Sermão no Massa?
Francisco Máximo Pereira era um dos mais dedicados alfaiates da cidade, naqueles anos cinquenta, sessenta e setenta. Mas era ainda mais entusiástico com o seu Vasco da Gama, que vivera os áureos tempos de Belini, Sabará e Pinga. E essa vibração toda só era menor que o fervor com que Chiquinho comandava, autoritário, o Clube Atlético Pitanguiense, o CAP de tantas glórias e histórias.
Os treinos, as quartas e sextas, eram convocados por meio do possante alto-falante do Estádio Iraci Severino, quando se intercalavam as chamadas com músicas célebres como Diana e Oh, Carol, na voz imorredoura do grande Carlos Gonzaga.
A fábrica de tecidos liberava os atletas às quatro da tarde e céleres eles desciam uma ladeira e subiam outra pra estarem a postos sob o comando do treinador Máximo. Eram de uma pontualidade britânica. Já os cracões do time, como o Carlos do Cuié, artilheiro, juntamente com seu irmão goleiro Danilo, e o ídolo da torcida feminina Luís do Saco, e o Zé Marcos, que batia com as duas, se relaxavam, sem dar muita importância ao rigor do exigente Chiquinho.
Um dia, cansado daquela folga toda, Chiquinho alinhou todos no vestiário, de pé, para lhes passar um esculacho em nome da moralidade e dos bons costumes.
- O que que os senhores pensam que são? Aqui, a disciplina domina. E não abro mão! Vou ter que sacrificar talentos em seu nome. Mas jamais aceito desafios à minha autoridade. Vejam os senhores: que exemplo dignificante o do quarto zagueiro operário Massa Bruta que jamais se atrasa - enquanto o homenageado, cabisbaixo e humilde, acolhendo aquele elogio - ...e Chiquinho, solene, imperial, prosseguia seu sermão...: pois vejam, o Massa, que não joga nada, sempre cumpridor do horário...
Nota da redação: ouvir o relato verbal do José Epiphânio, bancário e banqueiro contumaz, que, aspirante, se comprazia dos atrasos alheios para bater uma bola, é bem melhor, no entanto...