Mais que o imposSílvio

E você, entre o posSílvio e o imposSívio, começa a sua oitava década

da existência como certamente viveu todas as anteriores: fazendo-se

unanimidade, simplesmente. Mesmo tendo deixado de lado ao longo da

vida a ilusão da ótica, o comércio próspero e a palpitante, e apalpe

antes, dos leotards, a rota quase fatídica del tren de la muerte, o

agito estelar da maratona das aulas para os vestibulandos e

vestiburlandos, a promissora carreira de frescobolista do

Arpoador...mas nada, nada indica ou confirma que não possa retomar

quaisquer desses caminhos - pois veja, justamente o que acaba de

acontecer em nosso Brasil: trinta e oito anos após Luiz Inácio iniciar

sua vitoriosa trajetória de homem público no acolhedor spa de Romeu

Tuma, eis que lá retorna, com toda a atenção do mundo voltada para o

seu próximo passo...A vida da voltas e aparentemente só Galileu foi

que mal se deu ao tentar provar isso...ao invés de tão somente o

viver...

E falando de volta ao mundo você já anda bem perto das marcas

estabelecidas por nossas queridas colegas, Ignez e Lizete no delicioso

ofício de globe-trotterismo, ou simplesmente, volta ao mundo. No

frigir dos ovos, vocês três, somados, vão a Marte, e voltam em matéria

de milhagem...

Tive a fortuna de viajar com você nos primórdios de nossas andanças

pelas estranjas. E nenhum lugar poderia ser tão apropriado como como

Bolívia e Peru para um voo - rasteiro - inaugural. Só o fato de ter

visto uma precipitação leve, tênue, de neve, nas proximadades de

Cochabamba, já nos deixou literalmente de coxas bambas...Sorte nossa,

pensando bem, é que o próprio motorista que nos conduziu não tenha se

deslumbrado como nosotros, e se descuidado do volante, naquela meia

polegada que pode ser fatal. E as cruzes pelo caminho, no-lo

comprovavam.

Mas razões do coração e um rosário de faltas de razão mesmo, nos

impelia a prosseguir, pelo menos até atingir o céu ao cabo da subida

de Huyana Picchu...A sorte, novamente, foi que nos contentamos em

contemplar, de Macchu Pichu, aquelas sumas e desafiadoras

alturas...Certeza, ou pelo menos esperança, para você, de que a Aurora

voltaria a raiar.

Mas quase que não naquele pernoite no quarto de Julio Vieza, em que as

goteiras jorravam mais que torneiras dos cofres públicos, ou naquela

outra noite em que em desabalada carreira você chegou ao baño del

Doctorcito Juan Mansilla, em pleno breu, para meter a cabeça na porta

e quase desmaiar, antes até do divino alívio do obrar...Pero que no se

face por una cabeça...?

Mas mais não falo aqui desses eventos que só fizeram multiplicar-se

depois que o mano César e eu, lacrimosamente, nos despedimos em

Juliaca, e você partiu só, rumo ao ignoto, num périplo que levaria

meses para se concluir, incluindo toda a comprideza do Chile e

largueza da Argentina...Adiós, muchacho...!

Geografia a parte, você hoje, comungando conosco a sua glória, hoje,

cantante Don Sílvio, hoje você é História...

Paulo Miranda
Enviado por Paulo Miranda em 10/04/2018
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