Seda
*Seda I
Nas noites enluaradas universais
Bastou um simples olhar acanhado
Para despir um sentimento
Que outrora estivera recôndito
A mudez do sorriso cúpido
Alvoreceu apetência veneta
Transcendendo a essência da epiderme
Ao tocar o poeta
A pele que tem fogo
Absurda, rude e muda
É o casulo!
O papel que embrulha meu baseado de 1,69m
Meu vício
Minha dependência
Não sei se é esse seu jeito de não me olhar
Ou se é seu cheiro de banho recém tomado
Se são seus cabelos hidratados
Contudo é tudo fumaça proibida.
Fico dia a dia
Escravo da sua chegada
Do seu olhar baixo
Encravado nos seus segredos
Molhados...
Tal como seus pelos pretos-castanho
Escravizado pela tez branca
Pelos olhos claros
Pela maquiagem feita às pressas
Louco por essa seda branca
Que me deixa cada vez mais maluco
Numa matemática inversa:
Quanto menos me drogo com seu corpo,
Mais necessito dele...
Dependente de uma química cruel
Não acessível a meus átomos de carbono.
*Seda II
A seda foi rasgada
Já não adere a pele ressecada
Da maldita patricinha
Dos olhos verdes da cor do catarro
Seu sórdido sorriso faz lembrar
A temida boneca momo
Com os lábios deformados
Na hipnótica trama do suicídio
Encontro-me sozinho naquela sala
Ao som do violino funerário
Me levando ao abismo
No compasso de cada nota desafinada
Destoando dos sentimentos outrora confessados
Da vontade de comprimir a língua áspera
No chocolate branco de seu corpo podre
De seu cheiro forte quente
Assim não dá! Dói. Sem o seu calor morno
Com o seu calor morro, no ácido de sua putrefação
Nesse vale escuro, é só uma noite eterna
De saudades das vezes que quis me afundar
E matar minha sede
Na sua seda, agora seca, morta e suja.