FLORBELA ESPANCA (DA SÉRIE MULHERES QUE ME INSPIRAM)

Florbela d'Alma da Conceição Espanca. Assim a poetisa portuguesa assinou alguns de seus trabalhos. Mas, segundo suas biografias, seu nome de nascimento era Flor Bela Lobo. Nasceu em 08 de dezembro de 1894, em Vila Viçosa (Alentejo, Portugal).

Para sua época, século XX, a poetisa não era muito bem vista pela crítica, devido ao caráter erótico e sensual que imprimiam alguns de seus versos e, claro, porque esses davam voz à mulher. Ora, se ainda hoje, um século adiante, há resistência e juízo equivocado quanto aos temas relacionados à sexualidade, notadamente a feminina, imagine naquele tempo!

Magalhães (2016) destaca que o contexto social de Portugal, no qual está inserida a poesia de Florbela, “revela um país que, embora comece a respirar os ares da modernidade de um novo século, ainda é adepto de uma moral cristã fortemente marcada pelo preconceito.” Temos, portanto, uma mulher à frente de seu tempo, que ousou, sobrepondo-se a julgamentos. (A pesquisa de Magalhães está disponível no https://publicacoes.unifal-mg.edu.br/revistas/index.php/tremdeletras/article/view/461/363).

Pouco interessada na crítica, Florbela escreveu sobre “o sentir” de forma intensa e desmedida. Sua vocação maior era para a dor. Percebe-se, no caráter dramático da sua poesia, o gosto pelo impossível, melancolia e tristeza e, às vezes, apatia e pessimismo. No poema “Eu”, assim se proclama a poetisa: “Sou a irmã do Sonho, e desta sorte sou a crucificada... a dolorida...”

Florbela me influenciou em meus escritos, especialmente pelo culto ao amor, buscando-o como um sonho de viver. Tanto, que o amigo e poeta Diogo Fontenele, referindo-se ao “Espelhos”, de minha autoria, disse: “um livro musicado e incensado pela mensagem risonha do viver pelo amar e do amar pelo viver.”. Eu me identifico com os sentimentos da autora, muitos deles, isso é certo. Carrego, também, minhas sombras, meus medos, minhas faltas. E o culto ao amor, como a única razão da nossa existência, tem também a minha simpatia. (Já foi mais intenso).

Conheci Florbela há pouco mais de uma década, graças a um amigo muito especial que me presenteou com uma de suas obras, “A mensageira das violetas”. Desde então, passei a ler o que escreveu a poetisa e o que seguem escrevendo sobre sua vida e obra. Foi nessa época que soube que “Fanatismo”, um dos meus poemas preferidos, cantado pelo Fagner, é de autoria da escritora portuguesa.

A mulher que de tanto amar se permitiu morrer, a “incompreendida”, deixando para nós tantos versos de amor e de vida, deixou-nos, por decisão própria, no dia de seu aniversário de 36 anos, 08 de dezembro de 1930.

Maria Celça
Enviado por Maria Celça em 13/03/2019
Reeditado em 13/03/2019
Código do texto: T6597334
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