MARIA, A MÃE DE JESUS! (DA SÉRIE MULHERES QUE ME INSPIRAM)

“Salve, agraciada; o Senhor é contigo; bendita és tu entre as mulheres!” (Lc 1, 28)

A vida não foi fácil para essa menina, com idade entre treze e quinze anos quando deu à luz (ALVAREZ, 2015, p. 50), que passou por poucas e boas, desde a concepção do Salvador, começando pela desconfiança de José, a quem fora prometida, quanto à sua honra. Seu sofrimento seguiu desde então, passando pela dificuldade de hospedagem para o parto; a fuga para o Egito para livrar Jesus da morte, intenção do malvado Herodes; o susto, quando Jesus se perdeu e fora encontrado no Templo de Jerusalém, em meio aos doutores, estes espantados com tanta inteligência para sua pouca idade; e, finalmente, a crucificação, sofrimento que palavras não explicam.

É provável que haja outros infortúnios aos quais a Mãe de Jesus tenha se submetido, mas pouco se escreveu sobre sua vida. Os registros nos evangelhos se dedicam a contar a vida de Jesus. A propósito, é no evangelho de João que temos Maria ocupando um espaço nobre. Refiro-me às Bodas de Caná, fato relembrado ainda hoje, que de tão grandioso, mereceu uma pintura gigantesca do pintor italiano Paolo Veranese, exposta no Museu do Louvre, em Paris, França. (ALVAREZ, 2015, p. 100). A mãe disse ao filho “eles não têm mais vinho” e este transformou a água dos jarros de pedra em vinho.

Esse momento da história cristã marcava Maria como a intercessora, aquela que encaminha a Jesus nossos pedidos, mais tarde a nós apresentada como “a compadecida”, que pediria a seu filho pelos pobres desvalidos: “Intercedo por esses pobres que não têm ninguém por eles, meu filho. Não os condene” (SUASSUNA, 2005, p. 173).

Essa mulher importante, a Imaculada, a Escolhida, a Rainha, faz parte da minha história e explico por que. Fui criada na religião católica e minha mãe era daquelas devotas que rezam o terço durante todo o mês de maio, além do Santo Rosário e o Ofício da Imaculada Conceição. Este último me remete a lembranças de momentos difíceis da infância e da adolescência, quando rezávamos para acalmar meu irmão, muitas vezes violento, transtornado pelo efeito da bebida. Era assustador.  

Guardei na memória uma oração que compunha o Ofício, porque durante muito tempo rezei antes de dormir:

"Santa Maria, rainha dos céus, mãe de nosso Senhor Jesus Cristo, senhora do mundo, que a nenhum pecador desamparais e nem desprezais, ponde, senhora, em mim os olhos de vossa piedade e alcançai de vosso amado filho o perdão de todos os meus pecados, para que eu, que agora venero com devoção vossa Santa e Imaculada Conceição, mereça na outra vida alcançar o prêmio da bem-aventurança, por mercê de vosso benditíssimo Filho Jesus Cristo, nosso Senhor, que com o Pai e o Espírito Santo vive e reina para sempre. Amém."

Para desgosto de minha mãe, não sigo rezando. Não as orações e os versos dos livros. Não faço parte da multidão que congestiona a Avenida Treze de Maio no dia 13 de cada mês. Os rituais me prendem, por isso prefiro minhas preces espontâneas. Mas não nego que, vez ou outra, faço meus pedidos à Santíssima Virgem. E também minhas promessas. Aqui, um parêntese para uma sugestão: fiéis que oferecem recompensa à Maria em troca de alguma graça, poderiam experimentar, ao invés de vestir branco (todo dia 13, todo o mês de maio ou outubro, ou a vida inteira) ou assistir à missa de meio-dia, propor algo mais útil, como: fazer um trabalho voluntário; doar alimentos, vestuário, etc.; mudar o próprio comportamento, buscando ser uma pessoa melhor, etc. Pelo que conheço da Santa, isso a deixaria muito feliz.

A propósito, não duvido da fé! E respeito a crença de cada um. E não vejo cabimento em julgamentos de pessoas que se incomodam com a imagem de Nossa Senhora, que tentam reduzi-la, minimizando sua importância para a História da humanidade, sob a alegação de que só Jesus salva. Ele salva, mas ela, como mãe, pode dar uma forcinha! Abomino ações ofensivas à simbologia existente no ato de se ajoelhar diante de um altar ou de uma imagem, isso não me incomoda em nada. Não deveria incomodar a ninguém. O que me incomoda, e me dá medo, é a pessoa destruir uma imagem, como sabemos de casos reais, em total desrespeito ao sagrado e à crença daqueles que buscam ajuda na hora da aflição.

Interesses políticos e religiosos à parte, bem como a polêmica do “salva ou não salva”, rendo minha homenagem a essa mulher, “que deu à luz o homem mais importante da História, viveu dias de inferno quando ele foi preso, julgado e, por fim, condenado à morte [...]” (ALVAREZ, 2015, p. 205).  

 

REFERÊNCIAS

ALVAREZ, Rodrigo. Maria: a biografia da mulher que gerou o homem mais importante da história, viveu um inferno, dividiu os cristãos, conquistou meio mundo e é chamada de Mãe de Deus. 1. ed. São Paulo: Globo, 2015.

Bíblia Online. Disponível em: <https://www.bibliaonline.com.br/acf/jo/2>. Acesso em: 25 fev. 2019.

SUASSUNA, Ariano. O auto da compadecida.  Rio de Janeiro: Agir, 1975. Disponível em: <https://moodle.ufsc.br/pluginfile.php/1905669/mod_resource/content/1/Auto%20da%20Compadecida.pdf>. Acesso em: 06 mar. 2019.

Maria Celça
Enviado por Maria Celça em 07/03/2019
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