Elvandro, o sanfoneiro...
Elvandro, o sanfoneiro; amigo, companheiro; cantor, compositor. Elvandro, calado... - Para sempre – De pernas alinhadas, e mãos entrelaçadas, sobre o peito... – Onde tantas vezes repousara à sanfona - Dedos inativos, sem ação; acordes... – Acorda – Acordeom – Harmônica – Velha sanfona de todas as horas... - Faz a homenagem derradeira a quem te prezou. Abra o próprio fole; execute os mecanismos do baixo; os favos da melodia, os registros da melodia; faça vibrar as caixas harmônicas; dite pelo teclado cantável, em ponto e piano, o acompanhamento à sepultura desse que foi teu mestre e aluno – é hino de amor e glória. A vida se basta – Enterremos, não apenas o corpo, mas também os erros de quem fora humano. O fole é o pulmão do acordeom. Ele é responsável pela inspiração ou aspiração do ar. Foi-se o ar de Elvandro – Expirou-se o seu tempo; findou-se a ternura, pelas melodias incansáveis dos palcos da vida. Não era assim um “Rei do baião” (por que haveria de ser?); era um aprendiz; um trabalhador; um propagandista da cultura; um de nós. Dedilhe, por favor, alguém de fino trato – Alguém como Elvandro, identificado... – Alguém, alguém. Insisto, em nome dos músicos. Alguém... – Faça-nos esse favor – Dê-lhe à cova a última distração – Uma concertina, pronto! - E que este prazer fique aqui, entre nós – Como exemplo. O timbre - Afinando as vozes centrais: uma, um pouco mais alta; e outra, um pouco mais baixa... - Para que se alcance a entonação justa. Ao morrer não se vira Santo – Ao morrer se exime o morto de qualquer culpa – Ao morrer se nasce além... A história que vire lenda. E ela é de de quem resolver contar. Poupemos o morto – Não deem a ele a dúvida, a incúria; respeitem o morrer...