AS MIL E UMA LEITURAS
Xerazade, filha de um vizir, em uma certa noite começou a contar uma história e por mil e uma noites nunca mais parou. Xariar, rei da Persa e seu esposo, por mais de mil noites foi seu fiel e curioso ouvinte.
Era uma vez...
Eu comecei com um texto, uma leitura e um comentário. Os textos aumentaram, e leituras e comentários se multiplicaram. Estou me sentindo um contador de histórias, de poesias, de prosas, de frases, de palavras. Parece-me que estou em um mundo paralelo: com outras dimensões, outras cores e sons, outros habitantes. Sinto-me coautor deste universo, onde há uma mistura entre o que existe e o que invento. Uma verdadeira balbúrdia, mas organizada por vírgulas e pontos, por quartetos e tercetos, acrósticos e abstratos, por versos sem rimas e rimas sem versos, por sentimentos, emoções e por histórias – histórias recontadas e histórias inventadas – não histórias de mil e uma noites, mas histórias com mais de mil e uma leituras.
Mil e uma leituras. Para muitos quase nada, mas para mim um sentimento de que vale a pena sonhar, vale a pena colocar em palavras estes sonhos. Como no jogo de xadrez me sinto apenas um mexedor de peças, por mais que me esforce e goste do jogo. Na escrita me sinto apenas um mero sonhador a preencher os espaços vazios e em brancos com palavras. Por mais que eu esforce e goste de escrever, muitas vezes me vejo escrevendo só para mim mesmo. Mas eu gosto do que eu escrevo – leio, releio – e fico muito lisonjeado quando alguém me diz que gostou do que escrevi. Imagino que seja como um cantor sendo aplaudido de pé depois da canção. Me sinto assim, sendo aplaudido de pé. Obrigado para cada um que leu os meus escritos e também obrigado para cada um que somente abriu o texto.
Era uma vez...
Xerazade, depois das mil e uma noites contando histórias, não precisou mais contá-las. Mas eu preciso continuar a escrevê-las. Tenho uma fome sem fim de leitura, e a escrita me sacia naquele instante da transformação do invisível, do inexistente em palavras, frases e textos. Mesmo que logo após venha novamente a fome, me sinto renovado e pronto para encarar, como Xerazade, mais uma noite com alguma história recontada ou inventada. Por isso, mesmo além das mil e uma leituras, tenho que continuar a escrever, pois inventar ou reinventar é minha utopia, minha religião, minha alma... é minha sobrevivência!