LANÇAMENTO DO LIVRO SOBRE PEÇANHA - MG

Precisamos de mais. Queremos mais. Exigimos mais. Assim começo a minha exaltação a este evento tão nobre. Pois suplicamos por mais ações como esta. Uma cidade, qualquer que seja, para fazer valer o presente e conseguir pleitear um futuro mais promissor, precisa reverenciar o seu passado. Precisa aplaudir seus personagens. Precisa se orgulhar de si mesma. Em síntese, precisa reconhecer a sua história. Se, por ventura, a cidade em questão se chama Peçanha, essa necessidade então se torna uma obrigação.

Quem por aqui passou, seja de berço, seja porque tenha feito daqui o seu berço, não apaga, de sua memória, essas ladeiras, esses casarões, essa topografia, esses causos, as pessoas. São fatos prosaicos, simples, mas que alcançam uma dimensão que apenas o coração pode mensurar. Como disse o poeta, “Casas entre bananeiras / mulheres entre laranjeiras / pomar amor cantar.” A beleza de Peçanha se encontra na simplicidade, no bucolismo, na topografia, que a torna única.

Se a sua cultura, cantada em prosa e verso, remete a mentes brilhantes, não podemos nos esquecer das mãos dos oleiros, dos causos contados nas praças, na rodoviária, nos serões familiares... Somente uma cidadezinha pequenina consegue se ater a detalhes, aparentemente tão ínfimos, mas tão gritantes na formação da cultura de um povo. Porque, afinal, a cultura não pode ser medida, quantificada, pois vai muito além dos bens materiais. Muito antes disso, ela se inicia na memória afetiva.

E isso a nossa cidade tem de sobra. Isso a torna especial. Afinal, não é qualquer uma que tem, entre os seus, um Professor Aluísio Pimenta, um Zé da Gaita, um Professor Simão, uma Maria Papudinha, uma Rai, ou, quem sabe, um Marcelino, Bastião Mala Velha, Bazuca, Jurubeba... São Marias Padilhas, Passaretes, Professores Generosos, Joaquins Aleixos e tantos outros. Desconheço, também, em minhas andanças, cidade que tenha uma Casa da Cultura como a desta cidade.

As histórias vão se espalhando de boca em boca, mas, ao mesmo tempo, se perdendo, se diluindo no tempo. O seu registro permite a sua perenidade, ao mesmo tempo que torna os narradores seus donos. E o que se faz aqui, neste momento, por obra e graça da Casa da Cultura Minervina Vieira da Silva – Tia Neva, nada mais é que entregar ao povo o que é do povo. Pois toda cultura, para que mereça esse título, tem que se originar do povo e a ele se destinar. E assim, preservando o que houve, anuncia-se o que virá. São tantas e tão diversas as gerações irmanadas em uma admiração inconteste pela cidade! Neste momento, por exemplo, tenho a honra de dividir a preparação deste trabalho com minha dileta professora das séries iniciais, Dona Lulude, e com alunos do Instituto Educacional Bravieira, dentre outros.

Precisamos de mais. Queremos mais. Exigimos mais. Podemos fazer mais. Há uns dois anos, em conversa telefônica com um dos embaixadores da cultura peçanhense pelo mundo, Guilherme Marques, ouvi a conclamação para que nós, cuja formação se deu neste rincão, atuássemos um pouco mais efetivamente nesta área na cidade. Nada mais justo, honesto e digno. Temos uma dívida de honra com esta cidade. Aqui nos construímos, aqui adquirimos asas para os nossos voos. Nossos sonhos foram estimulados pelos delírios de nossos mestres. Nossas asas insufladas pela ousadia adquirida entre esses morros. Nossos voos foram planejados, calculados tendo como impulso as pedras do velho calçamento pé-de-moleque.

Lembro-me de minha história. Capinando roça. Quebrando pedras no Engenho. E estudando. Sonhando. Por obra e graça de meus professores, principalmente de Tia Neva, que, além de me patrocinar, me dizia: “Não para. Você vai longe”.

Precisamos de mais. Queremos mais. Exigimos mais. Queremos incentivo para continuar mostrando ao mundo o enlevo de sermos paneleiros. Nossa relação com esta pequena grande cidade pode ser resumida nas breves palavras de Pessoa: “Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver do Universo... / Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer, / Porque eu sou do tamanho do que vejo / E não do tamanho da minha altura...” E aqui nos ensinaram a pensar grande, a ver longe. Porém sem perder a essência, a simplicidade. Sem deixar de gostar do cafezinho na cozinha, da água na moringa, do bate-papo na janela.

Precisamos de mais. Queremos mais. Exigimos mais. Queremos mais Tias Nevas em nossa vida. Suplicamos por uma Casa da Cultura cada vez mais incentivada e atuante. Precisamos de mais apoio para o Grupo Fragmentos do Teatro. Queremos governos que não vejam a cultura como instrumento eleitoreiro. Exigimos professores que incentivem os alunos e lhes deem motivos para ir além. Precisamos que nossa cidade cresça. Entretanto que a sua simplicidade e a sua história não se percam. Para que possamos recitar sempre o mestre Drummond: 'Um homem vai devagar. / Um cachorro vai devagar. / Um burro vai devagar. / Devagar... as janelas olham. / Eta vida besta, meu Deus."

Cláudio Gonçalves da Silva Pereira – junho/2016

Pabinha
Enviado por Pabinha em 21/04/2019
Reeditado em 21/04/2019
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