Dia da Mãe. Um poema de Florbela Espanca

Mãezinha

Andam em mim fantasmas, sombras, ais...

Coisas que eu sinto em mim, que eu sinto agora;

Névoas de dantes, dum longínquo outrora;

Castelos d'oiro em mundos irreais...

Gotas d'água tombando... Roseirais

A desfolhar-se em mim como quem chora...

— E um ano vale um dia ou uma hora,

Se tu me vais fugindo mais e mais!...

Ó meu Amor, meu seio é como um berço

Ondula brandamente... Brandamente...

Num ritmo escultural d'onda ou de verso!

No mundo quem te vê?! Ele é enorme!...

Amor, sou tua mãe! Vá... docemente

Poisa a cabeça... fecha os olhos... dorme...

Florbela Espanca, in 'Antologia Poética'

Forbela Espanca
Enviado por Quo Vadis em 05/05/2019
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