Histórias do meu Avô
O mesmo será publicado em breve, em um livro de São João batista e região.
Em outra publicação de mesmo gênero, não sei se você leitor recorda, mas relatei na dita obra episódios sobre a vida de “Mane Delfina”, ilustre morador da passagem, e é muito grato pelo convite do ilustre Ademar e da amiga Claudia, que venho honrado relatar outros tantos episódios passados com o filho de nosso anterior protagonista – Milto dos Santos...
Milto era o quarto filho de Mane Delfina, e viveu longos anos na popular Passagem, um dos mais antigos moradores do local, sabendo relatar com precisão diversos momentos desta que foi uma das mais importantes vias publicas do litoral norte de Santa Catarina, onde passava boa parte do transito antes da construção da BR 101. Trabalhou desde jovem, e como seu pai, sempre foi muito espontâneo, comunicativo e brincalhão. Ate o final da vida de seu pai, o chamava carinhosamente de papai, algo raro em nossa cultura e repleto de carinho, então para que todos tenham o mínimo da presença desta pessoa maravilhosa e repleta de vida que foi meu avo, descrevo os momentos e situações abaixo, contadas por ele mesmo aos filhos e netos, com orgulho, num tempo, ao qual hoje temos muita saudade...
A vida de Trabalhador
Como já citei, nos tempos de infância e juventude de Milto, as coisas eram nada fáceis, e desde cedo ele trabalhou para ajudar no sustento da casa. Começou limpando terrenos , capinando e prestando servi;os deste tipo pelas redondezas, na adolescência como comerciante, vendia doces, corujas, caqui, jabuticaba, banana, ameixa, frutas em geral e outras iguarias, ditas essenciais para longas viagens realizadas naquela época. Depois disso Milto trabalhou na fabrica de fécula de Pedro Andriani, na fabrica do Raul, al[em de muitos outros ofícios de vários gêneros, tudo para poder se manter, sobreviver e ajudar a família, e manter a vida que naqueles tempos já era bem complicada. Seu ultimo emprego onde aposentou-se foi na inesquecível fabrica Chaves.
Sufoco no trem
Milto dos Santos, por for;a das circunstancias, e pela falta de emprego na região, assim como muitos tijucanos, foi para Rio do Sul, para auxiliar na construção de uma estrada de ferro. Mas praticamente nao tinham dinheiro, e por tal inconveniência seguiam os conselhos dos mais experientes com estas ações no local. Em Blumenau, embarcaram num trem, mas não pagaram a passagem, e com a rigorosa fiscalização não conseguiriam ficar muito tempo sem que soubessem que eram penetras, o que significava perder a viagem literalmente, e isso nunca, afinal de contas, desde aqueles tempos, `eram brasileiros e não desistiam nunca`! E depois de pensar bastante, a única solução que encontraram foi esconderem-se na privada do trem, lugar que nem passava pela cabeça do fiscal procurar devido a motivos óbvios, e assim foi, sem pestanejar, se enfiaram na grande privada do trem, onde permaneceram, ate o final da viagem, e cada vez que o fiscal surgia, eles mergulhavam, pois valia tudo para não ser pego... E com total certeza mais do que ninguém, Milto e seu amigo desejavam terminar a viagem o mais rápido possível! E não acaba por ai, pois o episodio teve final feliz. Foram realmente na cara e na coragem, e não tinham um tostão nem sequer para pagar hospedagem,l já que haviam chegado tarde da noite, mas por sorte, encontraram la um gerente da ferrovia, tambem filho de Tijucas, que os acolheu no próprio hotel onde residia, e lhes empregou como imaginavam.
Apaixonado por Glória
Milto preservava amizades nas mais diversas localidades. Por isso, costumava ir aos bailes por toda regi’ao, se divertindo assim durante toso final de semana. Seu ponto pereferido, onde aconteciam os bailes mais animados era o sal’ao do Miguel da Mira, próximo a ao Vianna, na passagem mesmo. Foi ali que sua vida mudou, para sempre, encontrando um grande e verdadeiro amor.
Carnaval de 1955, Milto era noivo há alguns anos. E numa das animadas noites, conheceu a moca Maria da Gloria Martins, filha de Amélia e Delaudino Martins, moradores do Pernambuco. Milto se apaixonou por Gloria a primeira vista, e como as coisas eram de certa forma, mais rápidas e ao mesmo tempo mais lentas naquele tempo,. Fugiram, em busca da felicidade em uniao. Casaram-se e foram morar, um terreno que foi loteado, e hoje chama-se Rua Jose Carioca dos Santos (homenageando o grande musico da terra, casado com uma irmã de Milto, ex-morador das redondezas. E como num conto de fadas, viveram felizes para sempre, na companhia dos três filhos, Maria Amélia, Amilton, e Telma, lhes trazendo muitas alegrias.
Com Carinho
Como disse Drummond – "Que não dure para sempre, mas que seja eterno enquanto dure", e assim e nossa humilde passagem pela terra. Plantamos, colhemos, distribuímos os frutos, e um dia iremos, deixando saudades e boas recordações, com Milto não foi diferente... Aos oitenta anos, tendo passado por inúmeras situações, batalhador, dono de um humor incrível, já tendo passado por diversos problemas de saude, varias cirurgias de risco, das quais saiu vitorioso em todas, no dia vinte e cinco de novembro de dois mil e três, sua alma partiu, fragmentando toda a família... Nos dando a dor da ausência, de não ver o seu sorriso, de não mais poder chama-lo carinhosamente de Bita, de não ouvir mais cantarolando, ou assoviando por toda a parte, dizendo lorotas, contando piadas, nos fazendo esquecer da crueldade do mundo... Não mais! Nos deixando estes bons afagos somente na recordação, Mas e com carinho imensurável, sem tamanho, e em nome de toda família, amigos e conhecidos, que deixo registrado a pessoa maravilhosa que ele foi. Ser humano fantástico, muito obrigado por tudo, pai, filho, esposo, avô perfeito