HOMENAGEM A MARIA APARECIDA NOGUEIRA: Vida longa, Estrela! Poeta, olhar, Circense! J B PEREIRA – 05/01/2018.
VIDA EM RETALHOS, ROSAS LINDAS DESTE ROSÁRIO.
J B PEREIRA
“A oralidade é comum em todas as Eras e sociedades do mundo.”
https://pt.wikipedia.org/wiki/Hist%C3%B3ria_oral
Com Milagre, Aparecida,
O soneto que aprendeu?
Dor da vida foi vencida
E a trova sempre rendeu... J B PEREIRA
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Que seu nome seja perfumado
Ao mar de alegrias sem fim
Seu viver seja exaltado.
Viu o trapézio no céu.
Viu o picadeiro aos seus pés.
No sonho em que se achou,
“Banhou-se toda em luar.
Queria a estrela do Céu.”
Queria o sol no horizonte do Mar.
No fogo, frenesi de suas emoções,
Sentia-se o anjo do Céu,
Ouvia-se o aplauso das arquibancadas.
E, como musa e artista, metamorfoseia-se,
As suas asas abriram-se de par em par,
Os olhos azuis (seus) lagrimejaram-se em mar
Estava perto do Céu de Minas.
Estava longe do Mar Fluminense.
Assim, nos anos em que sua vida se teceu,
Ergueram-se luminoso e fosco itinerário
E a poeta e a artista! E ninguém a esqueceu...
Vida longa, Estrela! Voz, olhar, Circense!
Vida em Retalhos, rosas lindas deste Rosário. J B PEREIRA
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MARIA APARECIDA NOGUEIRA: Zênite azul da trova e Nadir da cultura
J B PEREIRA
FUNDAMENTOS TEÓRICOS DA MEMÓRIA COLETIVA
Para Foucault o problema da história está em questionar os documentos. Desestruturar o documento evidenciando o seu caráter de monumento.
História e Memória. de Jacques Le Goff, é um dos marcos dos esforços de contextualizar vidas na história oral. Eis algumas de suas afirmações:
- Memória: fazer recordar.
- Monumento é um sinal do passado. “O monumento é tudo aquilo que pode evocar o passado, perpetuar e recordação, por exemplo, os atos escritos” (p. 535.)
“O monumento tem como características, o ligar-se ao poder de perpetuação, voluntária ou involuntária, das sociedades históricas”
(p. 536)
- Originalmente o documento se opunha ao monumento, que era intencional. Devemos criticar a história fundada sob os documentos.
Le Goff afirma que: “A memória onde cresce a história, que por sua vez a alimenta, procura salvar o passado para servir o presente e futuro. Devemos trabalhar de forma a que a memória coletiva sirva para a libertação e não para a servidão dos homens.” (p. 477)
"não há sociedades sem história” - criação dos gregos, registro da origem e do mito, da perpetuada pela invenção da Escrita, da epopeia, do conto, do historiador(p. 53) e “... a oposição presente/passado não é um dado natural, mas sim uma construção... um mesmo passado muda segundo as épocas e que o historiador está submetido ao tempo em que vive” (2000, p. 13).
E os fatos narrados tem um fundamento na memória coletiva: “A história é um conto de acontecimentos verdadeiros.” A função da história não seria provar e sim contar.
“... A memória não é a história, mas um dos seus objetos e, simultaneamente, um móvel elementar de elaboração histórica.” (p. 49) “O historiador deve reagir mostrando que nada está escrito na histórica antecipadamente e que o homem pode modificar as condições que lhe são postas.” (p. 145)
A história é a ciência do tempo lento e rápido, do mito às modernas concepções cronológicas e técnicas de tempo e progresso. (O tempo do avô e diferente do tempo do neto...).
o tempo regular, mas linear do trabalho, mas sensível a mutações históricas, e o tempo cíclico da festa, mais tradicional...” p. 518.
“... o termo moderno assinala a tomada de consciência de uma ruptura com o passado...” (p. 172)
O eterno retorno, os rituais de renovação do tempo como as festas de ano novo.
“A memória, como propriedade de conservar certas informações, remete-nos em primeiro lugar a um conjunto de funções psíquicas, graças às quais o homem pode atualizar impressões ou informações passadas, ou que ele representa como passadas” (p. 423)
“Tornarem-se senhores da memória e do esquecimento é uma das grandes preocupações das classes, dos grupos, dos indivíduos que dominaram e dominam as sociedades históricas. Os esquecimentos e os silêncios da história são reveladores desses mecanismos de manipulação da memória coletiva” (p. 426)
- Sociedade de memória essencialmente oral é diferente da essencialmente escrita.
“Preferir-se-á reservar a designação de memória coletiva para os povos sem escrita...” p. 427.
“O aparecimento da escrita está ligado a uma profunda transformação da memória coletiva... A escrita permite à memória coletiva um duplo progresso, o desenvolvimento de duas formas de memória. A primeira é comemoração, a celebração através de um monumento comemorativo de um acontecimento memorável... No Oriente antigo, por exemplo, as inscrições comemorativas deram lugar à multiplicação de monumentos como as estrelas e obeliscos” p. 431. (Ex: Festa de Reis Magos é 06 de janeiro: relevante para igrejas orientais; na ocidentais é o natal em 25 de dezembro - festa do Rei Sol - Mitra - festa dos romanos.).
O calendário é um instrumento da História utilizado para domesticar o tempo natural.
- O calendário muçulmano foi sempre lunar e não o solar. Há o calendário baseado nas estações do ano.
"O primeiro, em seguida a Primeira Guerra Mundial, é a construção de monumentos aos mortos, A comemoração funerária encontra aí um novo desenvolvimento." ( p. 466)
“A passagem da memória oral à memória escrita é certamente difícil de compreender” p. 437.
- Para os gregos da época arcaica, a memória era uma deusa, mãe de nove musas. Sua função era lembrar aos homens os grandes heróis e seus feitos. Ela preside na poesia lírica.
“A imprensa revoluciona, embora lentamente, a memória ocidental” p. 257.
“Enquanto que os vivos podem dispor de uma memória técnica, científica e intelectual cada vez mais rica, a memória parece afastar-se dos mortos... a comemoração dos mortos entra em declínio” p. 461.
“... a laicização das festas e do calendário facilita em muitos países a multiplicação das comemorações...” p. 463.
Em História Oral , de Paul Tompson, e Memória e Sociedade: memória de Velhos, de Eclea Bosi, recomenda-se o mérito da vida na fala de idosos para reconstruírem histórias de vida. A fala do idoso é tão importante para documentos da historiografia oficial quanto para a literatura e memória coletiva da nação. Isso reforça o respeito à sabedoria popular de que os eles podem ser fontes de conselho e orientação para as novas gerações e devem ser respeitados como em várias culturas como sábios.
CRÍTICAS
É preciso saber ouvir suas lembranças e aprender com eles.
Podemos ser idosos um dia também!
O risco da Autoajuda como gênero pode encobrir o gênero acima à medida que aposentarmos também a fala deles. Aliás, a sociedade (pós)industrial já vem fazendo isso a muito tempo. Infelizmente!
Puebla e outros documentos da Igreja – atualmente o Papa Francisco – nos chama a atenção para o lugar proativo do idoso nas sociedades atuais.
As pastorais e o Direitos dos Idosos nos inculcam quanto ao sentido de eles terem respeito, atenção, cuidados, acesso ao lar, saúde, educação, leitura, lazer, religião.
Falamos da Terceira Idade e ainda não valorizamos nossos idosos.
A MARIA APARECIDA NOGUEIRA: Vida longa, Estrela! Poeta, olhar, Circense!
Eu tive o prazer de conhecer e conviver com a MARIA APARECIDA NOGUEIRA. É um exemplo de pessoa talentosa, de idosa proativa, inserida na comunidade pela sua capacidade e humor.
Apreciava a boa poesia de Sebastião Milagre, Jadir Vilela, tantos outros acadêmicos de seu rotineiro convívio.
Aprendeu o soneto. Mas sua especialidade ímpar e rápida era suas trovas a cada passo em voz suave e constante. Voz essa que abrilhantava as nossas vidas.
Contação de histórias, trovas, críticas, amizade, senso de amizade e alegria de viver. Seu modo de vida nos contagiava quando ainda vivia conosco.
Várias vezes, tive a honra de leva-la em meu carro à Noite da Poesia na Biblioteca Ataliba Lago, encontros na ADL, casas dos acadêmicos. Sempre me tratou muito bem! Em Momentos Poéticos (2006), faço alusão a ela.
Agora muito mais. Mantenhamos vivas suas memórias, com aquele carinho como uma de nós.
Recordemo-nos de Frei Orlando quando dizia que “Passei a vida a sorrir, embora tivesse motivos para chorar.”
Todos nós temos essa premissa ou esse paradoxo na nossa vida: alegrar-se e chorar. Também a vida de artista não é fácil. Vemos por fora e não sabemos o que se passa no coração do artista.
Aparecida Nogueira muito sofreu para criar os filhos, vencer a solidão, mudar-se para Divinópolis, viver sua meninice no Circo, perder esposo e filhinha picada por escorpião no Natal. Que dores terríveis. Perder uma filha! O ator e circense prova e provoca risos e choros na multidão. Depende do número que faz.
O circo é instituição antiguíssima. Autossustentável nas civilizações, por isso a nós chegou com seu atrativo e vigor. Quem não gosta de magias, malabarismos, banca, pipoca, tudo mais?
O palhaço é a novidade de toda garotada. Aparecida fez e acompanhou alguns dos melhores palhaços em vida. Conheceu o Palhaço Carequinha. Ela viveu quase 95 Luas ou mais joias! Os sóis estavam em seu coração, para os que dela se aproximavam e a aceitavam como ela era.
Ela veio à vida para tudo “enfrentar a vida do jeito que a vida é e a vida vier...”
Nasceu em Santa Cruz dos Mendes, RJ, 08 de fev. de 1919. Filha de Antônio Luís de Sousa (de Lisboa) e sua mãe Maria das Dores Vieira (do Porto). Imigrantes, padeiros portugueses. Contorcionista aos seis anos, também imita Carmem Miranda e faz de tudo um pouco no circo até aprender. Aprender debaixo de chibatadas. Infelizmente.
Assim começou sua vida de menina, tão frágil e tão esperta.
Ela fez marchinhas como a Ciganinha e Só nós dois (valsa).
Em 1930, O Circo Oliveira apresenta-se na Pça. Da Estação de Divinópolis, MG. Foi seu primeiro contato com esta cidade. Depois seguiu para São Gonçalo do Pará, onde conheceu Antônio Nogueira Maia Primo, com quem mais tarde se casou em 16 de maio de 1942. E teve seus filhos. Após 1961, viúva, traz a família para Divinópolis e o marido faleceu.
Em 1970, dedica-se de novo ao teatro a pedido de Osvaldo André de Melo – seu amiguíssimo especial até morrer. Em 2007, recita Presépio, de Osvaldo André, no Palácio das Artes em Belo Horizonte, MG.
Sua vida é recontada em RETALHOS DE UMA VIDA, de Helena Alvim Ameno (1992) no Caderno do Museu de Divinópolis, em out. de 1992.
Sim, há “retalhos” ou caços drummondianos, com os quais aprendeu com o sofrer uma vida cheia de encantos e coragem para nos abastecer com sua sabedoria. Cada página dessa obra é uma “via crucis” de Aparecida. O Circo fumega no trem rumo a Barbacena, MG.
Aparecida aparece com sua experiência e vivacidade que a todos encanta na Noite da Poesia: lindas e longas declamações na idosa incomum. É a síntese de anos, originalidade e criatividade em pessoa, síntese da arte viva em si. Com isso, suaviza a si e a nossa dor de viver.
Ela é a Cigarra na Fábula da Cigarra e a Formiga. Augusto Fidelis nos apresenta essa fábula tão bem no JULGAMENTO DA CIGARRA. Em “Formigópolis”, Aparecida é aceita com honras por nós alegrar com seu candor e voz.
O melhor fez foi declamar: O TRIGO E A ROSA, de Dom Belchior, o Tédio, Ser Mineiro, Petrônio Bax, Sonho Esquisito, de Salvador da Silva, Montanha, de Mercemiro, Deus, Se essa Rua fosse Minha, de J B Pereira, dentre tantos outros.
No circo, apresentou A serra, Escrava Isaura, Conde de Monte Cristo, dentre alguns.
Mercemiro, em História de Divinópolis (2002), afirma que ela participou do GREMIO MC DE TEATRO, em CEM GRAMAS DE HOMEM. Em 1974, DOROTEIA , de Nelson Rodrigues. Participou também do GET – Grupo de Estudos de Teatro e do G. T. ”Maria Eugênia”, do colégio Frei Orlando. As peças teatrais tiveram sua participação: Maria Cachucha, O Grande Sertão: Veredas, Abre a Janela ... de T. S. Eliot, Cartas a Tiradentes aos Ladrões Ricos, de Dantas Motta, muitas e tantas peças de teatro.
É denominada carinhosamente Rainha da Noite da Poesia. Sebastião Milagre em set. 88 com Augusto Fidelis como diretor da Escola Municipal de Música Maestro Ivan Silva a cita: “na vida, somos todos atores...”
Aparecida fez o HINO DA TERCEIRA IDADE. Recebeu Moção Congratulatória na Câmara Municipal em 21 de fev. de 2007 pelo Vereador Paduano.
Ela é o melhor que temos – nosso Zênite – auge e píncaros de inspirações líricas. É Nadir, expressão solene de lírios suaves e sublimações de cruzes que vivemos e ela muito mais. Com seus antepassados e com Jesus, a Virgem Dolorosa, Aparecida Nogueira é um encanto de fé e esperança, arte e coragem de viver, poesia e não ao pecado... Aprendeu na dor a amar e perdoar. Sua autoestima a todos contagia a cada de Sua arte é a arte da vida.
Nossa cultura e amigos, tivemos a graça de Deus ter conhecido e vivido ao lado dela.
Para Joutard (1999), são vozes vivas que sussurram do passado no presente em razão de um futuro para que não esqueçamos nossa herança cultural e o hibridismo mais rico possível.
Eis o nossos desafio ao século XXI segundo M.M. Ferreira; T.M. Fernandes e V. Albert (2000) - perdurar tais vozes entre nós e nossos filhos de alguma forma: seja nos livros, seja nas mídias.
Deste modo, a história oral não será apenas o método, mas pessoas e vozes que ecoam na cultura – além do túmulo – em expressões de sabedoria e reconhecimento contra as lacunas inevitáveis da história oficial.
Ouvindo e registrando o bem e libertando-se do mal, fazemos a diferença, podemos entrar para a memória dos escolhidos de Deus como parceiros na boa obra. Amém.
Leia LELOTTE, F. S.J. 1966 e CONVERTIDOS DO SÉCULO XX. Editora Agir.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Bosi, Eclea. Memória e Sociedade - Lembranças de Velhos. Companhia Das Letras
DELGADO, Lucília de Almeida Neves. História oral: memória, tempo, identidades. Belo Horizonte: Autêntica, 2006.
FERREIRA, M.M.; FERNANDES, T.M.; ALBERTI, V (orgs.). História Oral: Desafios Para O Século XXI. Rio de Janeiro: Editora Fio Crus/ Casa de Oswaldo Cruz/ CPDOC – Fundação Getúlio Vargas, 2000.
FIDELIS, Augusto A. O julgamento da Cigarra. Express: 2004. 59 p.
FOUCAULT, Michel. 1969. A Arqueologia do saber. Trans. A. M. Sheridan Smith. Londres e Nova Iorque: Routledge, 2002.
JOUTARD, P. Esas voces que nos llegan del pasado. Trad. Pasternac, N. 2ª Ed. Fondo de Cultura Económica, 1999.
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LELOTTE, F. S.J. 1966 e CONVERTIDOS DO SÉCULO XX. Editora Agir.
MEIHY, José Carlos Sebe Bom. (Re) introduzindo a história oral no Brasil. USP, 1996.
PEREIRA, José João Bosco. Momentos Poéticos. Serfor, 2006. 63 p.
PEREIRA, José João Bosco. E Divinópolis se fez poesia! Trovas. 2011. 200 p. s/editora. livro virtual.
PEREIRA, José João Bosco. E DIVINOPOLIS SE FEZ POESIA! MINHA VIDA SE FEZ TROVAS. 2011. 200 p. s/editora. Livro virtual. https://www.recantodasletras.com.br/homenagens/5090266
SILVA, Mercemiro Oliveira (Org.). História do Teatro em Divinópolis: da pré-história ao Theatron. Edições Theatron,1999.
SILVA, Mercemiro Oliveira (Org.). Antologia A DL 2009. Divinópolis: Sefor. 2009.
THOMPSON, P. A voz do passado – História Oral. 2. edição. São Paulo: Paz e Terra, 1998.
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A caridade como condição da unidade das igrejas cristãs
Segundo Gertrude Von Le Fort, "o amor único, do qual sem dúvida só teremos a revelação dele na eternidade, continua sendo na terra o fim imutável e, ao mesmo tempo, a única esperança infalível para a reconciliação de um mundo dolorosamente dividido.
A imagem da Túnica inconsútil representa um apelo à caridade entre cristãos.
Sejamos irmãos reunidos na pessoa de Cristo, que nos faz pertencer ao corpo místico de Jesus que a Igreja espiritual desejada por Deus desde sempre e eternamente.
Nesse sentido, a Igreja e "una e santa", vinda do verbo eterno encarnado em Jesus, do qual a salvação representa nossa finalidade suprema.
Esse é o pensamento de Gertrude em CONVERTIDOS DO SÉCULO XX, 1966, p. 101.
J B Pereira, J B Pereira e F. Lelotte, S.J. 1966 e CONVERTIDOS DO SÉCULO XX. Editora Agir.
Enviado por J B Pereira em 07/07/2014
Código do texto: T4873701
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