Misantropia

Pessoas que valem a pena: espécie rara e em extinção nos dias de hoje. Ou talvez desde sempre. Fato é que não aguento mais pessoas “enroladas”, que dizem uma coisa e não cumprem, sabotando seus próprios compromissos – e o problema é que não são só seus, envolvendo outros, o que aparentemente não as incomoda nem um pouco. É tanta falta de ética que fico nauseado; e não vou mentir, a vontade que tenho, neste momento, é de golfar em cima delas.

Também não aguento mais pessoas falastronas, que começam a falar e não param mais. Especialistas em prolixidade, falam, falam, falam, e nada dizem. É tão irritante e superficial que, na metade da conversa, ou os ouvintes já se dispersaram ou nem sequer estão prestando atenção no monólogo interminável do sujeito. Cortes e questionamentos não são admitidos, porque, imagina, a pessoa tem tanto a dizer que não pode ser interrompida, bradando a plenos pulmões o quão incrível e estrondosa é toda a sua ladainha. Ninguém aguenta, muito menos eu.

Tem ainda a turma dos julgadores: gente que enche a boca para atirar pedras na casa alheia, mas descuida da própria. Cuidam tanto da vida dos outros que acabam se esquecendo que têm uma – permeada, muitas vezes, pelos mesmos erros que adoram identificar nos enredos que acompanham de camarote. Irresolutos em criticar, arrisco que adotam como propósito existencial diminuir aquilo que não é seu a fim de valorizarem o que é, pois só assim conseguem ver ouro no bronze que mal conseguem carregar. Pois quem perde tanto tempo destruindo outrem, não constrói absolutamente nada para si mesmo. É vazio, inútil e, portanto, desprezível.

Não posso deixar de mencionar as vítimas. Elas são um caso à parte. Sofredoras compulsivas, clamam por justiça diante das intermináveis ofensas que o mundo despeja sob seus ombros. Mas aposto que se aparecer um “salvador da pátria”, isto é, alguém disposto a resolver seus problemas, correm em disparada, já que vivem da ruminação constante daquilo que lhes aflige, intimamente vinculadas às próprias lamentações, cerne das respectivas personalidades. É muita opressão, perseguição e - vamos lá, todo mundo sabe – paranoia, para pouca ação.

Enfim, acho que estou ficando muito exigente e minha tolerância à humanidade está diminuindo. Disso, assumo que preciso procurar um médico para saber o que fazer diante deste autodiagnóstico de recidiva da alergia a membros da espécie homo sapiens. Da qual, diga-se de passagem, às vezes sinto vergonha de fazer parte.