Pai Velho

Sentado à mesa de bar

Sinto o refrigério que a bebida quente e amarga traz

Firmo o pensamento em cada trago do meu cigarro

Espalhando-me na tóxica fumaça que me rodeia

Mimoseio a cada gole

A dor de uma cesura que foste ancorada em meu pomo

Droga! Ouço o velho barbudo embriagado gritar

Olhando a TV de imagem desfocada

Esquecendo do dedo de pinga no fundo do copo

Esperando o momento certo de ser digerida pelas

Entranhas fedorentas daquele zumbi humanoide

É no meio do tabaco queimado e com respiração frágil

Que o trêmulo, o senhor se faz mais morto que vivo

Eu, na minha idiota ignorância, vejo-me frente ao espelho

Bêbado

Negligenciado pelos amores pudicos

E amado pelas putíssimas donzelas

Na proporção das notas amassadas

Dos meus bolsos imundos

Bastou ingerir um gole daquela pinga

Deixada no fundo do copo

Para que as lágrimas envernizassem

O velho banco de madeira no centro da sala

Desalento e abominoso

Entrego-me à calçada do purgatório

Pisoteado e arrastado

Pela sola de cada sapato imundo

Sinto um pequeno tremor no peito

ao mesmo tempo ouço um grito

Que vem do coração retraído

E consumido pela podridão do mundo

Aprisionado à sombra do sofrimento

Colhendo a semente plantada e regada

Com a acidez de minha saliva

O velho barbudo não grita mais

Ouço apenas o temerário silêncio do jovem imberbe

Com o brilho banzo em seus olhos

Lamentando sua candidez

Em frente ao cadavérico espelho quebrado

João Paulo Leal e Renato W Lima
Enviado por João Paulo Leal em 25/03/2019
Reeditado em 17/12/2021
Código do texto: T6607201
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2019. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.