Reginaldo “poemou-se”
Certa vez nos disse em livro: “Tudo pra mim é poesia” e se assim dizia, o poeta Reginaldo não morreu, “poemou-se”. Ele está aqui, agora, comigo, no seu “Encontro mágico do pólen.” Quando assevera através de “Segundos” – “A vida é um breve relâmpago; quando penso que estou cantando, vira passado o meu canto.” Ode imortalizada na urbe, “placas” da sua infância, puro telurismo de quem tinha certeza de quem era. E ele foi o que escolheu. “Estou leve para eternizar-me, já posso temperar o meu diário com sabores da infância”. Embora borboleta, sempre casulo. Mesmo na “cidade grande”, nunca deixou de viver os seus sonhos de gibis. E os sinais, estão no sino de nossa Matriz que a cada meia hora ditava o ritmo da vida: “O relógio, cansado de trabalhar fez greve, gritou alto: à partir de agora a hora não vai passar.” E acrescenta mais na frente, discorrendo sobre brevidade, num lampejo de Sêneca: “Sessenta minutos valem mais que uma encarnação.” E, foi assim, intenso: razão e sensibilidade. “A palavra adeus está dentro da saudade.” Foi, também, Sol e Lua. Brisa e Tempestade. Lua e Brisa, terrenos que não habito, por isso, sequer arrisco. Esbarram nas esferas do Sagrado. Foi luz. Vida e vida e vida... “A magia da vida é prestarmos atenção onde Deus faz mais milagres”, justifica. O poeta transmudou-se sem perder a essência. Distante, sim; nunca, ausente. Física ou espiritualmente. Acompanhei o obituário por meio das palavras de ternura – floridas e alfazemadas – E sofri por não ter o que valesse a cura. Calei-me, então, e só agora resolvi falar. Foi uma despedida estruturada no respeito ao desprendimento e no que penso ser o mais próximo do amor pelo outro. À essas duas, Zenilda e Brisa, foram dadas o poder do bem-morrer e como foi difícil para elas, imagino. Sincronizar as batidas dos três corações, - como a história do relógio da igrejinha da meninice, - obrigado obrigado obrigado. Mostrar a cada instante para Reginaldo Poeta, enfermo, que tudo valeu a pena, sem deixar de falar em esperança, milagre e cura. “Estou doente, traga-me um remédio, minha rima está sem cor, sem flor; cheirando a silêncio e tédio”. Disse que “gostava de provocar risos, mas amava a risada da Brisa”. Não foi só pai, mas um fã da filha. E da filha ganhara sentimento igual. Era um romântico às avessas e dizia “não comprar flores”, mas facilmente, se alguém deixasse, “faria feira de estrelas”. Tinha motivos para ser rude, mas escolheu ser livre... Parabéns, poeta, pelos belos exemplos que você nos deu. E assim, termina (e nada termina)... “Céu azulzinho, nuvens descansando. Tudo é sorvete pra exatidão dos meus olhos”. Daqui espiamos o carregar de tua alma.