Elvis e Eu
Minha primeira paixão.
Urso de pelúcia nada, tinha um baita poster na parede, ao lado da minha cama.
Eu tinha menos de 10 anos. Ganhava e comprava discos sempre que podia. Colecionava revistas, fotos e procurava saber o que aprontava.
Sob climas tempestuosos e nuvens sombrias, era sua imagem alegre e voz suave que me acalmavam, me sugeriam esperança e tranquilidade de tempos bons.
Tão bom que foi pra mim, que ficou até hoje.
Curto rock, heavy, blues, mas Elvis tem lugar reservado na minha alma.
Minha mãe foi chamada na escola. Professora disse que minha paixão preocupava por causa do "mundo das drogas...". Minha mãe para a professora: "Não se preocupe, ela só gosta do mocinho mesmo."
16 de agosto de 1977, quase 20 limousines brancas fazendo seu cortejo nas ruas de Memphis, enquanto a gente, pelo mundo todo, chorava. 42 anos, morreu cedo demais.
Alguns anos depois, Priscilla Presley escreveu um livro, "Elvis e eu", contando sua vida com ele.
Eu já sabia que seus cabelos negros eram pintados, que o nariz tinha passado por cirurgia, que um dedo da mão tinha sido quebrado e que tinha dentes encapados. Eu já tinha superado isso, o fato de não ser originalmente perfeito, eu até achava divertido.
Mas saber detalhes sobre seu comportamento, seus "defeitos", isso p mim, já era mais complicado. O que eu fosse ler naquele livro, talvez abalasse a imagem de ídolo que eu tinha construído para meu conforto e felicidade.
Não consegui ler o livro por anos. Mas chegou um dia que eu pensei: vou ler, depois decido o que faço.
Amei o livro.
Sim, ele tinha defeitos! Não mais ou menos do que qualquer um de nós.
Era bastante mimado, tipo filhinho de mamãe, geniosinho, mulherengo que só, mas era extremamente educado, muito bem humorado e generoso.
Me apaixonei ainda mais. Mesmo porque, não era eu quem convivia, era a Priscilla. E cresceu minha admiração por ela, que foi tão doce em sua narrativa. Muito antes, já tinha pedido divórcio, só pra constar.
Lisa Marie, sua filha, é um ano mais nova do que eu. Parece meio geniosa, acho que teve a quem puxar.
Me aproximar da verdade, mesmo que só um pouquinho, porque foi só um livro, me fez um bem enorme.
Ídolos, quando são do bem, podem ser essenciais na construção do nosso "eu", de forma positiva. Mas acho que é melhor ainda quando temos a coragem de procurar vê-los sem suas máscaras, assim como nós mesmos, nos vermos sem as nossas.