O GEMIDO DA EMA (homenagem ao centenário de Jackson do Pandeiro)
A Paraíba escutou
Do tronco de uma jurema
Um cantar bem diferente
O gemido de uma ema
Era um sinal tão perfeito
E ninguém pôde evitar
Uma grande euforia,
Pois um menino nascia
Para o mundo encantar.
Era José Gomes Filho
Negrinho muito matreiro
Olhou pro mundo e pensou:
“Isso é um formigueiro!
Já que eu estou aqui
E tenho que ganhar dinheiro,
Vou fazer uma quizumba,
Meter a mão na zabumba
Botar som no pardieiro."
Sua mãe , Flora Mourão,
Coquista da silibrina
Ouviu tanta zabumbada,
E já que essa era a sina
Logo que enviuvou
Com dois filhos e uma menina,
Pensou num balacobaco,
Arrumou logo o bisaco,
Foram morar em Campina.
E lá em Campina Grande
O menino trabalhava,
Ajudava na padaria
Até sapato engraxava,
Mas, à noite ele saia
Para ouvir cantadores
Ninguém mais o segurava
Cantava coco e tocava
Descobria os seus valores.
Da Bela Alagoa Grande
Berço do nosso guerreiro
Ficaram as boas lembranças
OS folguedos,o amor primeiro
Gostava de ser o Jack
Dos filmes de faroeste
Nascia, ali, uma história,
Cheia de lutas e glória
De um paraíba da peste.
Ele juntava os bêbados
Do Forró de Surubim
Para fazer arruaça
Brigar e fazer fuim,
Chamava o Mané Gardino
Somente para dizer
E deixá-lo na berlinda
Pois a sua Fulorinda,
Punha os homens pra roer.
Numa Cantiga de Sapo
Numa Casaca de Couro
Ou num Coco Machucado
O que cantava era ouro,
E quando ficava só
E não tinha amor nenhum
Era uma grande arrelia
Pois seu coração batia
E fazia Tum tum tum.
Ele fez uma mistura
De Chiclete com Banana
Dançou um Bumba meu Boi
Convidou Sebastiana
Para dançar um xaxado
Quase cai na esparrela
Ela não era formosa,
Ele então chamou a Rosa
Que era Morena Bela.
E quando o S. João Chegou
E acenderam a fogueira,
O forró de Limoeiro
Tudo era brincadeira
E a Saudade que Dói
Foi uma boa lição
Pois a Tuba da Muié
Do seu conterrâneo Zé
Provocava sensação.
Por ter, assim, tanto Zé
Zé de baixo e Zé de Riba,
Nosso mundo musical
Não conhece pindaíba
Digo com toda alegria
Que o nosso povo brioso,
Pode até não ter dinheiro
Mas tem Jackson do Pandeiro
Nosso Zé da Paraíba!...
Nestes versos, a minha singela homenagem a José Gomes Filho ( Alagoa Grande –PB, 31/08/1919 – Brasília, 10/07/1982), o nosso Jackson do Pandeiro, homem simples que cantava as coisas do cotidiano e encheu de alegria e de orgulho a nossa gente, tornando-se um patrimônio cultural do povo brasileiro.
Viva o xaxado!
Viva o baião!
Viva S. João!
Viva Jackson do Pandeiro!
(Maria do Socorro Domingos)
João Pessoa, 21/06/2019