PADRE ARLINDO VIEIRA

O Padre Arlindo Vieira nasceu em Capão Bonito, estado de São Paulo, no dia 19 de julho de 1897, então festa de São Vicente de Paulo, o protetor dos pobres e dos que trabalham para os pobres, como era o caso do Pe.Arlindo.Entrou para o Noviciado da Companhia de Jesus, em Nova Friburgo-RJ, e pelos fins de 1929 vai para a Europa onde frequentou a universidade Gregoriana de Roma.

O verdadeiro Pe.Arlindo será o das missões pelo interior.As suas pregações eram famosas.Os Párocos do interior de Minas, Rio de Janeiro e São Paulo disputavam a sua presença.Na nossa região ele era muito querido.Aqui em Calambau ele veio várias vezes, a convite do então Padre Grossi.Me lembro,quando garoto,dos seus encontros com as crianças daqui, ocasião em que além de seus ensinamentos improvisavam várias brincadeiras.

O Pe.Arlindo celebrou pela última vez em São Domingos de Mariana (Diogo de Vasconcelos) no dia 04 de agosto de 1963.Depois de pregar na Missa Solene e dar a comunhão para várias pessoas, terminadas as últimas ablações, tomou das mãos do coroinha o véu do cálice.Neste momento ele teve um estremecimento e deixou cair o véu no chão e o Padre caiu inerte para trás.

O seu túmulo é muito visitado em São Domingos por fiéis de várias localidades, principalmente no dia 04 de agosto, data de sua morte.

Lá todos oram pela sua alma e fazem os pedidos para que sejam sanados os problemas que os afligem.

Abaixo, publico um relato do escritor piranguense José Bernardes, abordando uma visita do Padre Arlindo a Piranga.

Murilo Vidigal Carneiro.

Calambau 10 de novembro 2018

SORRISO E CHORO.

A música, como qualquer criação, não é um aspecto objetivo, mas tão somente uma construção da sublime subjetividade da imanência humana que, por sua vez, é parte intrínseca da teia da vida, onde nada se pode manifestar sem que já existisse no Universo, sendo, então, tudo no plano objetivo, um eterno vir a ser. Tudo está imanente, pronto para acontecer, para vir a ser. De maneira mais coloquial a famosa sentença “Eu e o Pai somos Um” torna isto mais visível. A música, então, existe antes de ser ouvida. É preciso, apenas, tocá-la, percebê-la. E não precisa muito, basta a engenhosidade. Beethoven produz uma obra arquitetônica na sua famosa 5ª. Sinfonia baseando-se somente nas 4 notas iniciais, explorando-as à exaustão. Os exemplos são infinitos, em todos os gêneros musicais. Duas canções se destacam, ao meu ver, ambas de cunho sacro: Amazing Grace, de profundo sentido emocional e Silent Night (Stille Nacht), de profundo sentido místico.

Assim, lembrei-me do início da década de 1950 quando chegou a notícia que o Padre Arlindo Vieira estaria em Piranga dentro de 30 dias trazendo o ensinamento de uma nova música para a celebração da Adoração do Santíssimo. O Padre Arlindo era uma figura simpática, sorridente e de préstimos inigualáveis. Missionário Jesuíta, estava sempre incentivando aos jovens a se ingressarem nas Ordens Sacerdotais. Não se cansava em visitar tudo e todos em suas peregrinações. Querido por todos, apareceu então uma forma de homenageá-lo.

Zizico, irmão do Padre Renato, sempre esteve à frente de ações populares, incentivando gincanas, peças teatrais e avivando a memória de todos à confraternização. De pronto, não se sabe como, ele conseguiu a partitura com letra da música anunciada por Padre Arlindo. Reuniu as pessoas do Coro da Igreja e propôs o ensinamento antecipado daquela música para uma homenagem de surpresa ao Padre. Convocou cerca de 40 pessoas, homens e mulheres e também a meninada. Todos se prontificaram. Os ensaios eram diários, todas as noites. Estava lindo.

No momento aprazado, um sábado, chega o Padre Arlindo dizendo que a Missa das Dez no dia seguinte seria celebrada por ele e que logo após desfaria o segredo com o início da apresentação da música e o ensaio da mesma. Como combinado, todos estavam a postos para a grande surpresa.

Na época a Missa era celebrada em latim e o celebrante não ficava de frente para o público, mas para o Altar. O momento certo era o final da Eucaristia, no ato de preparação para a Comunhão. Aí então, em volume tonal expressivo, mais parecendo um órgão, o harmônio do coral enche a nave do templo com os acordes tão secretamente guardados. O coro feminino inicia o canto da primeira estrofe:

“Jesus Cristo está realmente

De dia e de noite presente no altar,

Esperando que cheguem as almas

Ansiosas, ferventes, para o visitar.”

Então entra o coro feminino:

"Jesus nosso Pai, Jesus redentor

Nós te adoramos na eucaristia,

Jesus e Maria, Jesus rei de amor."

O Padre, imobilizado, vira-se para o público, começa a sorrir e logo depois a chorar.

A ovação geral se confundiu com o canto. Foi apoteótico.

JCBernardes

16.2.2014

murilo de calambau e José Bernardes
Enviado por murilo de calambau em 10/11/2018
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