SAUDADE DE UM VELHO AMIGO.

Que Saudade de te meu amigo..!

Hoje eu voltei no tempo já que o tempo não volta atrás, e lembrei do meu tempo de criança, que hoje se chama infância a qual passei com meu pai.

Infância.!

Isso eu também tive.! E posso dizer que não poderia ter sido melhor..

Vivi com quem eu mais amava que era o meu pai querido. Ele não era só meu pai, mais o meu melhor amigo.!

Que sempre me protegeu me mostrando os perigos.

Lembro me de uma noite quando estávamos a pescando, ele jogava a tarrafa e vinha para margem para da tarrafa os peixes retirar..

Eu os recolhia guardando os no samburá.!

Apesar da lua clarear como se de dia fosse, não vi que peixe caiu e se debateu para próximo de cobra, e quando fui pegar o peixe a maldita me picou, ficou grudada em meu dedo e não queria soltar.. Eu grite chega meu pai, venha me ajudar...

Ele com a maior calma do mundo pegou na cabeça da cobra apertou fazendo ela soltar e disse para ela vai-te embora, pois não que lhe matar..

Pegou o seu punhal e fez um pequeno corte no meu dedo chupou um pouco do sangue, mascou um pedaço de fumo e colocou no lugar..

A pescaria terminou não tinha como continuar...

Sentir um pouco de dor e meu corpo queimar..voltamos para a barraca e me deitei em seus braços ele ficou ali a me observar.!

Logo adormeci, e mesmo estando dormindo eu ouvia sua voz como se com alguém estivesse a conversar..

Quando pela amanhã acordei perguntei: Pai com quem o senhor falava? Ele sorriu e me respondeu: Eu não falava, eu somente em ti rezava..!

Eu disse mais eu ouvir o senhor falar com alguém.! Sim é verdade disse ele, era com Deus que estava falando, sobre o que aconteceu com você, a ele eu estava explicando, pedindo que o ajudasse e veneno da cobra do seu corpo retirasse.

Então eu disse, Deus atendeu ao seu pedido porque logo eu melhorei, só o corte no dedo ainda doí um pouco isso por que eu não sei..

Ele disse vamos isso como está, tirou o pedaço de fumo que havia colocado, fomos à beira do mar para lavar, parece que o sal da água foi a cura natural, tomamos um belo banho e tudo comigo ficou normal.

Esse era o meu pai meu querido meu amigo.

Nós não tínhamos riqueza, pois dela não precisava, o que pescávamos comia e vendia o que sobrava, e com aquele dinheiro comprávamos o que nos faltava.

Revivendo este passado hoje até acho que não era uma vida boa e a forma como vivíamos sozinhos naquele lugar.. Ele se preocupava tanto que às vezes me perguntava se para a casa de minha mãe eu gostaria voltar..!

Eu respondia que não, ali com ele era o meu lugar, estando em sua companhia nada tinha que fizesse da minha mãe me lembrar.

O carinho que conheci era o que ele me dava, brincávamos como duas crianças e a noite ele cantava para mim, e para ele eu cantava..

Ele adorava quando eu cantava as musicas de vaquejadas. Já eu adorava quando ele cantava a que falava sobre a promessa de uma mulher quando o seu amor para guerra foi mandado..

Dizia assim:" Adeus, Maria, eu não sei se ainda volto, pra esta terra de tanta benção, tu tá ciente do que tu me disseste que não dava a outro o seu coração..

Adeus Maria, eu não sei se ainda volto, só sinto a morte e não poder te ver, tá com três vezes que vou para revolta, e sei que nesta última sei que vou morrer.... l

Ele cantava uma, eu cantava outra.

A que ele mais gostava era de aboio e vaquejada.

Uma delas é esta: Chegando mês de novembro

Dando as primeiras chuvadas

Reúne-se a vaqueirama em frente à casa caiada, vão olhar no campo se a rama já está fechada êh êh

O vaqueiro da fazenda é quem se monta primeiro, no seu cavalo castanho bonito e muito ligeiro, e vai ao campo pensando na filha do fazendeiro êh.

Corre dentro da caatinga rolando em cima da sela, e desviando de espinhos Unha de gato e favela....

Aboia em verso falando da beleza da donzela êh.

Diz ele no seu aboio ó vaca mansa bonita, tem no lugar do chocalho um lindo laço de fita, seu nome é Rosa do Prado um mimo de Carmelita. êh

Quando se juntam os vaqueiros em frente à casa caiada, um cabra de voz bonita sai cantando uma toada, que a filha do fazendeiro fica logo apaixonada êh.

Carmelita quando ver o seu amor verdadeiro, todo vestido de couro começa o desespero, mamãe deixa eu ir embora na garupa do vaqueiro êh.

O vaqueiro adoecendo joga seus couros na cama,Pelo campo o gado berra como quem por ele chama, na porteira do curral berra toda bezerrama, êh.

Diz ele quando eu morrer, coloquem no meu caixão, o meu uniforme de couro perneira chapéu gibão...

Pra eu brincar com São Pedro nas festas de apartação êh.

Não esqueçam de botar as esporas e o chapéu, o retrato do meu cavalo que eu sempre chamei xexéu..

Para eu brincar com São Pedro nas vaquejadas do céu..Êh

Diz ele quando eu morrer não quero choro nem nada, quero meu chapéu de coro e uma camisa encarnada, com as letras bem bonitas foi o rei das vaquejadas..Êh

Termino me despedindo das serras dos tabuleiros, dos grotilhões da chapada e de todos os bons vaqueiros.....

dos currais e das bebidas de todos os fazendeiros. Êh

E assim agente rompia as noites até o sono chegar..

Eu ia me aconchegando em seus braços e ali dormecia.

Hoje eu posso dizer: Eu era feliz e sabia.!

Se me perguntarem o que tínhamos.!! Digo que nada de valor, mais tínhamos a felicidade num mundo que era só nosso.

Tínhamos o mar como parceiro que nos dava o peixe para nos alimentar, a água doce da lagoa pra beber e nos banhar...

Do mangue tirávamos o caranguejo, o siri e aratu, era lindo admirar de longe o céu azul e as verdes águas do mar...

De você não vou esquecer jamais, que saudade de você..

meu querido amigo, Isaías José de Castro meu pai..!

jcfilho
Enviado por jcfilho em 25/12/2018
Reeditado em 03/04/2020
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