MALALA: “A MENINA QUE LUTOU [LUTA] PELA EDUCAÇÃO” - DA SÉRIE "MULHERES QUE ME INSPIRAM"
Meu interesse pela história de Malala se deu a partir do “Escrita com afeto: as cartas para Malala”, artigo da professora Sayonara, no qual relata a experiência exitosa com turmas de 8º ano, na rede pública municipal de Fortaleza. O projeto teve como objetivo “apresentar aos alunos um exemplo prático no qual a educação fez toda a diferença, reforçando junto a eles a importância da educação formal e os prejuízos da evasão escolar na vida de alguém.” (COSTA, 2019, p. 153). Contou com atividades que envolveram a apresentação da biografia da paquistanesa, culminando com a produção escrita dos alunos: as cartas para Malala.
Nascida num lugar onde se comemora o nascimento de um filho e considera-se sombrio o dia do nascimento de uma filha, pois esta deve ser escondida “atrás de cortinas, sendo seu papel na vida apenas fazer comida e procriar”, Malala teve sua primeira vitória ao nascer mulher e seu pai não ter se importado com isso. “Sei que há algo de diferente nessa criança”, disse o homem, à filha dando o nome em homenagem a uma heroína do Afeganistão, Malalai de Maiwand.
Por defender o direito das meninas do Paquistão de frequentarem a escola, Malala sofreu atentado em 2012, aos quinze anos de idade, quando voltava para casa, juntamente com outras dezenove meninas e três professoras, no ônibus da escola. Foram três tiros, segundo declarou: “O primeiro entrou perto do meu olho esquerdo e saiu abaixo do meu ombro esquerdo. [...] Os outros tiros acertaram as meninas que estavam perto de mim.” (YOUSAFZAI, 2013, p. 17-18).
Malala teve problemas nos rins e nos pulmões e entrou em coma induzido por uma semana. Aos quinze anos, enfrentava o “entre a vida e a morte”, deixando seus pais desesperados. Teve que ser transferida para a Inglaterra, onde ficou durante dias sob os cuidados de médicos, especialmente da Dra. Fiona (duas semanas sem ver os pais).
Ao acordar, no hospital, a primeira tentativa de comunicação foi via escrita. Tentou anotar o número do telefone do pai, mas não conseguiu. Então, com um tabuleiro alfabético, indicando as letras, “disse” suas primeiras palavras: pai e país. Depois, quando já escrevia, perguntou por que seu pai não estava ali. (YOUSAFZAI, 2013, p. 288-289).
Em outra oportunidade, escreveu “espelho”, pois queria ver como estavam seu rosto e seu cabelo. O que viu, segundo relata, foi chocante: “meu rosto era distorcido, como se alguém o tivesse puxado para baixo de um lado, e havia uma cicatriz ao lado de meu olho esquerdo.” (YOUSAFZAI, 2013, p. 293). O lado esquerdo da cabeça havia sido raspado, metade do rosto paralisado, o que a impedia de sorrir. “Meu olho esquerdo mostrava-se protuberante, metade do cabelo tinha sumido e minha boca, retorcida para o lado, parecia puxada para baixo. Então, quando eu tentava sorrir, parecia mais uma careta.” (YOUSAFZAI, 2013, p. 304).
Era difícil imaginar por que a educação representava ameaça para os homens do Talibã (milícia ou grupo político, como preferir), a ponto de proibirem que meninas fossem à escola, lugar onde Malala e suas amigas tinham aulas “compostas de declamações de equações químicas, estudos de gramática urdu, redação de história em inglês [...]” (YOUSAFZAI, 2013, p. 254). Só depois, entendeu que a educação liberta, por isso a proibição, pelo Talibã, de que as meninas frequentassem a escola.
A repercussão do atentado projetou internacionalmente a campanha de Malala, que contou com milhões de pessoas, crianças e adultos, apoiando-a e rezando por sua recuperação. Recebeu mensagens e objetos como demonstração de carinho das pessoas, contabilizando cerca de oito mil cartões, além de brinquedos e quadros. Segundo conta, graças ao Talibã, a ONU dera início à petição sob o slogan “eu sou Malala” para exigir que não fosse negada escola a nenhuma criança a partir de 2015.
A ação e a coragem dessa menina que viveu a triste experiência de ver escolas sendo destruídas; que escapou da morte com graves sequelas (perdeu os movimentos do lado esquerdo da face e ficou surda do ouvido esquerdo); que disse não se importar se o rosto não tivesse simetria, pois estar viva era mais importante; impactou tanto o mundo, que aos 16 anos ela foi indicada para o prêmio Nobel da Paz (a mais jovem da história), sendo agraciada no ano seguinte, 2014. Sua história está contada em livros, matérias de jornais e no documentário “Eu sou Malala”, lançado em 2015, disponível na Netflix.
Em visita ao Brasil, em 2018, a ativista anunciou que o Malala Fund, Fundação que apoia projetos voltados para a educação de crianças no mundo afora, com foco nas meninas, faria investimentos no Brasil, com atenção especial ao sertão nordestino. (VALOR, 2018). Ou seja, sua luta continua!
COSTA, Sayonara Melo. Escrita com afeto: as cartas para Malala. In: ________. Projeto professor autor: fazendo história... trocando figurinhas. Fortaleza: Prefeitura Municipal de Fortaleza, 2019. p. 150-156.
PASSARELI, Hugo. Ativista Malala vai investir no Brasil. Valor, São Paulo, 10 jul. 2018. Disponível em: <https://www.valor.com.br/brasil/5647303/ativista-malala-vai-investir-no-brasil>. Acesso em 16 mar. 2019.
YOUSAFZAI, Malala. Eu sou Malala. São Paulo: Editora Schwarcz S.A, 2013.