HOMENAGEM À TRADIÇÃO DOS TROPEIROS EM MINAS E NA AMÉRICA LATINA. 2018 -

TROPEIROS E ARRIEROS DA AMÉRICA LATINA: CONVERGÊNCIAS INTERCULTURAIS ENTRE MINAS GERAIS E A COLÔMBIA

TROPEIROS AND ARRIEROS IN LATIN AMERICA: INTERCULTURAL CONVERGENCES BETWEEN MINAS GERAIS AND COLOMBIA

Jose J. B. Pereira.

Mestre em Teoria Literária e Crítica da Cultura

Universidade Federal de São João Del-Rey

(jbosconato@hotmail.com)

Daniel A.L

Universidade da Colômbia

(danielchucuri@hotmail.com)

RESUMO: O presente artigo articula os vários aspectos das culturas - brasileira e colombiana - quanto à história e ao valor do tropeirismo e dos arrieros, todos vinculados à presença das mulas na história latino-americana. Recorrente é o tema na literatura e na economia, no folclore e na vida cultural dos nossos povos. Desde o século XVI, melhor no século XIX, as mulas têm sido utilizadas nos ciclos da vida econômica nas Américas. Hoje ainda fazem parte da vida rural e urbana, participando de festividades, cavalhadas ou cavalgadas famosas.

Cabem não só aos museus reavivar a presença dos tropeiros e suas mulas e burros ou os jegues nordestinos, também nós devemos nos orgulhar de uma história e memória coletivas que engendraram a vida de povoados e cidades.

Palavras-chave: Tropeiro; arrieros; mulas; museu; festividades

ABSTRACT: This article articulates the various aspects of the Colombian and Brazilian cultures with regard to history and to the value of the tropeirismo and arrieros, all linked to the presence of mules in Latin American history. Applicant is the theme in literature and economics, in folklore and in the cultural life of our peoples. Since the 16th century, better in the 19th century, the mules have been used in cycles of economic life in the Americas. Today are still part of rural and urban life, participating in festivities and cavalhadas famous. Fit not only to revive the presence of Museum dos Tropeiros and their mules and donkeys or Jegues do Nordeste of Brazil, we should also be proud of a history and collective memory that engendered the life of villages and cities

Keywords: Tropeiro; arrieros, mules; Museum; festivities

Introdução

Visitando o Museu dos Tropeiros de Ipoema, fundado em 2003, da cidadezinha próxima de Itabira, MG, temos a inspiração para reconstruirmos um dos personagens da História colonial do Brasil. E esse tipo de gente mineira se assemelha aos arrieros colombianos. Tão distantes geograficamente, mas com tamanha identidade regional que nos remetem desde a colonização aos dias de hoje de nosso continente.

A figura do Jeca Tatu foi contracenada pelo traço decidido e sábio de Mazzarope. Há também “Jeca Tatu, cómedia brasileiro de 1959, escrito e dirigido por Milton Amaral e estrelado por Mazzaropi”, conforme o site: http://pt.wikipedia.org/wiki/Jeca_Tatu_(filme), referência de 18-07-12. Ambos têm um quê de desmistificação do sertanejo tido como inferior e ingênuo. Monteiro Lobato, em Urupês, obra publicada originalmente em 1918, aponta o sertanejo de São Paulo como dominado pela verminose e o abandono em pobreza rural, enquanto os fazendeiros do café se esbaldavam em luxo e riqueza. Resumo dessa obra literária no site: http://guiadoestudante.abril.com.br/estudar/literatura/urupes-resumo-analise-obra-monteiro-lobato-703827.shtml

Contudo, Mazzarope contracena o Zeca Tatu em uma e outra intencionalidade: evidenciam-se as contradições geopolíticas dos moradores do campo, o êxodo rural, a exploração dos ricos fazendeiros, os conflitos do campo, a sabedoria da gente simples do interior do Brasil. O humor campesino e as sentenças ou tiradas de Mazzarope evidenciam uma preocupação não apenas de fundo comediante e de entretenimento. Uma sutil e bem humorada comédia de costumes que se articula a comédia de Martins Pena, ao senso crítico machadiano sutilizado em algumas de suas crônicas como na figura de Memórias póstumas de Brás Cubas, o gênio ou criatividade de Macunaíma, a esperteza de Memórias de um sargento de milícia, o caudilhismo de "Os sertões", de Euclides da Cunha, a filosofia do Grande Sertão em Fabiano de "Grande sertão: veredas", de Guimarães Rosa, a peregrinação de "Vidas Secas e Morte e Vida Severina".

Para ativar nossa percepção hoje das figuras do campo, os filmes de Mazzarope nos remetem ao homem brasileiro com seus costumes agropastoris do interior do Brasil. Lamparina (1964) e o Macumbeiro (1974) e O Jeca e a égua milagrosa (1980) são alguns dos 30 filmes do Mazzarope, uma espécie de malandro sertanejo, capaz de vencer, pela sabedoria, os apuros da vida da cidade e do campo. Bernardino, o Lamparina, contextualiza o cangaceiro, com seus ritmos e costumes contra os fazendeiros. Os filmes são exibidos ainda hoje no Canal 03,

TV Brasil, aos domingos à tardinha. São filmes da PAM FILMES S.A, dos anos 1980. A carteira de trabalho de Amacio Mazzarope. Vale a pena cotejar o Museu do Tropeiro com o Museu de Mazzarope para rastrear

os significados interculturais das memórias coletivas e a identidade do homem do sertão e suas marcas na cultura desde os tempos da colonização mineira e colombiana.

A cultura caipira e de raízes no cinema brasileiro, com filmes desde 1952, estão no Museu de Mazzarope (1912-2012), em Taubaté, SP, e pode ser assim registrada:

Amácio Mazzaropi (São Paulo, 9 de abril de 1912 — São Paulo, 13 de junho de 1981) foi um ator e cineasta brasileiro. Filho de Bernardo Mazzaroppi, imigrante italiano e Clara Ferreira, portuguesa, com apenas dois anos de idade sua família muda-se para Taubaté, no interior de São Paulo. O pequeno Amácio passa longas temporadas no município vizinho de Tremembé, na casa do avô materno, o português João José Ferreira, exímio tocador de viola e dançarino de cana verde. Seu avô também era animador das festas do bairro onde morava, às quais levava seus netos que, já desde cedo, entram em contato com a vida cultural do caipira, que tanto inspirou Mazzaropi.

http://www.museumazzaropi.org.br/. http://pt.wikipedia.org/wiki/Am%C3%A1cio_Mazzaropi, página de 11 de Fevereiro de 2013.

Esse espírito ainda está na Estrada Real, no turismo ecológico em Barra do Piraí com as cavalgadas, exibido no canal 08 e disponíveis em www.abcmm.org.br

Há interessante trabalho foto-historiador Daniel Chucuri exposto sobre a cultura dos arrieros da Colômbia. Veja algumas de suas fotos da Colômbia em “Libro: Lo cotidiano detras de lo cotidiano; Fotos: Daniel Alfonso Leon” - danielchucuri@hotmail.com e “donkeys - Uma expô com curadoria” em

http://www.flickr.com/photos/inthegan/galleries/72157624250951148/, sem data.

O caipira a partir de uma visão dos museus

O Museu do Tropeiro foi organizado a partir da expedição Spix & Martius em 29 de março de 2003. Seu acervo centraliza-se na retomada do “patrimônio cultural e natural da Estrada Real a partir do século XVIII”. O turista pode contemplar a cavalhada e as peças de montaria a cavalo ainda usadas no interior de Minas Gerais,

...além das quitandas típicas da terra, dentre essas o cubu na folha de bananeira. Abrigado em uma casa construída no século XVIII e que pertenceu ao tropeiro conhecido como ‘sô’ Neco, o Museu contém hoje mais de 700 peças que fazem alusão à cultura tropeira, além de documentos desses comerciantes (título de eleitor, certidão de casamento e livros de compra e venda), que viajavam pelas estradas do interior brasileiro. Dessas, cerca de 500 pertenceram ao colecionador José Dutra – fazendeiro da cidade de Rio Vermelho. O local é palco para apresentações artísticas e culturais, de degustação da deliciosa culinária regional e, principalmente, para a velha e boa prosa.

http://www.vivaitabira.com.br/host/MuseuTropeiro/museu.php, informações talvez de 2009.

A descrição do museu e sua programação podem ser encontradas na citação do site acima. Outro aspecto inculturador do Museu do Tropeiro

é ambientação dos elementos culinários das tropas de mulas no sertão

e fenômenos pitorescos da cultura mineira colonial da Estrada Real

com o objetivo de atualizar condições existenciais do tropeirismo

como “as manifestações artísticas e folclóricas: Sons da Tropa,

Grupo das Lavadeiras, Estaladores de Chicote, Meninos Trovadores

e Comitiva do Berrante.”

Há, também, os recursos da modernidade que retratam a cultura dos tropeiros como as exposições de canções, os filmes e os documentários educativos na sala de multimeios.

O tropeirismo, a realidade latino-americana, ainda viva em Arrieiros da Colômbia.

Os arrieros colombianos: um jeito de viver e estar no mundo; portanto, evocam-se a umas culturas, projetos de vida, filosofia, educação e perfis sociológicos específicos. Há partir dos trabalhos de Daniel Chucuri é possível reconstruir as situações em que aparecem os arrieros colombianos.

Veja as primeiras cenas de https://www.google.com.br/search?q=arrieros+colombianos&tbm=isch&tbo=u&source=univ&sa=X&ei=3GncUtSDMNTJkAf37YCYBw&ved=0CEAQsAQ&biw=1360&bih=641.

O termo arrieros faz alusão forte aos espaços e a tempos da América colonial. Nesse sentido, o contexto hoje se avizinha ainda ao passado longínquo, quando percebemos uma afinidade de costumes e hábitos da identidade colombiana:

Etimologicamente, o termo vem da palavra arrear muleteer, no espanhol, o que significa incentivar ou jogado às bestas para andar,

para continuar a caminhar ou para animar a passagem, e esta palavra, por sua vez, vem do latim vulgar como uma interjeição "arre!", utilizado em muitos locais para encorajar as bestas a seguir os caminhos difíceis.

Um arriero é uma pessoa que trabalha ou transporta mercadorias, como café, palha, cortiça, trigo, carvão, máquinas e muitos outros, principalmente carregado às costas de mulas, dada que as mulas são mais fortes que o cavalo e outros animais.

Além da mula como a principal meio de transportes, os carregadores

de diferentes lugares da Colômbia e do mundo também têm utilizam o transporte de cavalos, burros e bois, mas em uma escala menor, porque estes últimos animais são lento, desajeitado ou instável em comparação com a mula. (Minha versão do espanhol, encontrada no http://es.wikipedia.org/wiki/Arriero, site de 25 dez 2013, às 11:28).

Assim como o tropeiro mineiro, de Minas Gerais, há eventos que aproximam a Colômbia com o Brasil. La Mulada se assemelha à presença das mulas ou burro, usado desde o Brasil colonial, para o transporte de carga de ouro, pedras preciosas, couro, café, etc. O tropeirismo de Minas Gerais é uma das versões da festividade Colombiana La Mulada, cuja relevância ou valor é peculiar das cavalhadas do Brasil ou a presença do Jegue do Nordeste brasileiro.

Ou ainda aos costumes do uso da mula entre os gaúchos do sul do Brasil.

A cada ano há uma massa característica em Antioquia de “arriería” evento da cultura regional, chamada La mulada. Ela representa uma região evento de raízes “sui generis”, semelhante a como a equitação

no México ou a tradição gaúcha no Brasil, Argentina e Uruguai.

Durante La Mulada, a partir de várias cidades e vilas centenas de transportadores, reúnem-se pessoas com milhares de mulas, e andaram com esses animais por 11 dias em todo da Colômbia e, finalmente, em Medellín, onde se celebram as suas tradições e as memórias. Ao longo do caminho, os portadores distribuem alimentos e presentes para os moradores de baixa renda ao longo da peregrinação.

(Minha versão do espanhol a partir do site http://es.wikipedia.org/wiki/Arriero, site de 25 dez 2013, às 11:28).

O Dicionário prático-ilustrado Lello & Irmãos Editores (1955), de Jaime de Séguier, da cidade do Porto, de 1955, aponta o sentido de mula como sendo:

Mula: o feminino de mu [forma retrata ou arcaica de mulo].

Mulata como manada de mulas. Muladar: esterqueira, tudo que enodoa. Mulata: mulher muito escura.

Mulato: (de mulo): que nasceu de mãe branca e pai preto ou o contrário. Tem cor escura da pele: trigueiro.

Mulataria: chusma de mulatos.

Há também muar: Substantivo. 2 gên. Besta muar.

Mula: carro puxado por muares. Adjetivo 2 gên. (latim: mulare).

Que é da raça dos mus: gado muar. (LELLO & IRMÃOS, 1955, p. 846-848)

O mesmo dicionário traz o sentido de arriero assim:

Arrieiro: Substantivo masculino. É aquele que aluga ou conduz bestas. Almocreve, alquilador, azemel. Sentido figurado: homem rude, grosseiro, bruto. Arreio: no castelhano: aparelho usado em bestas

ou mulas. Sentido figurado: Enfeite ou adorno. (1955, p. 110)

No mesmo dicionário acima (1955), por inferência dos hibridismos linguísticos e culturais, os termos de conotação etnocêntrica e racista vêm à tona, porque “somos traídos pela linguagem”, ou seja,

“a boca fala do que está cheio o coração” em um Brasil racista, tropicamente português, marcado por práticas seculares escravistas durante toda a colonização:

“Moleca é negra ou preta pequena, de pouca idade. Molecada: bando de moleques; molecagem: ato próprio de moleque, ato ruim. Molecão: moleque taludo, encorpado; molecar: proceder ou divertir-se como moleque.” (1955, p. 831)

No Dicionário novo Aurélio – século XXI (1999, p. 197), o termo arre! “designa cólera ou enfado”. E há afinidade etimológica com a interjeição arre! no espanhol, por isso “se emprega para incitar as bestas a andarem.” Quem conduz ou incita as bestas é o arreador, cavaleiro/amazonas, domador(a): “aquele que arreia, [que usa] arreio” (idem). Pode ser o “relho comprido com que os campeiros” [gaúchos e outros treinadores do Rio Grande do Sul] “tocam os animais.” (ibidem)

Esse mesmo dicionário ainda apresenta arrear (verbo da primeira conjugação, no sentido de prover, provisão), assim: “Derivado do Latim vulgar: arredare”. (ibidem) E designa “pôr arreios em aparelhar ou enfeitar(-se), adornar(-se), ataviar(-se).” Arreatamento: “ato ou efeito de arrear(-se): o conjunto de peças necessárias a montaria do cavalo (éguas. bestas, mulas, burros, jumento, jegue), arreio, arreios.” (ibidem)

No mesmo dicionário, há também arreata: “correia ou corda com que se prendem e por onde se conduzem as bestas.” (ibidem) Pode ser no sentido, então, de “reata, reate.” E arreatada exprime a ideia de “pancada com arreata.” Arreatadura: “prender com arreata.” (ibidem)

No mesmo Dicionário novo Aurélio – século XXI (1999, p. 1355), o termo moleque abriu precedentes para novas palavras e expressões do contexto dos engenhos, minas e quilombos, periferias e as idiossincrasias da economia e vida domésticas das Casas Grandes e Senzalas. São palavras do africanismo com a aclimatação dos novos elementos geopolíticos e sociais do Brasil português e tupi-guarani. Podem-se vislumbrar palavras como molecar, molequear, moleque, moleca (feminino de moleque), melecada (ato ou efeito de fazer peraltices ou coletivo de meninada), molequice, molequeira, molecagem, moleque(ca)mente pertencem ao mesmo campo semântico ou cognatos ou famílias de palavras, que tem como radical etimológico latino mula, ae, palavras da primeira declinação latina. Especificamente, moleque evoca o falar quibombo com uma síncope intervocálica em mu’leke para designar negrinho, por sinonímia arrastam-se outros termos afins: menino , cabocho, garoto, guri, guria (italiano).

No Brasil, moleque visualiza a condição de um menino ou alguém “engraçado, pilhérico, trovista, jocoso”, pobre, simples, pacato, menino de pouca palavra (discreto, desconfiado, introvertido), sem muita instrução (analfabeto), humilde, “menino de pouca idade, jovem doméstico, moleque de cozinha” (como os mencionados em Casa Grande & senzala ou nos textos machadianos ou da literatura do império durante do Romantismo e Naturalismo-Realismo) ou com conotação pejorativa: rebelde, malandro “canalha, patife, velhaco”, diabólico, endemoniado, sujo, indecoroso, grotesco, genioso, de gênio ruim.

Houve um leque de criações derivativas do termo moleque em substantivos compostos como pé-de-moleque que teve sua origem talvez na Bahia com a expressão: “pede, moleque, que eu te dou o que queres...” Veja em Novo Aurélio (1999):

“Moleque-d’água (entidade folclórica: cabloco-d’água), moleque-de-assentar (pau usado nos engenhos para igualar o açúcar em caixas de madeiras) , moleque-de-surrão (diabo), moleque-duro (nome de arbusto do nordeste).” (1999, p.1355)

Com o tempo, os avanços genéticos dos cruzamentos entre eles animais, em laboratório, deu origem ao jumentinho ou àquele de circo tão pequenino: o pônei. Hoje expostos em espetáculos circenses e atrativos em parques temáticos para a criançada sequiosa de curiosidades ou visita a fazendas e chácara de ricos e colecionadores desses amáveis animais.

As Imagens dispersas da literatura do tropeiro

A mula e o tropeiro são personagens discretos da literatura mundial e brasileira. A mula (do latim: mula, ae) não é apenas “animal fêmea resultante do cruzamento de um jumento com uma égua.”

Mula, mulo, mu, besta, burro, macho ou jerico (ilhas da Madeira e Porto Santo e regiões do Brasil), em seu significado moderno comum, é o indivíduo híbrido resultante do cruzamento de um jumento, Equus africanus asinus, com uma égua, Equus caballus ou de um cavalo

com uma jumenta. Só existem mulas fêmeas. Devido ao fato de cavalos possuírem 52 cromossomas, enquanto o jumento possui 56, resultando em 54 cromossomas, os mulos são, quase sempre, estéreis. São raros os casos em que uma mula deu à luz; com efeito, desde 1527, data em que os casos começaram a ser arquivados, apenas 60 casos foram registrados. http://pt.wikipedia.org/wiki/Mula, em 16h08min

e 28 de novembro de 2013.

Sua presença faz parte do cenário e das temáticas regionalistas diversas. Também há toda uma impostação de valor universalizante e de referêncial de outras culturas, quem existem apelo ao uso e a exposição de mulas em diferente motivos e pragmatismos comerciais e de emolação em torneios e contextos religiosos e festividades populares.

Dom Quixote de La Mancha (1605) é o cavaleiro de triste memória, passando por rídiculo, em fora de contexto epocal. Miguel de Cervantes y Saavedra (1547-1616) tem o contra-regra em Sancho Pança.

O burro, asno ou a mula são testemunhas silentes do drama do homem diante dos paradoxos da existência. Algumas abordagens simbólicas sobre o burro de Sancho nos cativam até hoje:

Para Sancho , seu burro vale o dobro de Rocinante ", (...) Cap. II.13.9. Você tem que ser, e burro tem que parar , II.28.17 Gaos acreditava ser invocada como precedente desta frase fórmula litúrgica proverbial

Ash Wednesday "é pulvis et quia em pulverem reverteris " . (...)

" Os asnos foram e serão, e toda a sua vida comerá palha."

[Isso] explica em grande parte Sancho : "Mais bem-sucedida desses homens tolamente chamar os anjos do céu, vulgares , dizem que eles são burros na terra . Porque, entre os animais irracionais , diz Galeno que não há sagacidade no mais burro ou menos burro , embora a memória supera tudo : sem nenhum custo se recusa , onde eles tomam , sem contradição , sem chutar ou morder." p. 536-537.

FONTE: Bardón Salvador García , Oficina de Cervantes " Dom Quixote " Textos originais de 1605 e 1615 com Dicionário enciclopédico , Academia de lexicologia espanhol, o trabalho de engenharia linguística , Bruxelas, Leuven e Nova Madrid, 2005-2007 .

Esse livro conquistou elogios de Fiódor Dostoiévski: "Não existe nada mais profundo e poderoso do que este livro. Representa até hoje a mais grandiosa e acabada expressão da mente humana." Por quê? Porque é dialético, instigante, elegante, incrivelmente surpreendente:

...mistura humor e drama, os condimentos de uma história bem realista, pois é assim que a vida de fato é; uma mescla de "bem e mal", de alegria e tristeza, sucesso e insucesso; e até, dizem os autores do documentário, concretiza pela primeira vez em personagens literárias

os arquétipos da dualidade antagônica das parelhas de heróis, algo que será copiado e readaptado posteriormente na literatura e cinema

(por exemplo: "Sherlock Holmes e Dr. Watson", "Bucha e estica", entre muitos outros, basta pensar um pouco e logo muitas outras parelhas nos surgem). Em jeito de resumo, Cervantes, com o seu D. Quixote de

La Mancha (historia de um velho meio louco que se torna num cavaleiro andante, acompanhado pela voz da razão que é Sancho Pança, sempre

à procura de aventuras, de defender os fracos e oprimidos, e de salvar

a sua Dulcineia), para além de criticar um modelo de literatura do seu tempo que considerava inferior, redefine o modelo em que se irão basear posteriormente algumas das grandes obras do Romance e da Ficção Literária dos séculos subsequentes.

http://abuscapelasabedoria.blogspot.com.br/2010/12/d-quixote-o-romance-que-satira-o.html, de Micael Sousa, de agosto/2009.

Pode-se fazer de uma moral da mula. Frei Bernardino Leers (1919 – 2012), OFM, escreveu a Moral do Burro. Veja a sinopse deste livro:

Trata-se, como se vê, de um grande apólogo, composto de 27 pequenas histórias reveladoras do que há de mais profundo na sabedoria de vida ensinada por Jesus. (...) O meio de transporte utilizado por todos no sertão mineiro: o burro. As muitas horas que passou no lombo do burro levaram-no a ter uma visão nova e inesperada da sabedoria cristã. (...) Todavia, é preciso tomar cuidado com o burro, sobretudo não abordá-lo sem avisar, pois seu coice é terrível. Temos de ter a consciência de que, aprendendo com o burro a simplicidade, a sabedoria e a perseverança, é preciso que vivamos no espírito de Jesus, como são Francisco nos ensina, e saber tudo perdoar.

http://www.ofm.org.br/default.asp?pag=p000042, de Belo Horizonte, 30 de janeiro de 2014.

As mulas e burros: a esperteza de Memórias de um Sargento de milícia

No Rio de Janeiro, ainda capital do império, os personagens se deslocam com seus pertences pelo relevo ondulado e íngreme.

A zoomorfização rude e grotesca do naturalismo vai cedendo à elegância ou à malandragem do carioca e além de contaminar ou influenciar as relações sociais de interesse ou de hipocrisia, denunciadas por Antônio de Almeida e, com classe, não menos exigente na escritura machadiana à posteriori.

A sutileza da ironia machadiana à busca de encenação de umas mulas e alguns burros – uma prosopopéia disfarçada na mímesis dos comportamentos.

A figura repentina do almocreve na cena da obra inaugural da fase realista de Machado de Assis, Memórias póstumas de Brás Cubas (1881), revela a reação de Cubas quando arrastado pela mula, agarrado no arreio. O homem rude assume uma atitude imediatista de socorrer do infortúnio Cubas, decadente burguês. Mas, a reflexão cartesiana de Cubas evidencia a dificuldade burguesa de recompensar o homem rude. O ambiente do Rio de Janeiro, ainda capital do Império e da república brasileira fornece os indícios da relação social de interesse e preconceito de Cubas, que tem dificuldade de recompensar: nem com moeda de ouro, nem prata e talvez um vintém. Essa introspecção do romance psicológico no Brasil já representa a cultura do homem das mulas no Rio republicano do século XIX. Trata-se de uma reflexão, em suma, sobre a hipocrisia, o cinismo ou “o drama da irremediável tolice humana”.

No capítulo O almocreve, Brás Cubas está sendo arrastado por um jumento, pois tinha sido jogado fora da sela ficara com o pé preso no estribo. Possivelmente morreria não fosse a corajosa intervenção de um almocreve (condutor de bestas de carga), que deteve o animal. A primeira intenção do narrador foi a de presentear o seu salvador com cinco moedas de ouro, depois pensou dar-lhe duas, uma moeda de ouro. Acabou metendo na mão do almocreve uma moeda de prata, mas ao afastar-se pensou com remorso que deveria ter-lhe dado apenas uns vinténs, racionalizando que o homem não tinha em mira nenhuma recompensa ao salvá-lo, cedendo apenas a um impulso natural.

http://www.passeiweb.com/na_ponta_lingua/livros/analises_completas/m/memorias_postumas_bras_cubas

A mula e o jegue: as testemunhas da peregrinação de Vidas Secas e Morte e Vida Severina.

“Os brutos também amam” em Vidas Secas, de Graciliano Ramos (1963). Essa inferência de valor sapiencial resume toda a vida dos sertanejos e seu esforço por viver na e da seca no nordeste brasileiro.

Em linguagem sertaneja ou do caboclo nordestino, Chico Buarque

retrata bem a mula no lamento do jumento do sertão, assim:

Jumento:

Hi-oh, he-oh.

He-uh, he-uh.

É-u, eu.

Eu, eu sou um jumento,

não sou bicho de estimação.

Não tenho nome nem apelido,

nem estimação.

Sou jumento e pronto!

Na minha terra também me chamam de jegue

e me botaram pra trabalhar na roça a vida inteira.

Trabalhar feito jumento

pra no fim... nada.

Minha pensão, nem uma cenoura.

Acho que é por isso que às vezes também me chamam de burro.

Eu nem me incomodo.

Mas outro dia,

eu tava subindo o morro com quinhentos quilos de pedra no lombo,

tava alí subindo quando ouvi um paid'égua falar assim:

"mas que mula preguiçosa sô!", fui ver, e a mula era eu.

Aí eu parei: Mula! é demais!

e resolvi dar no pé.

Tomei a estrada que leva à cidade

e fui seguindo naquela escuridão.

Naquela humilhação.

Naquela solidão que nem sei.

Não sou disso não,

mas me deu uma vontade arretada de chorar

e chorar, e chorar aos soluços.

E pensava com meus borbotões...

[música]

Jumento não é

O grande malandro da praça

Trabalha, trabalha de graça

Não agrada a ninguém

Nem nome não tem

É manso e não faz pirraça

Mas quando a carcaça ameaça rachar

Que coices, que coices

Que coices que dá

O pão, a farinha, o feijão, carne seca

Quem é que carrega? Hi-ho

O pão, a farinha, o feijão, carne seca

Limão, mexerica, mamão, melancia

Que é que carrega? Hi-ho

O pão, a farinha, o feijão, carne seca

Limão mexerica, mamão, melancia

A areia, o cimento, o tijolo, a pedreira

Quem é que carrega? Hi-ho

Jumento não é

O grande malandro da praça

Trabalha, trabalha de graça

Não agrada a ninguém

Nem nome não tem

É manso e não faz pirraça

Mas quando a carcaça ameaça rachar

Que coices, que coices

Que coices que dá

Hi-hooooooooo -http://letras.kboing.com.br/#!/chico-buarque/o-jumento/

O caudilhismo de Os Sertões, de Euclides da Cunha,

Luis Nassif (2013) faz síntese contundente, em que se pode contextualizar a presença das mulas no sertão baiano de Canudos: “Os Sertões, a epopéia de Euclides da Cunha, é outra narrativa que tem na viagem a sua gênese.”

A filosofia do grande sertão em Fabiano de Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa,

A presença de mulas é uma constante na obra de Guimarães Rosa. O tropeiro é representado pelo intelectual que retoma suas raízes em Cordisburgo e viaja pelo interior de Minas Gerais, anotando suas peculiaridades da fauna, flora, toponímia, costumes, linguagem regional, etc. Muitos tentaram reproduzir seu roteiro e itinerâncias, é o que se percebe no trecho a seguir no comentário de Luis Nassif (2013):

Jack Kerouac foi dando forma ao seu livro mais incensado, ‘On The Road’, enquanto viajava pelos EUA. Rosa percorreu 240 km montado no lombo de mulas, partindo da Fazenda Sirga, situada a 20 km de Três Marias, até atingir a cidade de Araçaí, esculpindo grandes personagens como o lendário Manuelzão. 'Grande sertão: veredas' (obra-prima da Literatura Brasileira) e 'Corpo de baile' tratam da segunda viagem empreendida em 1952 por Guimarães Rosa pelo sertão das Gerais que fizera, em 1945, outra viagem pelo interior de Minas e em 1947 pelo Pantanal Matogrossense. O mapa do Circuito Guimarães Rosa, criado em 2003, com referências ao trajeto e principais lugares (...). Guimarães Rosa empreendeu outra viagem ao lado de Assis Chateaubriand e do Presidente Getúlio Vargas para participar de uma vaquejada em Caldas do Cipó, no sertão da Bahia. http://jornalggn.com.br/noticia/literatura-e-viagem

Mulas e malandragem nas narrativas do hibridismo em Macunaíma

É muito conhecida a lenda da mula-sem-cabeça, lenda brasileira, reiterada em Mário de Andrade. Há toda uma pesquisa de Mário nesse contexto da sua construção narrativa, cujo suporte é o hibridismo riquíssimo das mitologias latino-americanas e ameríndias. A mula é a materialização grotesca e irônica de (dês)construção do interdito da intocabilidade celibatária e o desejo feminino pela posse do religioso. O sagrado e o profano se misturam na lenda. A mulher é proibida de desejar, de se ligar a um sacerdote. A maldição a bestializa! Há a crença antiga de que praga de padre pega. Ora, o padre teria o poder de amaldiçoar também e regular as relações afetivas e sexuais nas sociedades agrárias e campesinas. Para assegurar-lhe o celibato, era necessário manter longe as curiosas mulheres ou impor ao padre as regras de seu ofício. A lenda tem seu efeito coercitivo, domesticador, truculento, cruel, civilizatório. Só com o Vaticano II, as relações afetivas do líder religioso passaram a serem tema livre do cotidiano dos cristãos. Por muito tempo, os meninos iam cedo para o seminário até se formar. Passavam-se anos sem verem suas famílias, amigos e comunidades. Muitos eram surpreendidos com as aventuras amorosas em períodos de férias e visita a sua família. Muitos não retornavam aos seminários.

A lenda tem seu valor cultural de repensar as relações humanas e os valores da afetividade e da comunidade. De alguma forma, a mulher poderia representar um perigo à vocação religiosa. Fazia-se um discurso endemoniando à mulher para legitimar as práticas religiosas e celibatárias.

A bestialização da mulher tem sua culminância na lenda da mula-sem-cabeça.

Além da obra, várias peças se popularizaram e nos remetem à lenda, repensando o sincretismo religioso como interdito.

Considerações finais

É impossível a colonização sem as mulas. A história das Américas teve trilhas, estâncias, chácaras, caminho das pedras das minas e do ouro, com a presença do tropeirismo, dos arrieros colombianos, e as mulas por toda parte, cuja toda sorte de carga irrigou os sertões e litorais de nosso imenso continente.

Tanto as literaturas portuguesa, brasileira e hispânica obtiveram graça e sátira, heroísmos, passo seguro e olhar atento das mulas, testemunhas silenciosas de um passado vivo entre nós.

A memória coletiva é recontada nos museus. O Museu dos Tropeiros em Ipoema, MG, a festividade colombiana La Mulada conferem episódio proativo de uma história que insiste em viver.

Não podemos esquecer que há em cada página e vivências do nosso povo latino-americano uma lição ou moral das mulas e burros. Lá estão e estavam eles nos empreendimentos coloniais e imperialistas dos ciclos do ouro, das minas, da borracha, das Entradas e Bandeiras, da imigração italiana, do café nas fazendas de açúcar, cacau, banana, mandioca, etc.

Ainda nas cidades, vêem-se burros, jegue e mulas em diferentes pontos pelo roteiro paradoxal das viagens pela América. Homens rudes nos canaviais e moleques têm seu apego a esses animais domesticados e fortes, o ganha-pão de lares pelo Brasil e pela Colômbia.

Não se pode esquecer o que salientamos nesse trabalho todo um preconceito linguístico ou etnocentrismo sutil e racista pode se esconder por trás das palavras e da boa intenção de quem as usa.

Esse cuidado é recente à medida que as minorias étnicas ganham espaço nas culturas crioulas e ameríndias e o direito contempla a cidadania e a negritude juntas como proativismo de pessoas que “forjaram cultura sem que soubessem que as construíam”, conforme Karl Marx. Como sabemos também que o discurso nos “trae”, surpreende-nos a cada momento, sem que nos demos igualmente conta ou controle sobre o discursado ou o citado. Ou seja, em provérbio, “o peixe morre pela boca.” Assim, não podemos esconder a nossa satisfação de que os africanismos e os descendentes afro-brasileiros têm sua dignidade nas línguas e culturas que professam ou comungam em isolado e em comunidades.

Conhece-se um povo pela sua língua, linguagem, imagem e mensagem, ritos e errância migratória. Nossas culturas são caminhos e caminhadas de diásporas e genealogias intrincadas. Não somos pedigree. Somos povos e culturas híbridas!

Assim, tropeiros e arrieiros são tão capazes e bem integrados às respectivas culturas latino-americanas como o cowboy norte-americano. Os primeiros são típicos do norte ao sul dos pampas e estâncias gaúchas, terras vizinhas dos sete povos das Missões jesuítas, hoje ruínas de um passado distante da colonização do Brasil. O cowboy representa a figura polêmica do velho oeste americano em confronto com os nativos da América do Norte. O expansionismo do Texas e aparece nos filmes de Bang-bang são territórios imaginários coletivos, endossados ou não das literaturas britânicas e inglesa dos USA. Os rodeios são divertidos e sobrevivem à custa dos animais. Neles se tratam os animais com crueldade. Isso é muito ruim e antiecológico, fere o código de póstumas determinadas no digno tratamento dos animais como seres tão necessários à vida quanto os humanos na dinâmica do mundo e suas relações com a natureza. Ver os animais humilhados em rodeios é deplorável, eticamente inviável, miséria moral e espiritual dos homens. Rodeios que violentam quaisquer animais devem ser evitados, mesmo quando rendem dinheiro e entretenimento. Rodeios são como paraíso fiscal; as legais relações contratuais servem apenas aos humanos e deploram, ridicularizam os animais, bois, mulas, burros, etc. Se, de um lado, alguns tratam os animais como bicho de estimação, de outro lado, há quem os perseguem e matam.

Bom é ver mulas, outros animais, criados em fazendas e sítios adaptados a elas e a eles. Deveria ser um roteiro ecológico de boas convivências entre humanos e animais no santuário da natureza e na psicologia anímica dos seres vivos, humanos e não humanos. O suposto paraíso pode acontecer aqui na Terra, nossa comum morada nesse universo grandíssimo do sistema solar e da mística e misteriosa Via-Láctea (caminho de São Tiago de Compostela em qualquer latitude e altitude – seja no Brasil como a Estrada ReaI; Ipoema, SP; Águas de São Pedro, SP, seja na Colômbia), cujas estrelas contemplamos em noites límpidas do campo.

Não aos rodeios, sim aos sítios e trilhas ecológicas em que os animais e mulas podem fazer um roteiro de ecoturismo, caminho juntos e sem estranhamentos e sem violências, nem violações de direitos.

Sim ao tropeirismo e aos arrieiros! Viva(m) as memórias de tropeiros mineiros e arrieiros colombianos que continuam a pulsar em museus e nas festividades de nossa gente sábia e simples, com e como as mulas e jumentos. Não somos mulas, mas aprendamos com elas e com a moral de uma fábula sem fim. Uma parábola cujas exegeses dependem do olhar de quem ama e do coração de quem pensa que o mundo é para todos! É uma epopéia que deve ficar para sempre – do genoma da vida a gênesis. Isso não deve resultar em apocalipse. Somos todos divinos, vindo de um ser superior que a todos acolhe em sua bondade. Espelho ou paradigma de que o mundo será melhor se formos éticos e ecológicos. Sem as mulas, nosso mundo é mais pobre. Elas são testemunhas de mundos antigos pela sua resistência e força em nos ajudar no trabalho e nossas parceiras do lazer e da biodiversidade com adornos e trilhas de outras estradas Real do futuro, onde nem o jipe e as motos podem substituí-las. Veja se não as abandonam como o nordeste vem abandonando os jegues. Os resquícios etnocêntricos e racistas ainda estão presentes, senão inferiorizando a condição do negro se houver a rotulação mula-moleques ou “burros de aprender alguma lição” ou a condição do negro como mulato que trabalhava como negro na eira sem beira e sem meia, sem valor e sem respeito. Boris Fausto (1996) coloca bem o contexto dessa condição escrava do negro, cuja “vida útil de um escravo minerador não passava de sete a doze anos na mineração, especialmente quando o ouro do leito dos rios escasseou e teve de ser buscado nas galerias subterrâneas” (FAUSTO, 1996, p. 58), trabalhavam como mulas do seu senhor ou braços do colono.

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J B Pereira e Daniel A.L Universidade da Colômbia (danielchucuri@hotmail.com)
Enviado por J B Pereira em 28/05/2018
Reeditado em 29/05/2018
Código do texto: T6349256
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