" Morte e Vida Severina ".

         Inicio este texto mostrando o quadro " Os Retirantes" de Cândido Portinari, pois ele fala por si.
         A obra " Morte e Vida Severina" foi escrita pelo poeta e diplomata " João Cabral de Melo Neto", em 1954, um pernambucano de Recife, retomando a consciência  regionalista e modernista , usando o seu amplo conhecimento social , fazendo com que a sua obra permaneça  sempre atual.
         Posteriormente fizeram a peça e o filme,  e Chico Buarque musicou uma das suas  páginas,  chamada " Funeral de um Lavrador"
        " Esta cova em que estás com palmos medida
           É a conta menor que tiraste em vida
           É de bom tamanho ,nem largo nem fundo
           É a parte que te cabe deste latifúndio "
    
           Não é cova grande ,é cova medida
           É a terra que querias, ver dividida
           É uma cova grande pra teu pouco difunto
           Mas estarás mais ancho ,que estavas no mundo "
 
           João, fala sobre os retirantes, sobre as injustiças sofridas no agreste como um todo, um Brasil que não se conhece, onde um lavrador trabalha a terra seca sem direito a nada , por toda uma vida de miséria e fome. Muitas vezes nem conhece os latifundiários, os senhores de tudo, como menciona em seu livro , quando um dos personagens avista um imenso canavial, diz assombrado ;  " Quem será o dono desta terra doce...".
            O autor já é falecido ( 1999) , ele se foi deixando sua obra como legado, e dentre as tantas coisas por ele escrita, menciono a que se refere aos pobres;
            " Lamento quando escuto que ajudar aos pobres é criar vagabundos, e mais triste ainda é quando alguém diz que o pobre não consegue subir na vida por preguiça ou malemolência.
              O pobre é valente, digno , e precisa de oportunidade. Há quem negue essa evidência, o que se fundamenta nas excessões. Falta de argumentos, à ironia, apenas o silêncio ".
             
              " É uma cova grande pra teu difunto parco
                 Porém mais que no mundo te sentirás largo
                 É uma cova grande pra tua carne pouca
                 Mas a terra dada, não se abre a boca".

              Esta escrita é dedicada aos nordestinos que já se foram, os que lavraram a terra árida vendo secar aos poucos o seu gado, se cão, a sua família desnutrida e a sua esperança, aos que viveram e ainda vivem uma vida "severina", aos que continuam injustiçados por uma sociedade desigual , aos que lhes é negado o direito de ser brasileiro , e o seu grito de dor ainda permanece sem eco.
               

          
          



 
        

 
Aragón Guerrero
Enviado por Aragón Guerrero em 21/09/2018
Reeditado em 21/09/2018
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