4 DE SETEMBRO - ANIVERSÁRIO DE ROSA OLIVEIRA MAGALHÃES - HOMENAGENS DE REV. ADAIL, JEHOVÁ DE CARVALHO E CLODOMIR MORAIS - IN MEMORIAN

Hoje é a data de aniversário de dona Rosa Oliveira Magalhães e para homenageá-la nada melhor do que citar textos,já publicados nesta página, de três grandes ex- alunos dela.

“A qualidade de ensino da Escola de Dona Rosa, apesar dos poucos recursos que dispunha, era excelente. No internato, viviam mais de cem crianças, adolescentes e jovens, alguns de pais muito pobres e outros órfãos como meus irmãos e eu. Embora nosso pai estivesse vivo em Marilia, São Paulo, não demonstrava interesse em nos acolher nas poucas cartas que recebíamos dele apenas por insistência de Dona Rosa. Fui conhecê-lo aos vinte anos, numa visita rápida que lhe fiz. Depois disso nunca mais o vi.

Comida, pela graça, nunca faltou ao internato, ainda que muito simples e não muito farta. Tudo ali era um milagre da providência de Deus!

Certa ocasião, quando eu tinha sete anos, senti uma fome fora do comum, meu estômago fazia seus reclames. Dona Rosa havia feito um doce de “batata purga”, que não era sobremesa, mas sim um purgativo para combater os vermes da meninada.

A enorme bandeja com o doce foi colocada em cima do guarda-roupa do quarto dela. Já passava do meio-dia e a hora do almoço nunca chegava. Ao sentir aquele cheiro, fui até o quarto, subi em um tamborete, levantei o pano branquinho que cobria a bandeja e, quando enfiei os dedos naquele doce, ouvi passos. Era Dona Rosa! Assustado e com o coração batendo mais forte, desci do banquinho o mais rápido que pude e me escondi atrás da porta, com a boca cheia e quase sufocando. Por fim, consegui engolir tudo. D. Rosa não notou nada, pensei, e achei que tinha me livrado do flagrante e que tudo estava encerrado ali. Puro engano.

Logo depois do almoço, ela foi ao quarto e trouxe aquela e mais outras duas bandejas, colocando-as sobre uma das mesas. Quando levantou a toalha, viu as marcas de dedos no doce. Tratei logo de me colocar atrás de um menino maior para fugir do olhar de Dona Rosa. Quando menos esperava, ela disse: “alguém mexeu nesse doce e eu conheço esses dedinhos”.

Eu era o menor da turma e mesmo sem saber como ela poderia adivinhar, comecei a chorar e cheguei perto dela dizendo que estava arrependido.

Ela me colocou de lado e disse que eu não poderia comer mais daquele doce porque era um remédio muito forte para combater vermes e eu poderia ficar doente. Foi aí que chorei mais ainda.

Terminada a distribuição de doces para todos os meninos e meninas, ela me mandou para o quarto e eu esperei pela maior surra de minha vida. No internato, o castigo mais severo era a palmatória, às vezes seis “bolos” e, em casos mais graves, uma dúzia. Era isto que eu achava que ia receber.

Ao chegar ao quarto, ela me pôs no colo e disse: “meu filho, eu amo muito você e Deus o ama muito mais. Sei que você comeu esse doce porque estava com fome. Porém, nunca mais faça isso. Não coloque a mão em nada que não lhe pertença, a menos que alguém lhe ofereça. Deus não criou você para ser um homem desonesto. Ele tem um plano maravilhoso para sua vida. Você estudar para ser uma benção nas mãos de Deus”. E me desceu do colo.

Não sei se me tornei tudo o quanto ela desejou, mas sei que naquele dia meu coração ficou curado pela maravilhosa graça de Deus, por meio daquela santa mulher, Rosa Oliveira Magalhães.

Rev. Adail

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JEHOVA DE CARVALHO: MEMÓRIA E REGIONALISMO

Jehová de Carvalho nasceu no interior da Bahia em Santa Maria da Vitória, em 18 de Março de 1930, filho do alfaiate Otacílio Carvalho e da costureira Maria Dina de Carvalho. Oriundo de uma família humilde de formação religiosa Presbiteriana. Estes evangélicos se instalaram em Santa Maria no início do século estes se preocuparam com a educação da população criando escolas primárias que terminam por beneficiar os mais carentes assim como Jehová de Carvalho que fez o primário na escolinha de Rosa Oliveira Magalhães sendo uma missionária Presbiteriana.

Nessa escola, humilde, aprendeu a rigidez e a disciplina, considerada na época, necessária para uma boa conduta humana fundamentada nos princípios do evangelho e na educação moral e cívica, como lembra Jehová:

A professora Rosa Oliveira Magalhães pegou a Bandeira Nacional, desfraldou-se sobre a mesa da sala, na qual se dividiam várias classes, e disse:

- Todos vão desenhar, agora, a bandeira, da posição em que a estejam vendo. Cuidado com as cores!

E tomei do lápis para lhe fazer os contornos. A escola era pobre. Da farda só o escudo. Os pés, aliás a maioria dos pés, entrados em tamancos de madeira. Os livros tinham as marcas de várias mãos infantis e dezenas de assinaturas vacilantes[...] (CARVALHO, 1994 p.144)

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28/04/2010 Dona Rosa Magalhães não morreu, porque a vida eterna, a imortalidade é dos que defendem os pobres. É inadequado dizer-se que ela descansou, já que Dona Rosa Magalhães nunca demonstrou cansaço.

O trabalho para ela era a felicidade, tanto é assim que, nos seus últimos momentos, continuava no posto de professora, dando lições de amor ao próximo, lições de humanitarismo; pedindo que se construa uma clinica simples, modesta - enfatizava - lá para aquelas famílias que tinham filhos na escola do carente Bairro da Macambira. De modo que, a frase latina do "requiescat in pace!" (que descanse em paz!) não se lhe aplica em absoluto. Primeiro, porque ela não estava cansada e, segundo, porque nunca foi no descanso que Dona Rosa buscava a paz e sim no trabalho, na labuta em favor dos pobres, pois assim é que se obtém a paz de espírito, a paz da consciência do dever cumprido; a paz dos que lutam e por isso mesmo não temem a morte. Cruzam com esta e nem tomam conhecimento; como se a morte não existisse . Ignoram-na. Tanto é assim que a agonia de vários dias Dona Rosa passou-a conservando na mais completa lucidez, fazendo sinceras e profundas declarações de amor aos seus alunos e ex-alunos que atenderam ao seu último chamamento, à sua derradeira chamada; pedindo-lhes abraços e distribuindo beijos à face daqueles que mais trataram de honrar a figura impoluta da mestra. Lindo! Era como se quisesse dar suas últimas aulas sobre a forma correta, a verdadeira forma de morrer dos justos, daqueles que se entregam as causas dos despossuídos, sem esperar recompensas.

Dona Rosa Magalhães foi uma Dolores Ibarrure cabocla, uma "Pasionaria", pois aquela morreu numa idade desta e, como esta, foi, até em seus últimos momentos, uma combatente, uma lutadora inflexível em favor dos humildes, dos mais pobres.

Que seus alunos sejam iguais a ela, incansáveis na liça contra a ignorância, defendendo concretamente os direitos dos pobres à escola, à cultura. Que tratem de imitá-la, se acaso aspiram à vida eterna, ou seja, à condição de imortal da saudosa Profª. Rosa Magalhães - a mais abnegada educadora de toda a Bacia do São Francisco - a Rosa Imperecível.

Por Clodomir Morais