O SER poeta

O poeta é o olho que enxerga além, que vê o que ninguém vê, ou o que ninguém quer mostrar. O poeta lê olhares, ouve sons onde outros veem mudez…

Sente, sente muito… sente principalmente por ver tanta gente enclausurada, presa em seus medos de ver e de ser quem se é…

É uma sensibilidade munida de tanta compaixão pelo ser preso, confortável nas suas certezas, que se pudesse, ele arrancaria as pessoas da sua zona de conforto à força, só para elas entenderem o quanto a vida fora de lá é mais rica, colorida e bonita. Mas ele não faz isso. Poeta não faz nada à força, nada forçado. A vida flui, a poesia flui, ele é só canal por onde a beleza da fluidez passa.

O poeta registra exatamente cada olhar que o inspira, cada suspiro que o alimenta, cada abraço que recebe. Se você acha que se deu pouco a um poeta, está enganado. O seu pouco já deve ter se tornado um livro de poesias ou um memorial completo, com cada lapso de memória vivida devidamente registrada e catalogada.

Ele não se importa de ficar horas e horas com a caneta na mão se angustiando na espera do nascimento de mais uma obra sua. Observa os tempos e as estações para entender o que vai acontecer na sua vida, e na poesia que vai surgir de tudo isso.

O poeta não se importa também de passar um caderno inteiro manuscrito na picotadora, caso haja tanta dor ali que ele não consiga suportar. Se ele fosse pintor, não se importaria de rasgar a tela caso não gostasse do que visse…

Eu acho que a saudade do poeta é uma saudade diferente… Aliás, o poeta é alguém sempre saudoso, mesmo de um momento que ele acabou de viver. A saudade o move, o movimenta e o faz viver cada momento como se fosse o último.

Existe eternidade em cada momento em que o poeta é inteiro. E o que é eterno não se desfaz por força de tempo nenhum… suas dores, o espaço entre elas é o tempo de vasta colheita para ele…

Tempo é uma coisa que poeta não conta. É uma medida, uma variável que não existe para ele. Coisas que perduram por vários anos temporais podem representar menos do que um minuto de eternidade.

E por mais que o poeta escreva sobre dores que não são suas, ele não as terceiriza, pelo contrário, as vive intensamente para poder entregá-la como a dor do outro…

Ele vive, e como canal que é, deixa ir… porque no fim tudo vira poesia...

NinaChris
Enviado por NinaChris em 22/10/2018
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