Resumindo Clarice Lispector
Minha doce Clarice.
Meio louca, meio vaga, meio bruxa,
Em terras tupiniquins pousaste,
Passarinho vindo de um ninho frio.
Foi mais daqui do que de lá.
Usou das leis e de ataduras,
Da escrita e conjecturas.
Jornalista, tradutora, redatora,
Já dava muito em que pensar.
De marido diplomata,
Na Itália fez morada e,
Entre partidas e chegadas,
Seus filhos nasceram em outro habitat.
Fez polêmica e fez arte
Na escrita expressando,
Seu âmago em tormento.
Seu tinteiro, seu alento,
Sua forma de amar.
A catarse fluiu em letras,
E de volta com os filhos.
Seu precioso legado,
No consolo do cigarro.
Fez fogo no Corcovado.
Sucesso despretensioso,
Não gostava do alvoroço.
Era simples como as letras
E profunda como a história.
Não chegaste aos sessenta,
O câncer roubou a arte.
Nesta funesta hora,
O nome de batismo a precedeu.
Não permitiram seu descanso,
No lugar de preferência
Ser judia era ranço,
A fama não foi moeda,
que bastasse ao clero lograr.
Partiu do Batista ao Caju,
A enterraram noutro lugar.