Pai Velho
Sentado à mesa de bar
Sinto o refrigério que a bebida quente e amarga traz
Firmo o pensamento em cada trago do meu cigarro
Espalhando-me na tóxica fumaça que me rodeia
Mimoseio a cada gole
A dor de uma cesura que foste ancorada em meu pomo
Droga! Ouço o velho barbudo embriagado gritar
Olhando a TV de imagem desfocada
Esquecendo do dedo de pinga no fundo do copo
Esperando o momento certo de ser digerida pelas
Entranhas fedorentas daquele zumbi humanoide
É no meio do tabaco queimado e com respiração frágil
Que o trêmulo, o senhor se faz mais morto que vivo
Eu, na minha idiota ignorância, vejo-me frente ao espelho
Bêbado
Negligenciado pelos amores pudicos
E amado pelas putíssimas donzelas
Na proporção das notas amassadas
Dos meus bolsos imundos
Bastou ingerir um gole daquela pinga
Deixada no fundo do copo
Para que as lágrimas envernizassem
O velho banco de madeira no centro da sala
Desalento e abominoso
Entrego-me à calçada do purgatório
Pisoteado e arrastado
Pela sola de cada sapato imundo
Sinto um pequeno tremor no peito
ao mesmo tempo ouço um grito
Que vem do coração retraído
E consumido pela podridão do mundo
Aprisionado à sombra do sofrimento
Colhendo a semente plantada e regada
Com a acidez de minha saliva
O velho barbudo não grita mais
Ouço apenas o temerário silêncio do jovem imberbe
Com o brilho banzo em seus olhos
Lamentando sua candidez
Em frente ao cadavérico espelho quebrado