogos previsto pelo formato proporcionou quatro clássicos entre Flamengo e Fluminense na competição. O primeiro, em 12 de fevereiro, válido pela 1ª fase, terminou com um empate em 0 a 0. O segundo, pela 2ª fase, em 12 de março, teve vitória do time das Laranjeiras por 3 a 1. No dia 30 de abril, os times se encontraram pelo turno do octagonal final, um jogaço recheado de gols e novo triunfo Tricolor, 4 a 3. O último clássico entre os dois no torneio, claro, foi a decisão: vitória de 3 a 2 e título para o Fluminense. A invencibilidade tricolor rendeu até uma musiquinha preparada pela torcida para a decisão:
"O primeiro 0 a 0,
O segundo 3 a 1,
O terceiro foi 4 a 3,
E o Flamengo virou freguês!"
4 - Rap do Renato x Rap do Centenário
A rivalidade entre Flamengo e Fluminense no estadual foi embalada por dois raps, estilo que mais bombava na época. A música tricolor, que exaltava Renato Gaúcho, foi composta por Cadu e Márcio Costa, dois jogadores do Flu.
Rap do Renato
"MCs" Cadu e Márcio Costa
"Oba, Oba, Oba, Renato chegou
Trazendo a alegria pra galera tricolor
Oba, Oba, Oba, Renato taí
Da Barra às Laranjeiras ele vem pra sacudir
O cara assina bola, camisa e chapéu
Assina até bumbum, esse gaúcho é cruel
Seu jogo preferido é o famoso Fla-Flu
Renato fez novela com Raí e a Babalu
Pretende ser ator de novela e cinema
Seu hobby é o futevôlei nas areias de Ipanema"
Já a música do Fla cantava o centenário rubro-negro
Rap do Centenário
MCs Júnior e Leonardo
"Vai Flamengo balança a rede do adversário
Vai Flamengo comemorando o seu primeiro centenário
Considerado o mais querido do Brasil
E a torcida mais de 900 mil
Com tantas glórias, tantas vezes campeão
Essa torcida foi campeão no Japão
Para o Flamengo tem que tirar o chapéu
E respeitar a sua sala de troféus
Sempre consegue o que todo mundo tenta
Pode tentar mas só o meu Mengão que é penta"
4 - Queima de fogos na véspera
Na véspera da decisão, torcedores do Flamengo, com o intuito de atrapalhar o sono dos jogadores do Fluminense, estouraram dezenas de rojões durante a madrugada em frente ao hotel no Leme onde ficariam os tricolores. No entanto, a diretoria do Flu descobriu o plano com antecedência e levou os atletas para um hotel no Vidigal, onde puderam dormir tranquilamente.
5 - Centenário do Fla e Romário como grande estrela
Era o ano do Centenário do Flamengo. E o clube da Gávea tinha se preparado para proporcionar um ano de sucesso para a torcida. A estrela do time era ninguém menos que Romário, que viera do Barcelona com o status de melhor jogador do mundo eleito pela Fifa após o título da Copa do Mundo de 1994 - algo inimaginável de ser feito por um clube brasileiro nos dias de hoje. O Rubro-Negro também tinha Branco, outro campeão mundial no ano anterior, e a revelação Sávio. Já o Fluminense vinha de um período de “vacas magras”, sem títulos desde 1985 e com elenco mais humilde, cuja estrela principal era Renato Gaúcho.
6 - Público de mais de 100 mil pessoas no "Velho Maraca"
Aquele épico Fla-Flu teve público de 112.285 pagantes e 120.418 presentes. Ainda era a época “romântica” onde o Maracanã comportava públicos superiores a 100 mil. Atualmente, a capacidade do estádio é de 78 mil pessoas, mas por questões de segurança, cargas inferiores de ingressos são colocadas à venda. Para a decisão deste domingo, todos os bilhetes foram vendidos.
8 - Treinadores "raiz"
O Flamengo era comandado por Vanderlei Luxemburgo, apontado por muitos como melhor treinador do país na época. Já o Fluminense era comandado por Joel Santana, que tinha fama de especialista em estaduais, pelos títulos com o Vasco (1992 e 1993) e Bahia (1994) nos anos anteriores.
9 - Choveu MUITO no 1º tempo!
Mas muito mesmo! A chuva deu uma trégua na segunda etapa.
10 - Bônus e vantagem do empate...
Se a partida tivesse terminado empatada em 2 a 2, não iria para os pênaltis, o Flamengo se sagraria campeão. O Rubro-Negro tinha a vantagem do empate por ter feito a melhor campanha no geral. O clube da Gávea, aliás, começou o octagonal final com 3 pontos de bônus, por ter sido o melhor do Grupo B na 1ª e na 2ª fase e por ter sido campeão da Taça Guanabara. Vasco e Botafogo também entraram na fase decisiva com um ponto, enquanto Flu e os demais times começaram zerados e tiveram que correr atrás.
11 - Você se lembra quem fez os outros gols?
Renato Gaúcho abriu o placar para o Fluminense aos 30 minutos do 1º tempo, e Leonardo ampliou aos 42. O Flamengo reagiu na segunda etapa. Romário fez seu primeiro gol contra o Tricolor na carreira, aos 26, e seis minutos depois Fabinho igualou o placar. A “barrigada” de Renato foi aos 41, mas na súmula o gol foi anotado para Aílton, autor do chute. Mas isso você já deve saber...
12 - Jogo teve QUATRO expulsos. Flu terminou com OITO
No gol de Romário, aos 26 do 2º tempo, Sávio tentou buscar a bola rapidamente nas redes para acelerar o reinício do jogo. Sorlei derrubou o jovem atacante do Fla e provocou um princípio de confusão. Marquinhos tomou as dores de Sávio e, com direito a empurrão, foi tirar satisfações com o zagueiro Tricolor. O árbitro Léo Feldman acabou com o tumulto mandando um de cada lado para fora: Sorlei e Marquinhos.
Quando a partida já estava empatada e o Flamengo estava ficando com o título, Lira deu uma entrada criminosa em Fabinho. O lateral do Flu esqueceu a bola e aplicou um “carrinho voador”, com as chuteiras à mostra direto nas canelas do volante rubro-negro. Expulsão mais do que justa.
Depois do gol de barriga de Renato, Lima interrompeu um ataque em velocidade do Fla derrubando Sávio com violência e também foi expulso. O Fluminense terminou a partida com apenas oito jogadores em campo, dois a menos que o Rubro-Negro.
Vinte anos depois, Joel Santana recordou o título em entrevista ao GloboEsporte.com. Contou, entre muitas histórias, que pediram a ele para tirar Renato Gaúcho antes do gol de barriga.
- Não posso falar o que eu disse a ele (Renato) depois do jogo (risos). Naquela época, alguém chegou perto de mim e falou para tirar o Renato, que estava cansado. Eu disse que não se mexe em craque. Em anos anteriores, fui mexer e aprendi. A bola procura ele. Para deixar o Renato aborrecido, disse para ele que o gol foi do Ailton (risos).