JUNIOR CRIOU ELE MESMO

Como é louca essa história de acordar com a notícia de que alguém morreu. Fora o impacto, o que já é terrível passa, realmente, um filme em nossa cabeça; e, em cada fotograma, uma parte importante da vida, como reflexão. Por algum momento valorizamos os amigos, familiares e vizinhos... mesmo que, depois, a própria vida se encarregue de fazer com que esqueçamos tudo. A obrigação das horas, chama-nos de volta à dura realidade. E cada um tem um jeito próprio de comungar a sua dor.

Há um estudo que diz que a maioria das pessoas morrem na cama. Às vezes, sem ter realizado nada, acrescento por conta própria. Júnior pelo menos se permitiu ousar. Um contrassenso, pois foi justamente isso que o levou embora. Júnior era um sobrevivente dele mesmo. Lutava dentro do seu próprio mundo. Acho que Júnior criou ele mesmo. Foda, né? Não que ele não tivesse quem o amparasse – pelo contrário – O ninho lhe incomodava – ele sempre quis “voar fora da asa”. Não diria um irresponsável, mas, um inconsequente. Fazia tudo sem pensar – Junior era coração. E o coração sempre nos guia para longe da razão. Ele ordena e a gente segue. Não dá para sair culpando ninguém. Também, não faltaram avisos: - Mas, de que adiantam esses avisos agora? Achamos que nunca vai acontecer nada de ruim com a gente.

Morte, morte, morte – Esse coro de vozes dentro de mim, diz que nada somos; que nada temos. Mas, se esse mundo pertence ao diabo, por que nos iludimos tão facilmente com os panfletos dele?. Quanta angústia! E falo por todos aqueles que o conheceram; e que viam em Junior uma criança-gigante... Que inventava coisas e que dizia morar num castelo à beira-mar... De onde, às tardes mornas, podia se ver o acaso de todas as vidas... Junior era um ilusionista.

E como verdade: - Era pai de Maria Clara, de 05 anos; Miguel, de 4 anos; e, a mulher, estava grávida de gêmeos; o que só aumenta a tragédia. Mas, agora, todos os pecados estão perdoados. O jugo é divino. Passou rápido... e que bom que passou; de um jeito ou de outro esta vida acabou; As marcas se foram não há mais ferida.

Vai Junior, continue seguindo a sua viagem...

*A família agradece a todos que, de corpo presente ou por meio de oração, juntaram-se a nós na dor da perda. Principalmente aos motociclistas, que se compadeceram e choraram conosco à morte de John Lennon Lopes (Júnior) que nos deixou após um acidente de moto, em 20 de junho de 2016, aos 28 anos de idade, na estrada que liga Jardim de Piranhas à Caicó, no Rio Grande do Norte.

Misael Nobrega
Enviado por Misael Nobrega em 28/03/2019
Reeditado em 28/03/2019
Código do texto: T6609850
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