Minha mãe
 
Uma gota de suor no rosto e a lembrança de um tempo passado que não voltaria mais.
O cesto de roupas ao lado do tanque parecia manter-se incólume e sem qualquer reação aos seus incansáveis esforços em esvaziá-lo.
Tantas e tantas roupas a serem lavadas e passadas que não tinha a certeza daquilo que deveria fazer primeiro naquele dia.
Pensou, ao ouvir os gritos das crianças, em pegar cada uma pelas orelhas e coloca-las de castigo. Mas, depois chegou à conclusão de que não ia adiantar muito ... as crianças eram assim mesmo.
Lembro-me, com muito carinho, de quanto ela era exigida. “- Mãe, só mais um pouquinho, por favor”!; “-Eu já vou!”; “- O almoço tá pronto ?!”; “- Hoje a louça não é minha”; “-Mãe, olha os pés sujos desse garoto!”. Tudo era dentro de uma serenidade, sem comparações ... nós nos amávamos.
Coisas simples, de gente simples, que vivia com simplicidade.
Vivíamos nas dificuldades que uma família com muitos rebentos poderia viver, mas, com tanta dignidade que poderíamos nos sentir como os ricaços daquela inesquecível Ponta D’areia.
Aquele apartamento apertado onde morávamos era o nosso eixo e a melhor nave que alguém jamais pudesse ter imaginado nos filmes de ficção.
Lembro-me, que ela sempre dizia que gostaria de nos ver “na crista da onda”. Minhas irmãs certamente haverão de lembrar.
As crianças precisavam dela, mas, a casa clamava pela sua presença em todos os lugares em que, por algum motivo, ela pudesse estar.
E tudo se repetia em seu cotidiano. Coisas fora do lugar, as camas que precisavam ser arrumadas, o café da manhã, os uniformes da escola e a correria incansável para preparar o almoço. Parecia que estava cumprindo uma sentença que lhe fora imposta pela vida ... uma maravilhosa sentença de prisão perpétua.
Entendia que era uma Graça Suprema ter trazido ao mundo filhos sadios, debaixo de um carinho enorme, que transcendia qualquer sentimento de afeto que pudesse existir.
Cada um de nós recebia um tratamento carinhoso. Com uma palavra ou com um gesto, definitivamente, maternal, ela exalava entusiasmo e carinho em todos os momentos em que pudesse estar com seus filhos.
Nas noites, sentava ao nosso lado e contava histórias, de uma forma tenra e amável, sobre fadas, príncipes e princesas. Eu era exclusivo das histórias de Júlio Verne. Adorava ouvir sobre aventuras de heróis e monstros horripilantes.
Ela ainda é muito viva em minha memória, principalmente porque eu a admirava e percebia, desde aquela época, apesar de ser apenas um menino, quão grandiosa era aquela criatura pequenina que Deus colocou ao nosso lado.
Ela percebia essa conexão quando eu ficava ali, parado e silencioso, sentado numa cadeira da cozinha, observando, embevecido, admirando, cada gesto seu, buscando a mais infinita sincronia. Engraçado quando ela chegava pra mim e dizia: “- Tá olhando o que garoto? Vai brincar!”

“-Era amor, mãe, hoje eu sei ... que saudades!”
Germano Ribeiro
Enviado por Germano Ribeiro em 12/05/2018
Código do texto: T6334191
Classificação de conteúdo: seguro