TRIÁLOGO DO ALÉM
MJ - Olá, você chegou Dona Rocilda, até que enfim!
R - Pois é Maria José, resisti ao máximo, mas, temos nossa hora final lá na terra.
C - Soubemos da tua luta naquela UTI, foram mais de 36 dias, mulher. Na minha vez eu só aguentei 5 dias. Pedi pro J. Cristo, pra abreviar minha Ida.
MJ - Eu sofri minha filha... naquela cama dia e noite, noite e dia, por dois anos e nada de partir. Foi um alívio.
C - Rocilda, que demora foi essa de chegar aqui em cima, prima, você perdeu a comemoração do meu aniversário.
R - É que eu, antes da cremação consegui colocar umas pedras nos bolsos pra pesar mais, com isso as cinzas foram para o fundo do mar e pra juntar os diversos pacotes afundados foi difícil. Foi ótima a viagem, demorei o máximo que podia como eu sempre gostei de fazer nas viagens.
MJ - Ôô quêê? D. Rocilda. Até nessa hora você fez marmota mulher.
C - Mudando de assunto, você já viu o Bené, Rocilda?
R - Ainda não, me disseram que como ele anda devagarinho precisa de tempo para chegar.
MJ - O Bomfim demorou três dias para aparecer. Estava ocupado em consultas com umas “Freiras do Juvenal” que encontrou aqui.
C - O Zéabrahão só apareceu uma semana depois. Disse que estava com uns amigos num “ponto certo” aqui de cima.
C - Olha quem chegou aqui pra te receber Rocilda, a Suzete.
R - Oi Suzete, você está bem. Dá pra ver, gordinha, com a pele ótima. O Bembem como está?
C - Aqui é moda jogar cartas - Suzete, Zé, Bembem e eu, todo dia jogamos um buraquinho. Sempre rola um cafezinho, uma móca pra esquentar. É só pedir que vem.
MJ - Até eu estou jogando buraco gente. Acho que a Dona Rocilda, com o tempo também vai gostar de jogar.
R - Não tenho paciência pra isso, pelo menos por enquanto. Quero rever os amigos, os parentes que já chegaram, meus irmãos, meu filho Flávio. Depois, quando me acostumar com esse novo lugar, quem sabe...
C- Sabem meninas, encontrei outro dia um médico muito conhecido de todas nós: O Dr Fernando Silveira, aquele que foi médico de quase todos os partos dos nossos filhos.
C - Soube pelo auto falante que o Juarez do Soverte chegou esses dias. Nós poderíamos pedir a ele pra colocar uma filial aqui. A Rocilda ia adorar. Louca por sorvete!
MJ - Encontro sempre com a Dona Luiza Távora e voltamos às nossas antigas conversas sobre a política.
C - Já encontrei foi todo aquele povo do DENERU, da SUCAM e da CEM e fizemos aquela festa.
MJ - Festa aqui Celina? Pode?
C - Pra seu inteiro dispor, poder não pode, mas como sou amiga do “Jota”, consegui que festejássemos desde que fosse quase sem barulho. Acho que é por isso que mandaram me chamar para falar com Ele amanhã. Deve ser para me parabenizar pela boa e silenciosa festa. Eu mesmo não escutei som nenhum, foi ótimo.
MJ - Ôô quê?
R - Acho que minha audição também está melhorando, já não escuto aquelas músicas que eu ouvia todo o tempo nos meus ouvidos. O gosto da comida voltei a sentir.
Sinto falta das minhas jóias. Aqui o povo é tão sem vaidade. Ninguém usa um anel. Êê!
C - Rocilda, aqui tem cozinhas maravilhosas e você poderá fazer aquela torta de abacaxi para nós.
MJ - Ai, que aquela torta da Dona Rocilda é uma dilícia.
R - Depois vocês me mostram os locais que eu vou fazer. Me sinto com muita disposição pra tudo novamente. Sinto falta da minha cadeira na varanda e daqui não posso implicar com o Andrade. É isso mesmo.
Antes eu do que ele por aqui.