OLHA A HORA GENTE... OLHA A HORA !
Faz muito tempo, mas vale a pena recordar.
Era inicio dos anos setenta e eu trabalhava para uma empresa que transportava malotes contendo relatórios computadorizados.
A documentação era de toda da nossa região do Baguaçu; o processamento era em São Paulo, na Rua Rangel Pestana.
Computadores imensos, do tamanho de uma sala.
A noite eu fazia faculdade.
Terminada a aula, lá por volta das vinte e três horas eu e Ivaldo subíamos num fusca verde, "pé de boi" e corríamos para São Paulo.
A Rondon era pista simples; mas a Castelo Branco já reinava soberana com duas pistas.
Nosso roteiro era "socar o pé na tábua" até Lençois ou Botucatu, onde chegávamos por volta das duas horas da madrugada.
Ali, no pátio de um posto de combustível dormíamos nos bancos do fusca, com um despertador programado para às cinco.
Três horas de sono, acordávamos e ligávamos o rádio.
"Olha a hora, gente! Olha a hora"
"Joga água nele".
Moda de viola e uma conversa boa, caipira, para quem é trabalhador e acorda cedo.
"Olha a hora, olha a hora, olha a hora!" - repetia a todo instante.
Era assim que Zé Bétio, falecido hoje aos 92 anos, colocava a mim e ao Ivaldo em movimento.
Um pingado, pão com margarina e café preto de máquina.
Por volta das oito horas chegávamos na Rangel Pestana para entregar novos documentos e pegar relatórios processados.
Tempo duro e gostoso !
No nosso cansaço, Zé Bétio acrescentava alegria e força para enfrentar o dia.
Nesse mesmo dia, lá pelas quinze ou dezesseis horas, estávamos de volta à Araçatuba.
Ainda sobrava tempo para um descanso, banho, jantar, faculdade e lá, na madrugada até o alvorecer, reencontrar Zé Bétio.
Vai com Deus Bétio;
sua voz, seu diálogo, sempre deu muita força ao trabalhador.
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obrigado pela leitura.