Saudades de Aurora (Minha Mãe)

Minha alma hoje chora,

de saudades e muita dor,

dor essa que, ainda é amor,

Amor que nunca foi paixão.

A saudade fere meu coração.

Sem remédio, sem companhia,

portanto e por fim, sem solução!

(Ofereço estes versos à todas as mães, biológicas ou não!)

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Interação do meu amigo poeta Fernando A Freire

Saudade de alguém que, fisicamente, não mais me sente, não mais me vê, não mais me vem, não mais me nina... É a vida... No meu pomar, uma árvore estava sempre a frutificar. Dei-lhe o nome de minha mãe - Iolanda - e, quando não amparado por sua sombra, ficava a lhe admirar à distância, lá de minha varanda. Chegou o momento em que aquela bela planta parou de produzir. Depois foi perdendo os cabelos, digo: a folhagem. E eu, temeroso de perder a sua sombra, ainda quis insistir com algum remédio, digo: adubação. Mas ela parecia não entender minha dedicação, minha obrigação, ou devoção. Comecei a perceber que a Natureza é implacável. Fez com que ela, por toda a vida envaidecida, se despreocupasse de sua própria imagem. Tanta esbelteza foi pouco a pouco se desfazendo em gravetos, garranchos que davam a ideia de um último esforço para quem ainda quer escrever ou se descrever. Ainda recordo aquela última folhinha amarelada balouçada pelo vento. Era com certeza seu último aceno. Não achei que deveria abandoná-la de vez, como se tudo estivesse acabado. Ainda em pranto, juntei seus restos num recanto. Como num túmulo à superfície, até o menor de seus pedaços guardei numa célula de compostagem que eu mesmo construí. Ali estavam os restos mortais de uma árvore, aquela que me via todos os dias. O tempo transformou toda sua carcaça em cinzas. Tudo um dia vira pó, vira cinzas. Colhi-as, cuidadosamente, e, com uma pá, comecei a espalhá-las (como adubo) sobre as raízes das outras plantas que iam nascendo, revigorando-as. Ela estava ali, em cada nova planta, ressurrecta. Veio me provar que é assim a vida das plantas e a dos plantadores, a das sementes e a dos semeadores. Deus apenas governa essa visível e incontestável vida eterna.

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Obrigada meu caro amigo Fernando A Freire, pela honrosa interação.

À você meu abraço, meus respeitos, minha gratidão e minha admiração!

Dorinha Araújo

Dorinha Araújo
Enviado por Dorinha Araújo em 12/05/2019
Reeditado em 30/05/2019
Código do texto: T6645391
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