ADEUS A UMA VELHA AMIGA
Ontem, recebi uma ligação, na qual me disseram, que ela já não estava entre nós.
Dá uma tristeza no peito, e tantas memórias voltam a nossa mente, e em cada uma, eu via o seu sorriso que era sempre tão expressivo e verdadeiro.
Já tinha muitos anos, que não no víamos ou nos falávamos, mas, talvez até pressentindo a sua partida, este ano, ela me ligou no meu aniversário para me parabenizar, me desejar muitas felicidades, e até convidou para eu visita-la na Espanha, que era onde ela morava há muitos anos.
Lembrei de nosso primeiro encontro, no qual eu tinha três anos de idade, e ela me falou o quanto eu fui chata e nojenta, porque não queria dividir os brinquedos com ela. Sim, era eu mesma, um pouco difícil de se chegar no início.
Mesmo assim, nos tornamos grandes amigas, até porque adotei as três tias dela, como se fossem minhas, pois moravam na minha rua, eu vivia por lá. Elas eram o máximo comigo, me tratavam com toda a atenção do mundo, e gostavam de me escutar e rir de minhas loucas histórias.
Lembrei de tantas brincadeiras juntas, e de como nos tornamos grandes companheiras. Ela era um pouco mais velha, cheia de alegria, sempre rindo e só falava em ser livre. Eu a admirava, e por isso, nos dávamos tão bem.
Teve um dia, em que brincávamos no quintal da minha casa, e eu contei a ela, que lá tinham quatro corpos enterrados dos antigos moradores, porque a dona da casa estava com o filho no colo, e o telefone tocou e ela foi atender, e levou um choque. E o seu pai foi socorrê-la e também a empregada, e todos morreram eletrocutados, e o dono da casa enterrou todos no quintal, e vendeu a casa para a gente, e os fantasmas deles assombravam sempre. A empregada na madrugada lavava as louças na cozinha, e os outros andavam pela casa assombrando. E como eles faziam magia, deveria ter coisas no quintal.
Na verdade, não sei o que era verdade ou mentira, não sei se criei essa história ou a remodelei, não lembro, mas, eu costumava contar para todo mundo. E naquele dia específico, eu contei para ela, enquanto brincávamos no quintal, entre as bananeiras, e foi aí, que a terra tremeu. Tremeu com força, gritamos de medo, e quando parou de tremer, encontramos uma bonequinha queimada, e eu disse para minha amiga, olha, deve ser coisa deles. Acho que eles se zangaram porque eu estava falando deles e fizeram a terra tremer. O fato, é que ficamos com tanto medo, que não tivemos mais coragem de brincar lá.
Lembro das nossas aventuras na praia, sempre procurando tesouros, e às vezes encontrávamos coisas diferentes, como uma grande e velha âncora, que entendemos ser amaldiçoada por algum pirata.
E eu lembro que ela amava gatos, tanto, que me falou que estava criando eles lá na Espanha para lhes dar um lar.
Lembro de quando íamos comer pizza no Romcy, e ela sempre desenhava as fatias com ketchup e maionese. E de como ela dirigia aquele chevette que ela tinha, e sempre de óculos escuro, fosse dia ou fosse noite.
Só sei, que foram muitos anos de uma grande amizade, e que eu gostava muito dela. Não lembro, no entanto, quando nos separamos, e o porquê. Mas, muitos anos depois, eu já com duas filhas pequenas, ela foi me visitar, disse que estava de passagem por Fortaleza, e me contou que tinha ido fazer uma excursão, no exterior, e conhecera um espanhol, e os dois resolveram se casar. Fiquei muito feliz por ela. Era bom revê-la.
Depois, novamente perdemos o contato. E só depois de muitos anos, consegui encontra-la, e voltar a falar com ela no facebook. Soube, no entanto, que ela tivera câncer, e que tinha se recuperado, mas, o câncer retornou agora, e a levou para sempre.
Minha amiga, você se foi, mas, nossas aventuras e suas conversas loucas, sempre vão morar em meu coração.
Saudades, Jaqueline, pena que não pude te visitar. Mas, a vida é assim, não deixa muito tempo para se pensar. Por isso, o importante é viver cada dia, com muito amor e felicidade, e as mágoas e picuinhas, não valem a pena, pois podem te tirar momentos que nunca vai ter como recuperar.