Outra janela para o céu...?
Uma janela para o céu já existe. É a música tema do filme O outro lado da montanha (The other side of the mountain) a que assisti em 1976, narrando de forma comovente o suplício da talentosa e promissora esquiadora Jill Kinmont, vítima de um acidente na neve que a deixou tetraplégica. Sob a competente direção de Larry Peerce, Marilyn Hassett e Beau Bridges protagonizam os principais papéis nessa inesquecível peça da dramaturgia cinematográfica.
Já a outra janela, posso-lhes afirmar que é de um azul-intenso, e que permanentemente aberta, está mesmo voltada para o céu, a partir do quintal da casa de meus pais, onde vivi a infância e parte da juventude.
Faz ela parte de um par, que décadas e décadas atrás, quando o Alfredo, tio de mamãe, reformou sua casa, então à rua Moju, 50, no Bairro São Geraldo, em Belo Horizonte, satisfeito que só ele com o azul dos olhos da filha Neném, doou-as a papai e mamãe. Venezianas, com vidraças na parte superior, fizeram parte de um barraco, voltado para a matriz de Nossa Senhora do Pilar, ocupado por tia Lia, a caçula das irmãs de papai, que sempre quis ter a sua casinha, sua vidinha independente, e acabou agraciada com o dito e bendito barraco, ornado pelas duas belas janelas azuis.
E quando desfeito o barraco para se transformar em mais moderna edificação, mamãe não abriu mão de aproveitar as aludidas janelas, sobretudo pelo valor intrínseco de haverem provindo do generoso tio Alfredo, como também pela economia de se estender a vida útll de um bem tão caro.
As delongas na decisão de marceneiros consultados em reformar as folhas internas, que haviam sido comprometidas pelo cupim derrotaram, à primeira vista, o intento de mamãe. Mas ela não se deu por vencida:
Virou o marco de uma delas para o céu sobre um tablado improvisado, prencheu-o com uma terrinha fofa, e lá semeou alface, que, ainda agarradinha uma na outra, tá uma beleza de se ver.